Cavalheiro

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Dou um sorriso sem graça para ele por conta da minha roupa e respiro fundo antes de respondê-lo.

- Não estava fazendo cooper – é obvio – estava apenas matando o tempo antes do trabalho – mentira!

- É bom fazer caminhadas no seu estado, mas eu recomento sapatos mais apropriados. – ele diz ainda sorrindo.

Apenas concordo com a cabeça e olho para todos os lados, menos para ele, ficamos em silencio durante alguns segundos, não sei como me comportar, estou totalmente sem graça, além do que tenho que me lembrar a todo o tempo de como é simples respirar. Meio incomoda com seu olhar intenso, olho novamente para o relógio e, ptz, definitivamente estou atrasada.

- Eh! Eu tenho de ir trabalhar agora – digo sem graça já começando a me afastar – até mais.

- Eu te acompanho até a saída – ele começa a caminhar ao meu lado.

Andamos de vagar, lado a lado, até o bolsão de carro e paro ao lado do carro de Robe. Reviro minha bolsa sob aquele olhar e quando finalmente acho a chave destravo o carro pelo controle do alarme. Me viro para agradecer, seja lá o que for, e novamente me vejo sem ar, aqueles olhos são um perigo para qualquer pessoa, dá para se afogar naquele azul sem nem ao menos perceber.

Doutor Eduardo se porta de maneira distinta a do consultório, lá ele parece um médico totalmente profissional e inalcançável, aqui ele ainda parece inalcançável, mas seu porte e aquele olhar podem fazer qualquer um se derreter por dentro, aposto que ele conseguiria fazer qualquer mulher pegar fogo só com esse olhar.

De repente me pego imaginando como ele deve ser na cama, esse corpo suado junto ao meu, pele contra pele, sua boca me devorando. Ai meu Deus! Eu não deveria ter esse tipo de pensamento com relação ao meu obstetra, qual é? eu estou gravida, que homem, ainda mais um deus grego como esse, em sã consciência vai se envolver com uma mulher como eu, gravida de outro e sem expectativas - penso

- O... Obrigada Doutor Eduardo – digo sem saber o que dizer.

O sorriso dele se desfez e ele respira fundo antes de falar.

- Você fez os exames que eu solicitei? – ele pergunta já com um tom totalmente serio e profissional.

- Sim – respondo tentando imaginar o que aconteceu para ele mudar tão drasticamente de atitude.

- Muito bem. – ele tira o celular do bolso, olha o horário e volta a olhar nos meus olhos. – faça caminhadas de trinta minutos diariamente e nos vemos na próxima consulta – ele se vira e embora.

Fico ali olhando suas costas se afastar imaginando o que deu nele, onde estava aquele cavalheiro galante e sorridente que se ofereceu para me acompanhar até a saída? É claro que ele é meu médico e deve me tratar como paciente, mas aquela última frase me fez sentir como se eu tivesse cinco anos e estivesse escutando novamente o sermão do meu pediatra sobre andar de pé no chão e tomar gelados.

Entrei no carro ainda aturdida com nossa interação, eu estava obcecada pela beleza do meu médico, o que é absurdo dada a quantidade de problemas que eu tenho de resolver antes até de pensar em homens, ainda mais um deus grego daquele, impossível! E ele deve ser bipolar, é a única coisa que explica essa mudança repentina de humor.

E Agora? - rascunhoOnde histórias criam vida. Descubra agora