Capítulo 5

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Tentei corrigir algumas paradas, pq quando passo do PDF pra cá fica pulando linha sozinho. Troço do demo msm viasu. Se VC ainda estiver lendo, agradeço e garanto que não vai se arrepender. ❤
Alguns capítulos serão muito grandes (tipo esse) já os outros serão pequenos. Estou postando de acordo com o livro msm. ❤

Desculpe-me qualquer erro.

Sarah se acomodara na cama como uma dessas heroínas românticas em um drama histórico. Seus olhos estavam vermelhos de chorar. Assoou o nariz e disse:
- Me desculpe por não ter ido à loja. Não tive forças.
- Você bem que podia ter me avisado...
Depois pensei melhor: o telefone tinha sido cortado, e eu estava sendo tão chata e ranzinza quanto mamãe nos seus piores dias. Sarah me deu um sorriso forçado e disse que mandaria religar o telefone no dia seguinte.
- Também não consegui ligar o computador - falei.
Os olhos de Sarah voltaram a se obscurecer:
- Kai tem um truque para ligá-lo.
Mudei rapidamente de assunto:
- Já comeu?
Sarah fez que não. A caminho de casa, eu acabara com o lanche que Ava mandara. Então preparei rapidamente um espaguete com meia lata de atum. Não ficou exatamente uma delícia, mas quem não tem cão casa com gato. Tallulah comeu quase toda a minha parte. Depois daquela comidinha sem graça, eu peguei um pouco do dinheiro que mamãe deixara com Sarah e fui ao mercadinho em Little Netherby, a menos de 1 quilômetro, a caminho de Greater Netherby. No trajeto, anotei mentalmente que, no dia seguinte, devia perguntar a Julius que papo era aquele de Little e Greater Netherby.
Ele devia conhecer toda a história local. Imaginei que teria de tomar conta da loja novamente, pois era evidente que Sarah ainda não estava em condições de voltar ao batente. Mamãe ficaria boba de ver oferecendo-me para trabalhar, cozinhando, fazendo compras. A lembrança de mamãe me despertou um sentimento de culpa, seguido de uma onda de saudade. Havia uma cabine telefônica na frente do mercado. Talvez um telefonema rápido acabasse com aquele clima "sem palavras" que transformara boa parte das últimas semanas num inferno.
A cabine estava vazia. Não havia papéis nem embalagens nem cartões telefônicos usados jogados pelo chão. Não sei por que, mas de repente eu me flagrei discando primeiro o número de Mia. A mãe dela atendeu.
- É você, Jenna?
- Sim, sra. Andrews. Estou ligando para falar com Mia.
Os pais de Mia eram banqueiros. Saíam de casa todos os dias às seis da manhã e geralmente voltavam lá pelas dez da noite, depois de freqüentes jantares de negócios. Mia tinha governanta, professor particular de matemática, empregados, muito dinheiro... e a mim para lhe fazer companhia.
Houve uma longa pausa. Depois ela disse:
- Mia está na casa dos Worth tomando aulas particulares de francês com o
professor de Becky. Pensei: "Mia devia estar adorando isso". Ela vivia dizendo que Rebecca Worth era muito metida a besta.
A mãe de Mia suspirou e disse:
- Não me agrada nem um pouco essa história de você e Mia serem amigas. Minha filha não se relaciona com gente problemática. Ela tem um futuro brilhante!
E desligou o telefone. Xinguei mentalmente: " Sua vaca arrogante". Mia não era nenhuma criança. Podia perfeitamente escolher suas amizades . Eu mandaria um e-mail assim que pudesse. Tirei novamente o fone do gancho e disquei para casa . Foi um alívio quando Marcus atendeu.
- Olá, fofinho" - disse.
_ Jenna" - ele parecia contente em ouvir minha voz. - Mamãe foi comprar algumas coisas para nossa viagem surpresa à Flórida. Fiquei eufórica. Aquilo significava que eu não estava condenada a um verão de exílio com Sarah. Mamãe não vinha me dando força, mas acho que eu merecia, já que lhe causara tantos problemas. Que legal! Sol, areia e montanha-russa!
- Quando partimos? - perguntei.
- Vamos tomar o avião hoje à noite. Pintou uma casa na Flórida por três semanas - continuou Marcus, superanimado.
- Vocês vêm me pegar ou é melhor eu ir de trem para casa? - perguntei, e Marcus começou a desconversar.
- Um amigo de mamãe conseguiu dois lugares de última hora. Mamãe diz que merecemos um descanso depois de todo o stress em que você meteu a família toda. Ela ia ligar pra você hoje à noite.
- O telefone de Sarah está cortado! - respondi.
Mia estivera na Flórida, e eu estava louca pra conhecer os shoppings e parques temáticos dos quais falou. Eu não conseguia acreditar... eles iam viajar sem mim...
- Espero que vocês se divirtam muito!- disse sarcasticamente.
- Obrigado, Jenna! - respondeu Marcus - Vou lhe mandar um cartão-postal.
Fiquei um tempão parada ali, dentro da cabine telefônica, em estado de choque. Depois, todas as minhas emoções começaram a explodir. Saí me arrastando, peguei a estrada e caí fora. Como mamãe podia viajar sem mim? Por causa do stress que eu causei? E em mim, ninguém pensava? De fato, eu vinha criando problemas desde algumas semanas antes do incidente: chegava tarde em casa, passava a maior parte do tempo na casa de Mia, falava horas no telefone com Jackson e mentia quando ela
me perguntava sobre meus deveres escolares. Mas essas são coisas que todos os adolescentes fazem. Será que ela me odiava tanto a ponto de me exilar naquele inferno de Netherby em vez de voar pelos céus nas montanhas-russas? Não é fácil ser expulsa da escola. Será que mamãe não parou nem um minuto para perguntar como eu me sentia? Não percebia que, naquele momento, eu
precisava de apoio e estímulo, em vez de ser expulsa de casa? Era evidente que em Little Netherby eu não conseguiria nem uma coisa nem outra, pois tia Sarah não estava em condições de cuidar nem de si mesma, imagine de uma garota como eu.
Sentei-me debaixo de uma arvore. Como não havia ninguém à vista, abri a parte da minha mente onde guardava todos os meus sentimentos infelizes a respeito de Mia e Jackson, misturando-os com a tristeza de ter sido abandonada por mamãe e
por Marcus. Toda a minha raiva, mágoa e tristeza entraram em ebulição, e delas fluiu um líquido que deixei aflorar na forma de um mar de lágrimas. Fazia tempo que vinha reprimindo essas coisas. Naquele momento, extravasei. Chorei como
nunca. Minutos depois, já me sentia melhor. Assoava o nariz, quando um galhinho caiu da árvore e veio parar bem nos meus pés, seguido pelo som de alguém se mexendo. Olhei para cima esperando ver um pássaro ou um esquilo, mas dei de cara com uma menina. Seu cabelo estava preso numa trança e ela usava um macacão. Sua expressão era muito viva.
- Árvores não gostam de choro. Ficam muito aborrecidas - disse ela, descendo por um galho e se aproximando. Deu umas pancadinhas na casca da árvore, sentou-se a meu lado e disse:
- Você não é daqui.
Ela devia ter uns dez anos. Continuou me olhando fixamente, até que me vi obrigada a dizer algo:
- Meu nome é Jenna e trabalho no sebo.
A menina sorriu:
- Eu sou Aurora, que significa "amanhecer". Me deram esse nome porque vim ao mundo quando o dia nasceu. Sarah é legal. Ela emprestou um livro sobre árvores a meu irmão e agora fazemos um jogo maravilhoso. Ele me traz uma folha e eu tenho de adivinhar de que árvore que ela foi tirada.
- Muito interessante!- respondi. Mais alguns dias em Netherby e o tédio me levaria a participar desse jogo.
- Logo, logo iremos ao sebo. Meu irmão adora livros.
Levantei-me para ir embora:
- Você ficará bem aqui, sozinha no meio desse nada?
A menina começou a rir:
- Eu moro aqui, sua tonta. Esta é a minha casa da árvore - apontou para cima,
para uma construção de madeira oculta entre os ramos, e disse solenemente:
- Todas essas árvores, flores e campos são meus. Até onde seus olhos podem ver mais além, tudo é meu. Sorri, esperando que ela me apresentasse a seus amigos elfos e duendes, que
certamente moravam com ela na árvore, a menina me devolveu o sorriso:
- Gostei de você, Jenna. Você é estranha.
Muitíssimo obrigada - respondi.
- Você não parece com as outras pessoas daqui. Gosto de seu cabelo vermelho e castanho com mechas douradas.
- São luzes - expliquei.
- Ficou lindo! - disse ela, emocionada. Comecei a rir. Ela era tão engraçada quanto a um elfo.
- Seus olhos são verdes como os de um gato. Aposto que você é interessante - ela dizia essas coisas sem desviar os olhos de mim.
Ri novamente:
- Não sou. Minha mãe lhe diria que sou chata. Nunca faço o que mandam fazer.
Aurora deu uns gritinhos de alegria, caprichou no tom de voz e apontou o dedo pra mim:
- Você é teimosa e não está nem ai com a autoridade?
Sorri:
- Não tenha dúvida.
- Vocês estava chorando porque está com raiva de alguém? - perguntou
Fiz que sim e disse: - Principalmente de mim.
- Minha mãe fica com raiva de si mesma quando não consegue entrar num vestido. Meu irmão fica uma fera quando não está se sentindo bem. E você, por que está com raiva?
Ouvi outra movimentação na árvore. Olhei para cima, esperando ver um duende, mas não havia nada ali.
-Qualquer coisa me tira do sério - disse a ela. - Desde o jeito que meu cabelo fica de manhã até o modo como estamos poluindo planeta. Mas odeio mesmo o fato de que, quando tenho duas opções, sempre acabo escolhendo a pior delas.
Ouvi mais um ruído na árvore.
- Tem alguém lá em cima? - perguntei, em pânico. Será que a minha choradeira tinha tido outra testemunha? No mesmo instante, ouvi um miado. Aurora pôs-se a
rir:
- É só Curiosity, meu gato. A gente o chama de Curio para ficar mais fácil. Você pode ser minha amiga, Jenna.
Concordei e sorri:
- Muito obrigada. É uma grande honra. Tchau.
Aurora riu novamente:
- A gente se vê por ai, Jenna. Gosto de você.
Ainda que ela não fosse desse planeta, gostei dela também. Para minha surpresa, o mercadinho era muito bem abastecido. Tinha até três tipos
de ração para gatos.
- Tallulah gosta das melhores marcas - disse a mulher por trás do balcão. O fato de todos me conhecerem começava a me pirar. Em Londres, eu tinha vizinhos que me viram crescer, mas que jamais me reconheceriam, muito menos saberiam qual
era a ração favorita de minha gata.
- Então me diga: de que ração Curio gosta?
A mulher me olhou, meio assustada. Era bom que aquelas pessoas se tocassem de que não sabiam absolutamente tudo sobre todos. Além disso, era bem provável que elfos não tivessem dinheiro para comprar ração. Quando voltei, Sarah se vestira e estava no jardim com um grande bule de chá.
Ela suspirou e disse:
- estou um pouco melhor.
Contei meus encontros com Julius e Ava na loja, mas nada falei sobre Aurora. Não gosto que minhas crises de choro se tornem públicas. Sarah serviu-me de
chá:
- Eu devia ter-lhe falado sobre eles. É gente boa e inofensiva.
- E os Românticos Radicais? São inofensivos também?
- Tenha cuidado, muito cuidado... Os românticos Radicais levam muito a sério uma boa história de amor - disse Sarah com um sorriso forçado. - Eles têm um inesgotável apetite por romances.
Fiz um gesto indicando que esse comentário morria ali, e em seguida perguntei:
- Quem são eles?
- Ativos mesmo, três. Ava é a mais prolífica leitora de romances. Dizem que chega a ler quatro por dia. E também Gina e Muriel. Elas dirigem o brechó
- Não consigo imaginar nada mais chato do que passar a vida lendo histórias de amor.
- Isso porque você ainda não se apaixonou... - começou Sarah, mas em seguida se deteve: - Sinto muito. Fui muito presunçosa ao dizer isso. Vai ver que você já se apaixonou várias vezes.
Para desviar a conversa de minha "vida amorosa", perguntei:
- e você, quantas vezes já se apaixonou?
Foi a vez de Sarah ficar enroscada:
- Que pergunta difícil...
No mesmo instante me arrependi da pergunta. Não estava nem um pouco
interessada na resposta de Sarah. Ela não tinha o "filtro" de mamãe para lidar com crianças. Mamãe teria dito para eu não me intrometer na vida dela, ou daria o mínimo de informação possível. Com Sarah, a coisa era imprevisível:
- Tive namorados... - começou ela.
Comecei a ficar aflita. Por favor, por favor, por favor, poupe-me dos detalhes sórdidos...
- Houve ocasiões em que pensei estar apaixonada, duas vezes.
Ante que eu conseguisse me controlar, perguntei:
- Qual é a diferença entre pensar que é amor e saber que você está apaixonada? Que tudo não passa de uma paixão intensa, mas sem importância? - eu pensava como eram confusos meus sentimentos em relação a Jackson.
- Você sabe que é amor quando está disposta a arriscar tudo pela pessoa. Até mesmo a separação.
O rosto de Sarah começou a se fechar, mas em vez de desmoronar, ela olhou o relógio e disse:
- Já são cinco e quinze. Você pode ficar aqui e descansar. Vou à loja. Nesta época do ano, sempre temos alguns turistas em Netherby.
- Você quer que eu trabalhe com você? - perguntei.
- Conto com sua ajuda, Jenna. O verão é uma época muito agitada. E lhe pago quando puder. Até mais tarde. Subi para meu quarto, me deitei e, pela primeira vez desde que saí de Londres, tirei a foto amarrotada de Jackson da minha bolsa. Ele era lindo até quando se esforçava para parecer desprezível e mal-humorado. Era o clássico modelo de capa de revista, muito mais do que o Garoto Sarado.
Sorri ao me lembrar o dia em que Jackson me deu a foto. Não havia ninguém por perto. Mia não fora à escola por causa de um resfriado. Jackson teve de ir para renovar o passe escolar, e tomamos um ônibus para comer pizza em Leicester Square. Ficamos um tempão andando pela praça, observando os tipos que
circulavam. Fizemos um jogo bobo que chamávamos de "Aquele é o seu namorado/ Aquela é a sua namorada". Apontávamos para um transeunte e gritávamos: "Olha a sua namorada!" Fazia ponto para o primeiro que gritasse. A idéia do jogo, se é que havia alguma, era apontar o maior número possível de gente estranha e gritar que era namorado/ namorada do adversário. Ficamos jogando durante horas, rindo feito dois malucos.
- Você é incrível, Jenna - disse Jackson na volta, quando me deu uma de suas fotos. Quando Mia viu no dia seguinte, insistiu para que nós três tirássemos mais fotos, o que foi muito divertido. Mia era uma ótima companhia, mas a gente terminava fazendo só o que ela queria. Tudo começou quando ela veio para a oitava série na escola Coot's Hill, aos doze anos. Ela sabia lidar com as outras garotas e com os professores e ninguém se atrevia a contrariá-la. Eu estava numa luta insana, tentando fazer amigos e acompanhar o curso. De repente, uma imagem de Mia me veio à memória. Ela era mais alta e mais magra do que eu. Para ser exata, 1 centímetro e meio mais alta. Seu cabelo era mais comprido, seu pai tinha mais dinheiro do que o meu... Mia era muito boa em estatísticas, principalmente quando a conta fosse favorável a ela. Não havia limites para ela. A sra. Andrews descrevia a filha como "grande vencedora"; minha mãe dizia que ela vivia em busca de atenção. Mamãe nunca gostou de Mia, um motivo forte para eu gostar. Pouco depois, Jackson voltou para nossa escola. No curso fundamental, ele era uma garoto muito chato que só falava em futebol e era alucinado por um time. A coisa mais profunda que ouvi dele naquela época foi:
- Por qual time você torce?
Ele fora transferido para outra escola e fazia séculos que eu nem pensava nele. Mas aquele garotinho sem graça se transformou num garotão maravilhoso: alto, musculoso, bem vestido. Ele não teve escolha. Mia era o rastreador. Ele, o alvo. Quando entrou para nossa turma, as coisas se complicaram. Eu sabia que Mia
gostava dele, mas eu também queria ficar com ele. Queria que ele me beijasse, que as pessoas soubessem que eu estava saindo com ele. Queria um envolvimento. Para me livrar dessas lembranças, fiquei horas lavando o cabelo. Depois fui sentar
no quintal, para deixa-lo secar enquanto lia um romance policial que encontrei na sala. Quando já estava envolvida na leitura, um boné apareceu no quintal ao lado
e alguém disse:
- E aí?
Sorri e disse:
-Tudo bem.
- Belo trabalho no jardim. A gente já te viu dando um role por essa cidadezinha interiorana - disse ele com um sorriso afetado. - Meu nome é Charlie.
Ouvi uma porta se abrindo e apareceu outra figura por trás da cerca. Uma versão mais alta e mais desajeitada de Charlie, usando uma grossa corrente de prata no pescoço.
- Qual a mina que você tá azarando, mano? - perguntou a figura com um sotaque gangster-rap meio forçado.
Charlie nos apresentou:
- Este é Freddie, meu irmão caçula.
- Descolado e encantador - disse ele, piscando.
Cravei os olhos nele. Ele ficou vermelho, começou a mexer na corrente e desapareceu.
- Não leve esse cara a sério. Ele só está passando por mais uma fase. Ano
passado, queria ser jogador de futebol, agora pegou mania de falar com sotaque hip-hop. Não sabe o que quer. Nós tocamos numa banda anti-folk.
Dei sinal de que entendia:
- Sarah me falou de vocês dois.
- Você devia ouvia a gente tocar no solar Netherby qualquer dia - disse ele. Concordei. Eu me sentia como se tivesse perdido a capacidade de formar frases, o que era estranho porque, quando estava com Mia e Jackson, não parava de falar. Pensei que talvez todo aquele ar fresco e saudável do campo estivesse afetando meu cérebro. A vida estava dando umas reviravoltas estranhas. Talvez eu pudesse me enturmar com Charlie e Freddie. Quem sabe acabaria ate conhecendo o Garoto Saudável? Nada mau! Pelo menos, enquanto Mia não resolvesse falar a verdade. Depois, minha vida voltaria ao normal.

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