Capítulo 13

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Capítulo 13

Confusa. Sinto-me confusa. A minha vida é como uma montanha russa, cheia de reviravoltas e sentimentos. “Normalide” não consiste no meu dicionário.
Pergunto-me o que se terá passado naquele dia, o que fez com que o Harry se fosse embora e nunca mais voltasse? Passou-se um mês desde então. Ele não tem ido à oficina de arte, parece que se isolou do mundo. Mais estranho que tudo isto é eu sentir falta dele. Sim, sinto a falta dele, sinto um vazio dentro de mim que só é preenchido quando estou com ele. Involuntariamente imagens das suas mãos na minha cintura aparecem na minha cabeça, sinto os leves beijos dele na minha pele, o seu cheiro inconfundível …
Por momentos parece que nunca o conheci e voltei há solidão que vivia há uns tempos atrás até ele aparecer na minha vida. Ou melhor, até eu aparecer na vida dele. Lembro-me de ele dizer para ter cuidado, que ele andava metido em algo perigoso e eu envolvi-me, mas nada aconteceu desde então, foi como se nunca se tivesse passado e tudo isto não passasse de um grande sonho.
A chave, ainda nada mais descobri sobre ela, com este vaivém de ideias e de sentimentos, tenho me esquecido por completo dela, e honestamente, o meu interesse por ela é quase nulo. Começo a pensar que se calhar é uma chave sem importância e que era tudo fruto da minha imaginação, que não passava de uma mera chave e que eu a usei sendo algo que me relembrasse da minha vida, que me fizesse acreditar que a minha história com a minha mãe não acabou, foi uma tentativa de salvar algo em mim, algo que me fizesse acordar e ter vontade de enfrentar o mundo, me fizesse dar força para levantar, para respirar… Acho que nunca aceitei a sua morte, mas está na altura de a deixar ir e de tratar de voltar a uma Lia que outrora fora, uma Lia que antes das confusões onde se meteu e da morte da sua mãe, era uma miúda sociável, com montes de amigos, excelentes notas e uma vontade incrível de viver.
A minha onda de pensamentos é interrompida com o vibrar do meu telemóvel. Era o meu pai.

"Olá pai." 

" Então Lia, está tudo bem por ai?"

"Sim, tem de estar não é… " mantive-me uns segundos calada " E por ai?"

"Estou ótimo, os negócios correram muito bem. Vou viajar agora até Paris e dentro de uma semana volto para Nova York."

"Ah, isso é bestial…"

 "Lia"  falou suavemente" Tens a certeza que está tudo bem?"

" Está, só estou um pouco cansada, tenho frequentado uma oficina de artes."

" A sério? Isso é fantástico querida. Adorava continuar a falar contigo, mas tenho que desligar."

"Claro…"

"Adoro-te filha."

"Também te adoro pai."

Os telefonemas com o meu pai mais parecem o que as pessoas denominam ‘ visitas de médico’. Sei que já sou maior de idade, e que tenho a minha vida agora, quer dizer, devia ter, mas sou filha dele e gostava de ter mais atenção. Não ponho em causa do quão ele gosta de mim, porque sei que ele me ama, mas apenas gostava que ele passasse mais tempo comigo, especialmente depois da morte da mãe eu senti falta disso. Mas como sempre faço, guardo cá dentro.
Estava a chover lá fora. Não resisti em sentar-me em frente à minha grande janela e ver a paisagem. Isso voltou a lembrar-me do Harry e do quanto ele gostava e admirava esta janela. Deixei-me ficar assim o resto do dia, era só mais um dia de solidão como todos os outros…

*

E um novo dia nasceu, hoje  já não chovia tanto como ontem. Tomei um duche bem quente, comi a habitual maça, e fui para a oficina.
Cumprimentei a Joe e sentei-me. O lugar ao meu lado continuava vazio, não se encontra lá aquela figura alta de olhos verdes de que eu tanto tenho sentido falta e que simplesmente desapareceu do mapa.
O professor iniciou a aula, hoje íamos trabalhar em telas. Preparei os pinceis e preenchi a paleta com algumas cores.

"Menina Lia… Essas cores são tão, obscuras." disse o professor que se encontrava ao meu lado agora.

Realmente ele tinha razão, a minha paleta não tinha vida. Não sabia o que responder, limitei-me a olhar para elas.

"Já dizia um grande amigo meu, a arte expressa o que pensamos e as cores o que sentimos. Vejo que não anda nos seus dias."

"É, a vida é feita de altos e baixos." dei um sorriso fraco.

Ele retribuiu-me o sorriso com um pouco mais de intensidade e foi para o lado de outra pessoa. Comecei por desenhar um local sombrio, não sabia bem como me lembrei disso mas apareceu do nada na minha mente. Continuei traçando as leves linhas com o pincel preto. Algo estava estranho na tela, mas não dei importância. Desenhava agora pequenas figuras negras que se iam aumentando à medida que se aproximavam do tal local sombrio. Não sei onde fui buscar esta ideia, esta ‘imaginação’ , era como se fosse automático e eu tivesse a obedecer a uma força maior para o desenhar. O preto era a cor que eu mais usava, as figuras cada vez eram mais e eu queria parar de as desenhar, queria parar, mas não conseguia, algo me impedia. Comecei a desenhar mais e mais com toda a força, não me conseguia controlar. Todos na sala pareciam ausentes, ninguém estava a dar conta do que se estava a passar comigo.
Sentia uma dor no meu estomago, cada vez que desenhava, mais me doía. A dor expandiu-se por todo o meu corpo, lágrimas escorriam pelo meu rosto, queria pedir socorro, mas ninguém fez nada, todos permaneciam indiferentes. O que raio se passava aqui?! Eu quero que esta dor pare!
Repentinamente, sinto uma mãos sobre os meus braços, umas mãos que fizeram com que a dor dentro de mim acalmasse, com que eu parasse de desenhar aquelas figuras horríveis. Larguei o pincel no chão, as minhas mãos tremiam e as lágrimas escorriam fortemente pelo meu rosto.

"Calma, eu estou aqui agora."  segredou-me aquela voz rouca que tanto tenho sentido falta.

Não tive outra reacção se não virar-me de frente para ele e lhe dar um abraço bem apertado. Ele abraçou-me de volta, a minha cara estava pousada sobre o seu ombro.

"Harry, nunca mais te vás embora assim, por favor. " murmurei.

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Que será que se passou com a Lia?!!!

Espero que vocês estejam a gostar da história, se gostarem votem no capítulo, é importante para mim!
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xxx , Rita

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