Abby segue pelo corredor em direção ao banheiro, independente de nunca antes ter estado no apartamento. Pela forma como sua caminhada é constante e os ombros estão erguidos, tenho a impressão de que ela está se preparando para uma batalha e não em busca de um kit de primeiros-socorros.
— Abby — chamo ainda parado na porta do apartamento.
Ela para no pequeno corredor e me encara por sobre o ombro. Um vinco surge em sua testa quando ela olha para o ferimento em minha sobrancelha esquerda. Eu tenho vontade de dizer que não está doendo, mas ao julgar pela expressão em seu rosto, sei que ela não acreditaria.
— Eu já tive ferimentos bem mais graves que isso — aponto para o machucado como se não passasse de um arranhão. Ela cruza os braços, insatisfeita com o comentário. — O kit de primeiros-socorros está no armário da cozinha.
— Na cozinha?
Confusa, ela olha para a cozinha integrada ao cômodo em que estamos. O apartamento não é muito grande, além das duas suítes de Chuck e Brad, o outro ambiente é usado como sala de jantar, sala de estar e salão de festas em algumas ocasiões. Um canto da sala foi transformado em uma cozinha integrada pelo proprietário, que tem um fascínio inexplicável por porcelanato vermelho e cobriu todo o piso do apartamento com azulejos cor de tomate.
— Com Chuck e Brad morando juntos, qualquer coisa que aconteça na cozinha é perigosa. Eles seriam capazes de iniciar um incêndio cortando legumes.
— Isso é impossível — ela diz com um fantasma de sorriso nos lábios.
— Só porque você nunca viu nenhum dos dois tentando cozinhar. Acredite em mim quando eu falo que eles conseguiriam.
Rindo, Abby muda o curso e segue na direção da cozinha compacta. Ao passar por mim, ainda parado, seus olhos vagam na direção do ferimento e ela acelera o passo. Observo-a abrir cada um dos armários suspensos, pensando que eu poderia muito bem apanhar o maldito kit, mas ver a preocupação estampada em seu rosto e saber que é direcionada a mim me faz pensar duas vezes antes de correr até ela. Apesar de bem egoísta, me faz muito bem ter a consciência de que ela só está fazendo isso pelo meu bem-estar. Quase me faz acreditar que Abby sente muito mais por mim do que deixa transparecer.
O que é tolice minha, porque ela deixou óbvio desde o início que não me vê como nada além do seu colega de quarto. Talvez eu seja algo próximo de um amigo agora, porém não mais.
Eu me forço a sentar no sofá de couro no centro da sala e aguardar pacientemente por Abby. Enquanto ela fica na ponta dos pés em busca da caixa de plástico eu me pego rindo sem nenhum motivo aparente. O modo como ela estica os braços e mesmo assim só consegue tocar com a ponta dos dedos no estojo na prateleira mais alta é adorável.
— Você precisa de ajuda? — Pergunto decidido a não sair do lugar mesmo que ela pedisse. Eu me divertiria vendo o que Abby poderia aprontar para ficar alguns centímetros mais alta. E também já a conheço o suficiente para saber que ela não aceitaria ajuda. Não por causa de algo relacionado a sua altura. Apesar de baixa, ela é bastante teimosa.
— Nem pense em sair daí.
Para se certificar que ainda estou distante, olha por cima do ombro para mim. Ao me ver sentado ela parece satisfeita e volta a se concentrar no objeto na prateleira. Abby pula algumas vezes até finalmente alcançar o kit e volta sorrindo para a sala.
— Estou impressionado com a sua habilidade. Você já pensou em fazer parte da equipe nacional de saltos?
— Claro — ela sorri com uma confiança fingida. — Mas eu deixaria meus companheiros de equipe desconfortáveis com o meu nível de habilidade e técnica, por isso acho melhor me afastar do esporte.
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Um olhar para o amor
RomanceA vida de Abby foi minuciosamente planejada anos atrás. Hoje ela está noiva de um homem que possui todas as características que ela poderia desejar em um marido, seu curso de graduação é melhor do que ela poderia esperar e ela recebe a oportunidade...