Mais tarde, ao retornar para o quarto, ainda estou me perguntando o que Rock fez com alguns dos móveis de minha avó quando encontro Ivy deitada na cama dele como se morasse ali. É a primeira vez que a vejo na semana, o que me faz imaginar por onde ela andou. Eu estava certa de que a encontraria aqui assim que cheguei, mas não acho que ela tenha vindo ao quarto até agora.
— Eu estava me perguntado por que você demorou tanto... — Ela comenta sem tirar os olhos de seu celular.
— Aulas, — sem saber se eu deveria responder ou não, dou de ombros.
Ivy não fala mais nada e eu me pergunto se ela escutou o que eu disse ou está me ignorando de propósito. Aguardo mais alguns instantes por uma reação, porém fica claro que ela não vai perder mais nenhum minuto comigo quando ela solta uma risada por algo na tela de seu celular. Sabendo que Ivy está no quarto à espera de Rock, tento deixar de lado sua presença enquanto separo meu material para a aula do dia seguinte e reorganizo os livros em minha prateleira.
Escuto Ivy atrás de mim, porém continuo atenta aos livros à minha frente. Mais cedo eu me surpreendi por um dos amigos de Rock ter reconhecido alguns títulos. Eles não são as pessoas horríveis que eu imaginei que fossem, até mesmo conseguiram me fazer rir. Talvez Rock e Ivy sejam melhores do que eu julguei e só precisem de uma chance.
— Ouvi dizer que você escuta ópera, — Ivy diz com deboche.
Eu solto o livro que segurava e viro para a encará-la deitada na cama de Rock. Suas sobrancelhas louras se erguem quando eu assinto e um sorriso lento se espalha nos lábios cobertos por um batom berinjela. Pelo que eu notei, Ivy gosta de chocar tanto com suas atitudes quanto com a maquiagem que usa.
— Isso comprova que eu estava certa quando te vi pela primeira vez, — seus olhos azuis brilham com malícia e eu me preparo para o que estar por vir. — Você é mesmo igual à minha avó.
Sinto meu rosto corar à medida que o riso de Ivy se torna uma gargalhada. Ela me olha dos pés à cabeça e balança a cabeça em reprovação. Eu não me incomodo com seus comentários ou com a forma como ela me olha, já estou acostumada. O que realmente me perturba é o fato de que eu estava pensando em lhe dar uma chance de provar ser uma boa pessoa a menos de cinco minutos atrás.
— Abby, eu sinto que vamos nos divertir bastante juntas. Ou pelo menos eu vou... — Ainda rindo, Ivy se senta. — O que você acha de animar um pouco as coisas? Eu estou sentindo falta de música por aqui.
Sem esperar por minha resposta, ela conecta o celular na caixa de som sobre a mesinha de cabeceira de Rock e seleciona uma música. Identifico o som imediatamente e respiro fundo, esperando pela voz do vocalista surgir aos berros e, junto, uma dor de cabeça.
— Nada como um bom heavy metal para preencher o vazio, não acha? — Mesmo gritando, eu tenho dificuldades para compreender o que ela diz.
— Você pode diminuir um pouco? — Pergunto, sabendo qual será a resposta.
— O quê? Não consigo te entender! — Ela grita e aponta para os ouvidos.
— Eu perguntei se você pode abaixar o som! — Repito, mas Ivy não me escuta.
Eu balanço a cabeça, frustrada, e volto para meus livros. Tento ignorar os gritos e o barulho que sai das caixas de som, repetindo mentalmente tudo o que eu havia planejado fazer durante a tarde e torcendo para que Ivy não me impeça. É óbvio que eu não poderei estudar no quarto como eu pretendia, mas espero que não seja um problema ter ela aqui enquanto eu arrumo meu armário ou separo as roupas sujas.
Ivy gargalha quando lhe dou as costas e sinto meu sangue ferver. Não consigo compreender o motivo dela me provocar. Não pode ser apenas ciúmes de Rock, afinal Ivy já deve ter percebido que não há a menor possibilidade de eu e Rock estarmos no mesmo lugar por livre e espontânea vontade.
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Um olhar para o amor
RomanceA vida de Abby foi minuciosamente planejada anos atrás. Hoje ela está noiva de um homem que possui todas as características que ela poderia desejar em um marido, seu curso de graduação é melhor do que ela poderia esperar e ela recebe a oportunidade...