Capítulo Um - GAMVA

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Capítulo Um - GAMVA


~ 3º mês de gestação ~


- Acho que esse foi o melhor fechamento de mês de todos que já tivemos aqui na academia. – Respira aliviada a Ale.

- Nem fala. É tão bom não ver a cor vermelha no final das minhas contas. Já falei que amo o azul? Não? Pois é, eu amo azul. – A Nicke beija sua caneta.

- Muito bom mesmo. – Aliso a minha barriga. Acabo notando que venho fazendo muito isso, ultimamente. – E melhor ainda é saber que não sou eu que tenho que lidar com esses números.

- Eliz, você não tem que sair para a reunião do GAMVA não? – A Cris pergunta.

Tínhamos acabado de ter nossa reunião mensal na academia. Tudo estava indo direitinho nos negócios. A mera lembrança da minha reunião semanal no GAMVA, Grupo de Apoio para Mulheres Vitimas de Agressão, tinha o poder de acabar com todo o bom humor que eu pudesse estar, além de remeter meus pensamentos as minhas vagas lembranças da noite nebulosa que eu nem lembrava direito, seja por algum bloqueio, seja por covardia de tentar forçar a mente.

Acabava que isso só me fazia mal, porque em vários momentos, não importa se de dia ou de noite, flashs daquela fatídica noite vem a minha cabeça, às vezes consigo distingui-las, outras não. Tem vezes que chego até a sentir dor, nesses momentos levo minhas mãos a minha barriga, que até agora não esta muito avantajada.

O doutor Rodrigo falou que o meu perfil era de mulher que não faz muita barriga na gestação, eu, sinceramente, não ligava nenhum pouco para isso. E também não fazia idéia como ele poderia já ter chegado a essa conclusão com tão pouco tempo de gravidez.

Quando descobri a gravidez, houve o susto, houve aquele impulso de levá-la adiante como forma de me tirar do buraco em que estava, mas parou por aí. Tento ter forças, trabalhar, levantar, comer, seguir com os conselhos médicos do doutor Rodrigo a risca, mas não sinto um vinculo com esse bebê. O máximo que eu faço é tocar minha barriga, como se quisesse sentir que realmente existi um serzinho ali e que preciso continuar por ele.

- Sim, Cris, mas ainda tenho um tempinho.

- Como esta sendo lá, Eliz? – Essa veio da Ale.

- Tem muita gente? – A Nicke complementa.

Estava demorando para começarem o interrogatório. Como havia prometido para elas, após o casamento da Ale comecei a frequentar o grupo de ajuda. Era apenas isso que fazia. Era como bater ponto num lugar. Ia para lá, ouvia as pessoas se abrirem por pouco mais de uma hora, ouvia umas palestras e saia. Depois desse tempo estava liberada para viver a minha vida. Só tinha que pagar essa penitencia uma vez por semana, não era tanto sacrifício assim. Pelo menos era assim que pensava nos primeiros encontros. Já estava indo há pouco mais de um mês, hoje seria meu quinto encontro. Sentia que elas estavam doidas para me encher de perguntas, mas sempre se seguravam. Pelo visto, até agora.

- Tudo indo bem. A cada dia parece que chega mais gente.

- E sobre o... – Interrompo a Nicke.

- Melhor eu ir para não me atrasar. – Levanto, começo a colocar o celular na bolsa, verifico se a carteira esta na bolsa e a chave do carro, mas antes de sair resolvo ir ao banheiro logo.

Mal tranco a porta do banheiro do nosso escritório é já ouço os sussurros.

- Eu não estou notando nenhuma diferença nela com esse grupo. – A Cris começa.

Eliz... (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora