" A vida continua fica tão pesada, a roda corrompe a borboleta. Cada lágrima, uma cachoeira. Na noite de tempestade ela fechou os olhos, na noite de tempestade ela voou para longe, e sonhou com o para-para-paraíso."
A música soava intensamente, ecoando em meus ouvidos dentro do carro, me deixando ainda mais deprimida. É tão estranho ter que se mudar. Ir para um lugar onde você não conhece absolutamente ninguém. Eu encarava meus pais do banco traseiro do carro e me perguntava o real motivo de estarmos indo para um novo destino. Vamos para lá a trabalho, era o que eu obtive como resposta.
Os olhos de meu pai estavam focados na estrada e suas mãos seguravam firme o volante. De vez em outra, seus olhos se direcionavam a minha mãe, mas a alguns meses que ela se quer o olha nos olhos. Se existisse algo que pudesse quebrar aquela barreira construída entre os membros de minha família, eu com certeza sairia a procura de tal artefato.
Estávamos deixando tudo para trás, mas era por bons motivos. Talvez minha mãe voltasse a sorrir nesse novo lugar, talvez meus pais voltassem a olhar um para o outro. Pelo menos era isso que eu tentava manter em mente toda vez que tínhamos que se mudar. Sim, não era a primeira vez.
A chuva caía fraca e delicada, e as gotas escorriam pelo vidro do carro da forma mais melancólica possível, o vento, porém, era intenso e zumbia no lado de fora.
Nós íamos para Bradford, uma cidade ao sul da Inglaterra. Não era uma cidade central, não conseguia imaginar porque iriam a trabalho justamente para lá, sendo que teriam que se deslocar uma boa distância até o serviço. Simplesmente algo não fazia sentido no que disseram.
Meu pai sobrepôs sua mão na coxa de minha mãe e ela rapidamente voltou seu olhar para observar o movimento, mas seu rosto não demonstrava expressão, muito menos seus olhos. Depois de encarar a mão dele por longos e arrastados 30 segundos, direcionou sua atenção para a paisagem lá fora e pude perceber seu corpo erguer em um mínimo suspiro.
Durante os últimos meses que venho fazendo isso. Analisando cada ação de minha mãe, o suficiente para saber que algo estava acontecendo. Olhando ainda para seu perfil percebi seus olhos se voltarem para cima no vidro da frente do carro, segui seu olhar para fora da janela e focalizei uma grande placa.
"SEJAM BEM-VINDOS A BRADFORD".
Senti meu estomago embrulhar e algo quente como fogo percorreu minha veia em milésimos de segundos. Mais uma vez eu estava em um novo lugar, recomeçando tudo novamente e me preparando para abandonar tudo daqui alguns meses novamente, pois era assim que funcionava nessa família nômade.
Então o carro parou dando um solavanco em frente a uma rua com casas bonitas e grandes. Havia poucas pessoas andando pela rua. Parecia uma vizinhança tranquila.
A chuva havia parado e o ar do fim de tarde se tornava minimamente mais quente pelo fato do dia estar se pondo.
Meus pais saíram do carro e pude ver meu pai andar o pequeno caminho do jardim da frente e até a porta abri-la com um grande sorriso. Minha mãe olhava as casas em volta e quando olhou para mim dentro do carro deu um pequeno sorriso e um aceno com a cabeça como se dissesse "Bom, então é isso". Respirei fundo na tentativa de focalizar que sim, eu estava ali mesmo não querendo, eu estava ali e formaria uma vida de nova em menos de 3 meses, e quando esta estivesse supostamente formada eu diria adeus e partiria para um novo "lar", e bom, talvez estivesse na hora de me acostumar com aquilo.
Saí do carro e me dirigi ao porta malas para ajudar a descarregar algumas caixas com pertences específicos que o caminhão de mudança não trouxera.
Passei pela porta da nova casa e não havia como negar que era linda. Estranha talvez? Bom, sim, mas linda, simples e de tamanho suficiente para uma família pequena. Sala, cozinha e uma porta que levava ao quintal dos fundos embaixo, e no andar de cima os quartos e um banheiro. Levei uma de minhas caixas até o cômodo que seria meu quarto e a deixei no chão logo voltando a descer as escadas para pegar mais uma caixa que também estava cheia com meus pertences.
Meus pais estavam no cômodo onde seria a cozinha, como pude ver ao chegar ao fim da escada estavam analisando tudo para ver onde cada coisa ia ficar. Eles também não pareciam de fato animados com tudo aquilo, afinal sempre fazíamos isso, já estava muito cansativo para mim, e com certeza, para eles também. Contudo meu pai ainda sustentava um ar satisfeito em seu rosto.
Fui até o carro e peguei a caixa com alguns livros. A segurei com um braço e usei a outra mão para fechar o porta malas.
No mesmo momento em que se ouviu o trinco do carro ao se fechar, meus olhos percorreram diretamente a calçada da casa à esquerda da minha. Era uma casa muito bonita. Mas não era a casa que importava nesse exato momento. Era o garoto. Sentado na calçada, seu cabelo em um topete que julgaria ser perfeito, e milimetricamente erguido fio a fio, e a barba rala modelando perfeitamente seu rosto fino e marcado, sua expressão não era séria, apenas indiferente, e seus olhos um tanto quanto indecifráveis.
Nossos olhares se encontraram por míseros segundos.
Um fervor começou a subir por minhas veias e aquela mesma sensação que senti ao passar por aquela placa voltou. Senti meu estomago embrulhar.
Espera um pouco .... Eu estava encarando o garoto! No mesmo instante que me dei conta me senti completamente desconfortável, e tudo parecia errado, meu cabelo, a postura, eu se quer lembrava como andava?
Decidi apenas sorrir, por que eu já estava parecendo uma louca encarando-o desse jeito.
Fiquei esperando alguma reação dele mas nada aconteceu, na verdade ele continuou com aquela expressão séria, e apenas se levantou, pegou seu skate e entrou na casa. Que por alguma razão era bem ao lado da minha.
De repente tudo o que eu senti parou completamente. Confesso que passou por minha cabeça que talvez pudesse ter sido esse garoto que a provocou, mas isso seria ridículo. Eu nem o conhecia e já fiz papel de louca encarando ele. Mas aquilo foi inevitável, como se meu olhar se prendesse sobre o seu.
Eu ainda encarava o lugar aonde o garoto estava sentado quando senti uma mão sobre meus ombros. Era meu pai, me despertando de todo aquele transe.
- Sophie? Que tal subir pro seu quarto e tentar dar uma arrumada nele? Amanhã vou até sua faculdade entregar sua ficha e quero que você venha comigo, ok?
Bom.... Foi o que eu consegui ouvir pois meus olhos ainda estavam presos na calçada onde vi aquele garoto sair. Não conseguia desviar meu olhar de lá, então apenas juntei todas minhas forças que por algum motivo estranho estavam perdidas, e afirmei com um aceno positivo de cabeça para meu pai.
Subi até meu quarto, colocando a caixa que carregava junto a outra e sentei na cama. Após encarar as coisas da mudança por pelo menos 2 minutos, respirei fundo e decidi então começar a arrumar aquilo tudo. Fui até a janela abrir a cortina e a janela para arejar o quarto que ainda tinha cheiro de novo, e juro que ao mesmo momento em que fiz isso desejei com todas as forças nunca ter feito isso.
ÓTIMO... aquela sensação estava de volta por todo meu corpo. Mas agora ela era com certeza fruto da mistura de choque com vergonha por talvez, só talvez eu ter encarado essa mesma visão há alguns minutos atrás.
Afinal, bela vista eu tinha...
Eu faria tudo para fechar aquela cortina novamente e nunca mais abri-la.
Mas algo me prendia e me impedia de fazer isso. Sim. Era o quarto dele... Era ele...
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They Don't Know About Us ( Zayn Malik Fanfic )
FanfictionAcabei de mudar para Bradford, uma cidade ao sul da Inglaterra, conheci um garoto por aqui. No começo eu apenas queria saber o nome dele. Eu nunca imaginei que isso aconteceria... Mas, e essas sensações? o que é isso? é isso o que as pessoas chamam...