Capítulo Sete - Covardia X Coragem

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Capítulo Sete – Covardia X Coragem

~ 9º mês de gestação ~


- Sua pressão continua oscilando, isso não é muito favorável nessa altura do campeonato. Trate de tentar relaxar, nada de pensar nos problemas. De agora até o fim da gravidez, eu vou querer te ver aqui toda semana.

- Pode deixar. – Respondo ao Dr. Rodrigo sem muita convicção, minha mente estava longe dali.

- Está tudo bem, Eliz? – Estendo minha mão para pegar mais um DVD da ultra da Bia que fizemos hoje.

- Está sim. Só um pouco ansiosa pelo parto.

- Sei que não adianta muito eu te dizer para não ficar, pois isso é quase involuntário, já se tornou um "efeito colateral" da gravidez. Não dá para evitar, mas dá para ser controlado. Só que para isso você terá que trabalhar a sua mente, ficar longe de tudo que possa te aborrecer. Mais do que nunca você tem que pensar na Bia.

- É só nela que eu penso. Eu estou tentando, mais do que você imagina.

- Estranhei você ter pedido para remarcar o horário da sua consulta para mais tarte. – Ele parece desconfiado.

- Nada demais. – Desconverso. – Eu tive um compromisso mais cedo. – Levanto-me para sair. – Bom, até a próxima.

Despeço-me e saio.

Não, eu não tinha nenhum compromisso na parte da tarde, pelo menos nada que justificasse a mudança do horário da consulta. Ela sempre era prioridade, desmarcava qualquer coisa para ir numa consulta. Acontece que desde que passei mal no grupo, depois do depoimento da moça que também foi estuprada, eu não voltei mais a nenhuma reunião. Não sei o que mais me fazia mal, a falta que estava sentindo de frequentar o grupo ou a consciência pesada de estar faltando por covardia de encontrar com o meu "reflexo" ao ver novamente a Suellen lá.

Haviam três semanas que vinha faltando as reuniões. Na primeira me tranquei em casa, desliguei todos os telefones e interfone, e fiquei recostada na cama, esperando um sono que não veio durante toda a noite, era como se eu estivesse sendo castigada. Na segunda semana, eu nem tentei ficar deitada, pois sabia que não adiantaria, então, fiquei andando inquieta pelo apartamento, quase que devorei um pote de sorvete. O único desejo que tive durante toda a gravidez foi de sorvete, acho que depois que a Bia nascer não vou querer ver sorvete tão cedo.

Nas duas primeiras vezes me senti tão culpada, que resolvi criar um compromisso real para a terceira semana.

Enquanto eu estava na consulta, mais uma reunião estava rolando e era mais uma que eu perdia. Grande ilusão a minha achar que o fato de marcar algum compromisso fosse impedir que eu me considerasse uma covarde de marca maior.

Além de ter que conviver com a culpa, também vinha a mentira. Mentia para as meninas dizendo que tudo ia bem nas reuniões; mentia para as mulheres do grupo que me ligavam para saberem de mim; fugia da Jessica sempre que a via em algum lugar da academia e continuava mentindo, só não sabia a quem eu estava tentando enganar.

Pego um taxi na saída do consultório. Procuro meu celular na bolsa e lembro que a ultima vez que usei foi quando estava no escritório da academia. Com certeza, devo ter largado por lá. Eu vivo esquecendo o celular. Peço para o taxista mudar o caminho para a ACEN.

Eram pouco mais de nove da noite, a academia funcionava até as onze, de segunda a sexta e sábado até as cinco da tarde.

As meninas já deviam ter ido embora. A Ana Paula e a Samia costumava revezar quem abria e fechava a academia, hoje era dia da Samia fechar.

Eliz... (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora