Capítulo 6

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Capítulo 6

"Larga-me, já!"  gritei, desesperadamente. Todos os dias era isto, estava a ficar farta dele, das suas manias, da minha vida em geral.

"Não, és minha agora, sempre foste e sempre serás Lia." ele metia-me nojo, como me pude apaixonar por alguém assim?! Sou tão ingénua, se soubesse o que sei hoje, nem sequer me tinha aproximado dele, mas eu tenho uma certa tendência para pessoas perigosas. Tentei a todo custo que ele me largasse, não iria viver isto outra vez, não podia deixar.

"Por favor larga-me! Eu estou farta de ti, farta do que me fazes, para!" 

Estava a chorar, e sentia medo, provavelmente esta era a única pessoa que temia desde sempre. "Podia-te largar agora, mas como sei que vais fugir não o farei" informou rindo-se como se toda a minha aflição lhe tivesse a dar prazer "Vou brincar um pouco, vendo-te chorar e a suplicar para que te largue"

Repentinamente ouve-se um tiro de fundo, os olhos dele arregalaram-se e ele caiu de joelhos mesmo à minha frente. Olhei e vi o Harry com a arma na mão …

(...)

Acordei exaltada, não passada tudo de um sonho… ou melhor outro pesadelo. Parecia tão real era como se ele lá estivesse, como se tivesse a voltar aos velhos tempos quando eu era frágil e não me sabia defender. Senti uma lágrima escorrer pelo meu rosto, não só de tristeza por me lembrar destes maus tempos, como da raiva que sentia agora. Já não sou nem nunca serei a mesma, aprendi e cresci com as pancadas que levei da vida.
O que mais me chamava agora a atenção, foi o facto de o Harry ter entrado no sonho e me ter defendido, como se me tivesse a proteger dele. Realmente sonho com cada coisa.
Olhei para o relógio e ainda nem sete da manhã era, ultimamente se adormeço tenho pesadelos, portanto tenho dormido pouco. Desde daquele confronto com o Harry que não tenho pensado em outra coisa. A forma como ele disse ‘ não me procures’ deixou-me a pensar o quão misterioso e perigoso poderá ele ser.
Ando completamente confusa em relação à chave, deve haver algum sítio que a minha mãe tenha estado que eu não sei, deve haver algo! Já pensei no seu antigo quarto em casa da minha avó, não a vejo há alguns anos e nunca entendi o porquê dos meus pais se terem afastado tanto com esse lado da família. Não poderia aparecer lá do nada agora, provavelmente ela já nem me vai reconhecer e depois de tantos anos poderá levar a mal. Mas irá ser mesmo o que vou fazer. Obviamente que o meu pai não pode saber de nada disto porque se não vem o interrogatório, mas eu não perco nada em lá ir, fica a umas horas daqui mas acho que vale a pena, se ficar à porta, fiquei. Assim distraio-me do Harry e de toda esta confusão.
Tomei um duche rápido, vesti-me e meti uma maça na mala para comer durante a viagem. De manhã cedo nunca tenho muita fome, portanto só como a meio da manhã algo leve. Entrei no carro e fui em direção ao estado onde eu nasci e onde vivia a minha avó … Pensilvânia.
Chegaria lá por volta da uma da tarde. Adoro andar de carro , mas a velocidade é o que mais adoro.  Andar rapidamente pela estrada adiante com o vidro aberto é como uma paixão minha, que por vezes é um pouco perigosa admito, mas correr riscos é um dos meus lemas.
Foquei-me somente na estrada agora, deixando para lá todos os pensamentos. Ouvia atentamente todas as músicas que passavam na rádio, conhecia maior parte delas de trás para a frente. Estava um dia agradável, o sol estava ligeiramente forte, mas nada que com óculos de sol não se resolva.
Longe da cidade, já conseguia cheirar o doce e leve aroma da natureza, e sentir a sua tranquilidade. Viver numa cidade tem muitas coisas negativas comparado ao campo, mas uma pessoa acaba por se habituar.
As ruas já me eram conhecidas e traziam-me momentos à memória, este ambiente era-me tão familiar, estava a chegar! Já não me lembro da última vez que fui a casa da minha avó, deveria ter sido quando tinha os meus 16 anos, mas como sempre adorei cá vir, o caminho era inconfundível. Conseguia agora avistar a casa dos meus avós maternos, sentia o meu coração bater fortemente e as minha mãos tremiam.
Estava agora a metros da porta de entrada, estacionei o carro perto do portão e sai do mesmo. O meu corpo tremia e começava seriamente a pensar que se calhar foi má ideia, mas agora já era tarde. Aproximei-me a passo lento da porta de entrada, observando atentamente tudo em minha volta… estava exatamente como me recordava! As casas sempre cuidadas e com um toque rupestre, as ruas limpas e cheias de grandes árvores floridas que davam sombra aos passeios. A brisa leve que passava por mim e este aroma suave sabiam tão bem.
O meu corpo encontrava-se agora em frente à grande porta branca que dava acesso ao interior da casa. Levantei ligeiramente a mão e dei leves toques na porta. Afastei-me um pouco dela, esperando ansiosamente que alguém a abrisse. Comecei a ouvir passos e cada vez o meu coração batia mais fortemente, será que eles se lembrarão de mim?!
A maçaneta rodou e à minha frente estava a minha avó… sempre com o seu avental posto e o seu cabelo apanhado.
"Em que posso… Lia?!" perguntou espantada
"Olá avó …" 

The Key ||h.s||Onde histórias criam vida. Descubra agora