Capítulo Treze - Todo mundo precisa de alguém que balance suas estruturas

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Capítulo Treze - Todo mundo precisa de alguém que balance suas estruturas

~ Eliz ~


Eu já amava os meus sábados quando era mais jovem, depois que tive a Bia passei a venerar ainda mais, por poder ficar o dia todinho com ela.

A única parte que não gostava é que minha filha costuma ser uma preguiça ambulante para acordar durante a semana, mas em compensação nos fins de semana ela madrugava.

Sinto meu pedacinho de gente começar a pular na cama em plena euforia.

- Mãeeeeeee. Vamos, vamos, vamos, hoje é dia de praia. – Ainda bem que minha cama é forte, porque ela pulava com uma força danada, cai sentada, cai em pé e deitada, caía de tudo o que era jeito. – Eu já estou pronta.

Viro para ela e a vejo só com a calcinha do biquíni. A parte de cima ela não consegue colocar sozinha e só estava amarrada na parte do pescoço. Sorrio para a minha mocinha que a cada dia se torna mais independente. Isso aperta um pouco meu peito. No coração de uma mãe, por mais que a gente fale que cria filho para o mundo, que quer que eles sejam independentes, lá no fundo queríamos que eles permanecessem precisando da gente, da nossa proteção, do nosso direcionamento, ensinamentos, da nossa presença pra sempre.

- Tem certeza que você quer ir pra praia? Que tal curtirmos um dia de preguiça na cama? – Resolvo provocá-la.

- Até podia, mas como a senhora prometeu ir à praia. Promessa é dívida. – Ela para de pular e me olha séria.

- E eu nunca quebro uma promessa, certo?

- Sim, sim, sim, você é a melhor mãe do mundo. Você é meu "pãe".

Olho atenta e surpresa para a minha pequena. Eu sabia o significado daquilo, mas não sabia se ela entendia bem o conceito.

- Onde você escutou isso, Bia?

- Lá no grupo. Umas crianças que não tem papai, assim como eu, fala que a mãe é "pãe".

Engulo em seco. Quando que meu bebê havia se tornado tão perspicaz, tão sensível e inteligente dessa forma?

Não sabia o que era não ter um pai. Meu pai e os meninos tentavam ficar o mais próximo o quanto possível da Bia. Não precisavam me falar o que estavam tentando fazer, eu sabia que faziam assim para tentar suprir uma figura paterna para ela.

Tanto que desde que a Bia entrou na escolinha, todos os dias dos pais, todos eles iam a escola junto com o meu pai, nunca falei nada nem pedi, eles simplesmente iam. No primeiro ano eles se revezaram e cada um tirou foto com a lembrança e com a Bia. No dia, eu tinha até cogitado em não levá-la para a escola, mas havia decidido que eu estaria lá como pai dela. Nos anos seguintes, passei a dar mais dinheiro ou comprar material pra que quatro lembranças fossem feitas, para meu pai, o Diego, o Gabriel e o Mateus.

Não sei se isso era o certo ou não, se a confundiria, mas as coisas foram acontecendo dessa forma e ela se mostrava mega feliz por ter quatro representantes de "pais", até então, ela nunca demonstrou ou confundiu os quatro com a figura de pai, eles são os tios e o avô e ponto final.

- E você sabe o que significa isso?

- É quando a mãe é também pai, puque cuida sozinha da criança, assim como você faz.

Sento-me na cama e a puxo para o meu colo, olhando bem firme para dentro daqueles olhos azuis que amo tanto.

- E o que você sente com isso?

Eliz... (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora