Capítulo Dez - Novos ares.

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Capítulo Dez – Novos ares.


~ Rafael ~


- Naquela lanchonete à esquerda tem um sanduíche dos deuses e nessa outra tem a melhor coxinha que já comi na vida. Tem uma livraria bem legal naquele shopping também. – A Luziana parecia que estava tendo um de seus ataques característicos.

- Deixa eu tentar adivinhar. – A interrompo. – Isso é TPM, você está ansiosa com alguma coisa ou aconteceu algo extraordinário que você ainda não me contou?

- Porque você diz isso? – Faz uma careta antes de perguntar, assim que para num sinal de transito.

- Porque você não parou de falar desde que me pegou no aeroporto e você tem a tendência de observar mais do que falar assim, exceto em uma de suas crises, logicamente. E então, qual das opções?

- Mistura da segunda opção com a terceira. E talvez um pouco da primeira. – Eu rio. – Eu estava ansiosa com a sua chegada, sua mudança para cá também é algo extraordinário e você só citou a TPM, porque sempre fala que vivo de TPM o mês inteiro, seu idiota.

- Muito bem colocado, nobre promotora.

Conheci a Luzi na faculdade, lá em São Paulo. Ralei pra caramba para conseguir entrar numa das melhores universidades públicas do estado.

Minha mãe morreu no meu parto, fui criado pelo cara que forneceu o espermatozoide, que estava muito longe de poder ser chamado de pai. Eu nunca o chamei assim. Ele só pagava uma mulher para tomar conta da casa e colocava comida na mesa. Meus avós, que compravam roupas, me levavam em médicos, dentista e passeios baratos quando o dinheiro permitia. Com quinze anos, meus avós faleceram num acidente de carro e eu comecei a procurar uns bicos para arrumar algum dinheiro. Estudava de manhã e a tarde caçava alguma coisa para fazer. Aos dezesseis já podia trabalhar como aprendiz, fiz isso num jornal até os dezoito anos. Idade que dei o fora de casa.

Mal via o responsável por me por no mundo. Se ele não fazia a menor questão disso, porque eu faria? O livrei da carga e das despesas comigo, consegui ser efetivado com dezoito anos no jornal e ainda fazia bico de vigia na parte da noite. Enquanto isso, estudava sempre que dava, dormia pouco e me alimentava mal, sempre juntando grana.

Com muito esforço, consegui passar no vestibular para direito onde conheci a Luzi. Eu não era dado a sair falando e puxando assunto com ninguém não. Eu sou uma pessoa focada. Meu foco era me formar, passar na prova da ordem, advogar por pouco tempo e fazer a prova da magistratura. E foi o que fiz e consegui.

Voltando a Luzi, foi impossível não ser amigo dela. Eu chegava morto nas aulas. Tive que largar o emprego de vigia, ficando só no jornal de dia, que era um trabalho bem extenuante. Mas entrava na sala, cumprimentava todo mundo brevemente, sentava no meu canto e esperava a aula. Num dia, depois de umas três semanas de aula, eu havia chegado cedo e ela logo entrou. Uma morena bonita, alta e de olhos verdes, bem clarinhos. Cada vez que ela me olhava parecia que fazia uma espécie de raio X da minha cabeça e conseguia descobrir meus pensamentos. Ela era e continua sendo muito observadora, foi como se ela tivesse juntado tudo que podia apreender sobre mim, antes do ataque.

- Olá, meu nome é Luziana e o seu? – A turma era imensa, nem dava para conhecer todo mundo em tão pouco tempo.

- Prazer, sou o Rafael.

Eliz... (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora