Capítulo 13 - Rock

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Ainda escuto nitidamente o estrondo causado por Abby ao deixar o quarto quase uma hora atrás. Não sei para onde ela foi e imagino que não tenha muitas opções, o que me deixa ainda mais culpado pelo que eu disse. Ela não tinha direito nenhum de reclamar e me acusar, mas nada justifica o modo como eu gritei de volta. Eu nunca antes havia perdido o controle daquela maneira e só posso culpar seu temperamento difícil por isso.

Abby me deixa louco.

Vejo os livros caídos no chão, a madeira da prateleira solta sobre seu colchão e uma pilha de CDs debaixo de sua cama. Eu não havia notado eles antes e por curiosidade me aproximo. O único que reconheço tem a imagem de um homem de máscara, a trilha sonora do filme O Fantasma da Ópera. Um dos filmes que minha mãe me fez assistir durante as férias. Acabo colocando-o para tocar em meu notebook e ao ouvir os primeiros acordes do órgão sinto meu peito apertar em um misto de emoções. Fecho meus olhos e vejo minha mãe diante de mim com o rosto pálido, abatido e com os olhos inchados. Sinto suas mãos fracas agarrando meus braços e ela treme completamente desesperada. Volto a abrir os olhos e a imagem desaparece, sendo substituída pela lembrança de Abby cantando a mesma música dias atrás, em um volume tão alto que eu me surpreendi por ela não ter perdido a voz depois daquela noite.

Volto a olhar para a prateleira, sabendo que o último olhar que ela me lançou, cheio de mágoa, provavelmente irá me perseguir pelo resto de minha vida. Não faço ideia de como ela conseguiu derrubar a madeira, mas pela marca que os pregos deixaram na parede descubro que não estavam firmes e o peso era maior do que eles poderiam suportar. Alguns parafusos maiores evitarão que o episódio se repita, ainda mais com todo o peso que aqueles livros enormes de Abby devem ter. Penso nos parafusos ideais guardados na caixa de ferramentas que tenho dentro do meu armário. Eu poderia consertar, por desencargo de consciência. Arrumar uma estante não vai ser o suficiente para mudar minha relação com Abby, muito menos fará com que ela desculpe meu comportamento, mas ao menos eu me sentirei melhor.

─ Isto se ela voltar para o dormitório ─ murmuro.

Aumento o volume da música, bloqueando o burburinho da conversa do lado de fora do quarto, e apanho as ferramentas necessárias. Com o som alto ninguém irá ouvir o barulho da furadeira ou reclamar.

Aos poucos eu entro no ritmo da música enquanto fixo novamente a prateleira na parede, me sentindo útil por fazer algo com minhas próprias mãos. Não sei quanto tempo passa e tarde demais eu escuto uma risada alta atrás de mim. Ao virar vejo Brad e Chuck ocupando a entrada. Os cabelos pretos de Chuck balançam para todos os lados enquanto ele ri e Brad parece ter perdido a capacidade de reagir.

─ O que vocês estão fazendo aqui? ─ Deixo as ferramentas de lado e rapidamente paro a música.

─ A gente podia perguntar a mesma coisa para você. ─ as sobrancelhas loiras de Brad se unem como se ele estivesse tentando encontrar a peça que falta de um quebra-cabeça. ─ Nós pensamos que a Abby estivesse aqui.

─ Cara, você esqueceu a festa? ─ Chuck interrompe e eu fico grato por Brad não ter a chance de desenvolver o pensamento. ─ Você demorou tanto tempo que decidimos vir até aqui para ter certeza de que você não mudou de ideia.

Eu me esqueci de que havia ligado para meus amigos assim que Abby saiu do quarto. Ainda estava irritado com ela e Ivy, por isso eu acabei fazendo a ligação. Agora que eu me acalmei percebo que não foi uma escolha muito boa. A simples ideia de acompanhar meus amigos para a festa me deixa nervoso. Não sei o que esperar; não da festa em si, mas da minha reação ao chegar lá. Faz tanto tempo que não vou à um evento desses que eu tenho certeza de que não saberia mais como me comportar. As pessoas ainda conversam ou hoje as festas são uma desculpa para ficarem bêbadas e beijarem desconhecidos?

Um olhar para o amorOnde histórias criam vida. Descubra agora