Capítulo 2

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Capítulo 2

"Filha… estás tão parecida com a tua mãe. E ver-te com esse colar, lembras-me dela." elogiou-me  sorrindo.
Sorri, e notei uma lágrima criar-se no canto do meu olho, mas consegui evitar que ela se prolongasse.
"Vamos?" perguntou o meu pai de maneira delicada esticando a sua mão e sorrindo.
"Sim, vamos, que eu estou cheia de fome."  respondi de forma a animar o ambiente.
Ele soltou uma enorme gargalhada e entramos no carro, ele indicou ao motorista para irmos para o “casino”.
O “ casino” era um famoso restaurante daqui, frequentado por celebridades e pessoas com dinheiro, era decorada com cristais e espelhos por todos o lado. O meu pai adorava lá ir, como para mim qualquer coisa está bem, era me indiferente ir ali ou a outro lado.
Pedimos o habitual sempre que lá íamos, salmão com esparregado, sim acreditem é muito bom mesmo. O meu pai pedia sempre o melhor vinho para nós. Fomos conversando sobre o que temos feito, os negócios do meu pai, os planos para futuros hotéis e essas coisas todas que por vezes, aborrecem-me. No final, pedi para sobremesa gelado de baunilha com creme de chocolate e o meu pai apenas um café, ele não gosta de doces.
Fomos agora para a galeria. Por vezes, é aborrecido ir a este tipo de eventos, e injusto também. Injusto porque basta uma pinta no meio de um grande quadro, mas só por ter sido feita por algum artista privilegiado que é o suficiente para chamar meio mundo para ir admirar aquilo, e há artista de ruas que fazem coisas muito melhores, com mais cor, mais vida, mais entrega e dedicação e não têm tanto mérito porque não pertencem há alta sociedade.
Como sempre, estavam os grandes empresários acompanhados das suas mulheres cheias de jóias e vestidos caros. Tentei ser o mais simpática que pude, e acho que consegui.
"Pai, vou ver os quadros da outra divisão." informei-o.
"Claro, querida." DIsse, voltando-se novamente para a conversa que estava a ter com um casal.
Estava agora sozinha admirando a outra parte da grande galeria. Como sempre, os quadros eram simples e sem vida. Caminhava lentamente em torno da sala, observando atentamente tudo o que se encontrava exposto. Senti uma corrente de ar, o que foi estranho visto que não se encontrava nenhuma janela por perto.
O meu olhar percorreu a enorme divisão, e foi aí que me apercebi que havia um corredor na qual a porta estava entreaberta. Aproximei-me dela para a fechar, e ouvia barulhos estranhos, como se fosse uma luta. Não resisti em espreitar, e confirmei as minhas incertezas, era mesmo uma luta.
Estava escuro e a única fonte luminosa era a luz vinda da fraca iluminação de rua e como estavam nas traseiras do edifício, ainda mais escuro se tornava. Conseguia ver os movimentos que eles faziam, e a coisa estava a ficar cada vez pior. O meu coração parou quando reparei que um deles me viu. Consegui ver aqueles grandes olhos, que daqui pareciam verdes, observarem-me, ato esse que lhe foi fatal, pois a sua distracção deu espaço ao outro de o empurrar contra a parede fazendo-o a sua cabeça bater com força.
Para meu espanto, o homem estava armado , e não demorou até retirar a arma e apontar ao rapaz de cabelos aos caracóis. Não conhecia o rapaz, mas não poderia ficar de braços cruzados enquanto assistia a isto, é a vida de alguém em jogo!
"Desiste! Larga a arma" gritei.
" E quem és tu para me dizeres o que devo ou não fazer?" perguntou agressivo.
"Baixa a arma já se não…" 
"Se não o quê ah?!  Sai daqui antes que sobre também para ti!" interrompeu-me.
Corri em sua direção atirando-o para o chão, sem ele ter tempo de poder defender-se, dando liberdade ao rapaz de cabelos encaracolados de se recompor. Não aguentei por muito tempo, até o homem voltar a tomar controlo da situação dando-me um soco na barriga. Defendi-me com um pontapé na mão dele, para o impedir de apanhar a arma outra vez. O rapaz de cabelo aos caracóis ainda permanecia fraco, olhando para mim com vontade de me ajudar mas sem conseguir. 
Depois de muitas tentativas consegui finalmente alcançar a arma, e colocando-me de pé com ela apontada ao homem asqueroso com quem eu lutei.
"Eu disse para largares a arma, agora desanda daqui!" alertei-o.
Ele sempre com um sorriso sarcástico nos lábios, colocou-se de pé e observou-me de cima a baixo, uma atitude repugnante e ordinária.
"Bem, bem… Parece que a “super-mulher” apareceu na hora H. Estás com sorte hoje." disse olhando para ele, e agora virando-se para mim e aproximando-se sem medo." Enquanto a ti menina, tenho o pressentimento que nos havemos de nos encontrar outra vez."
Provavelmente aquele mero verme pensou que me intimidava com aquelas palavras. Mas admirou-se com a minha atitude. Coloquei um sorriso nos lábios , e bati com a arma na cabeça dele, fazendo-o cair e deixando-o inconsciente por breves minutos, minutos esses suficientes para ajudar o rapaz de caracóis.
"o quê?!"  perguntei com ar de estupida.
O rapaz já lá não estava, nestes segundos que virei costas ele desapareceu! Mas ele parecia tão fraco à instantes. Eu salvei-lhe a vida, bem que merecia um obrigado! Não faço ideia onde me acabei de meter, só sei que tenho o meu vestido rasgado, e parece que passou um tornado pelo meu cabelo, não podia entrar assim ali, de maneira alguma!
O homem nojento ainda estava inconsciente, por isso saí o mais rápido que pude. Não parava de pensar no que acabou de acontecer e quem era aquele rapaz e o que tinha feito para lhe quererem fazer mal? Que confusão me fui meter? Já tinha coisas que cheguem para lidar, e ainda mais isto?!
O que é que eu vou dizer ao meu pai? Ele vai ficar despedaçado por eu ter vindo embora, mas até saber quem são estes tipos e o risco que posso estar a correr, não vou contar a ninguém… mas também pensando bem, para além do meu pai, a quem poderia eu contar?!
Apanhei um táxi, e quando olhei para o telemóvel, já tinha chamadas perdidas do meu pai, que deve estar aflito por não me ver. Liguei-lhe tentando parecer o mais tranquila possível, dizendo-lhe que me estava a sentir um pouco mal, vim apanhar ar e acabei por vir embora. Notei a tristeza na sua voz, o que me estava a matar por dentro por lhe estar a mentir.
Cheguei a casa feita num caco, suja, despenteada, abatida, confusa, o que iria ser uma simples noite a ver uma galeria acabou por ser um pesadelo. Como sinto falta de um abraço da minha mãe agora …

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