Em casa novamente.

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Dois dias depois, ela já estava em casa novamente.

Alguns amigos de Ruivo e Carlos, do orfanato foram a visitar, para que ela se sentisse mais querida, e por que no fundo, acabaram acostumando-se ao ouvir falarem no nome dela, que era como se fosse da familia agora.

Aquele menino albino, que de um jeito tão estranho se parecia muito com Clarice ficou perto da porta, com medo de entrar e ser repreendido, ou nem percebido no local. Clarice se sentia em sintonia com aquele menino, buscou saber o nome de cada deles que estavam ali, só para saber o nome dele. Ele porém saiu sem responder.

Ela pede licença e deixar os demais lanchando enquanto vai atrás dele.

_ Menino! Ela grita.

Ele vira sem imaginar que fosse ele. A olhou assustado esperando que ela passase por ele sem o perceber alí.

Clarice se aproxima, repara mais uma vez no quanto eles se parecem.

_Posso saber o seu nome?

Ele permanece quieto achando não ser com ele.

_Moço, seu nome! Posso saber qual é?

Antes de dizer algo olha para trás de sí e verifica se é com ele mesmo a quem ela se referia.

_Olavio. Responde sem a olhar.

_Olavio? Que nome...

_Diferente?. Ele interrompe a frase de Clarice.

_Diferente e bonito, eu gostei!

Ele a olha pela primeira vez, admirando-a pelo o que tinha dito. E sem conseguir dizer algo continua a olhando.

_Você está bem?

Ele acena a cabeça positivamente.

_Porque você é tão calado assim?

Ele da dê ombros sem saber responder.

_Bom eu gostei de você, queria fazer uma nova amizade, mais se você não estiver bem para isso eu entendo.

Ele a olha, discretamente pensando longe.

_Acho melhor não! Disse ele se retirando.

_Nossa! Clarice responde surpresa pelo descaso. E por que não.?

_Eu tenho mania de ferir as pessoas sem querer.

_Amizade é isso!

_Eu não sei ser amigo.

_E eu também não sabia. Mais coisas boas agente aprende rápido.

_Te garanto que eu não. E Por favor não insista. Você parece ser legal de mais, não quero coviver com o trauma de ter te machucado.

_Machucar? Mais Como assim?

Antes de tirar as dúvidas de Clarice sobre aquele assunto, o menino vai embora, a deixando para tirar suas próprias conclusões.

Sua mãe e Lana fizeram um banquete, como se aquilo tudo fosse uma festa, Clarice não gostava muito, nem entendia tanto, mais é que para ela que em seis meses só dormia, a sensação não era tão grandiosa quanto a deles ao saber que ela ainda estava viva.

Depois da comemoração, depois de dizerem o quanto gostavam dela, o quão estavam felizes por ela estar ali novamente, ficaram enrolando para que ela nunca sentisse sono. Pois sentiam medo dela dormir e não acordar de novo. Mas sono é algo irremediável a se sentir, ainda mais para Clarice, e mencionando também todo o cansaço que aquele dia tinha proporcionado.

Ela dormiu, sem pedir licença. sem dizer adeus, ou um até breve.

Adormeceu, um sonho tão leve, tão sereno, tão calmo, que pode-se dizer que o momento mais calmo de sua vida, foi aquele.

Tão tranquilo, quê daquela vez ela não sonhou, não pensou em nada, nem em ninguém. Todos aqueles problemas que a desesperava e abatia, pareciam terem ido embora, ela estava limpa, pura, bem consigo mesma.

Acordou no meio da noite, desceu para a sala e se sentou no sofá, olhou para o lado e viu em seu adorável jardim o balanço, sentiu-se na obrigação de ir conversar com ele assim como fazia quando era criança.

Descalça, ela se aproximou até ele, molhando os pés, nas pequenas gotas que o sereno da noite deixava sobre a grama,

Ela parou um instante em sua frente, e sorriu para ele como se ele fosse uma pessoa.

_Balanço, balanço meu! O único que sabe de todos os meus defeitos, meus problemas, todas as vezes que eu chorei foi no teu ombro! Já sentada nele, parou de falar para sorrir. Ela realmente o considerava como uma pessoa.

Se bem que no mundo irreal da infância de Clarice, ela não sabia diferenciar as pessoas das coisas, as coisas que ela tinha, eram bem mais leais a ela, do que as pessoas que juravam lealdade e nunca a dava. Pelo menos o balanço, nunca gritou sem ela dar motivos, nunca a pôs de castigo sem ser merecido, nunca a deixou falando sozinha, nas poucas vezes que ela se animava a falar. Ele sim, era um amigo para ela. Sempre foi, sempre seria.

Ali no aconchego de seu assento e de suas cordas, que ela segurava tão suavemente, Clarice lembrou novamente em tudo que já tinha passado ali, foi recordando, nenhuma lembrança era boa, até que lembrou em sua gravidez.

Levantou-se rapidamente, passando a mão em sua barriga, que estava lisa. Clarice sem pensar duas vezes entra para a casa gritando. Lana e Adrile desceram o mais rápido possível.

_Que foi minha filha? Esta passando mal?. Adrile pergunta.

_Meu bebê, meu bebê. Clarice ficava repetindo como se fosse a única coisa que soubesse falar.

Lana e Adrile se olharam com tristeza, tentaram á acalmar antes de tudo, mais isso era impossível. Sentaram ela no sofá e tentaram explicar que no tempo em que estava internada, tinha sofrido um aborto natural. O corpo dela por fraqueza não foi capaz de sustentar duas vidas, eliminando então a mais fraca, e que se não fosse o bebê, seria a vida dela. Sem reação Clarice as deixou sozinha na sala e voltou para a balanço, e começou a se balançar, não pensava em nada, só ficou com o olhar fixo na grama. Lana quis ir consola-la, mais Adrile a convenceu de que era melhor a deixar sozinha, pelo menos por um tempo.

Menina Dos PesadelosOnde histórias criam vida. Descubra agora