Um olhar para o amor

Capítulo 32 - Rock

Não sei quanto tempo passa enquanto eu permaneço sentado no sofá. Por mais que eu quisesse ir atrás de Abby e impedi-la de fugir mais uma vez eu sei que não é o melhor momento para pressioná-la. Sem mencionar que meu corpo parece ter perdido toda a força. A não ser pelo estranho vazio em meu peito, não consigo sentir mais nada. A sensação de perda não é nova para mim, mas agora parece doer muito mais fundo do que quando meu irmão partiu. De certo modo eu sempre soube que Roger possuía um espírito livre e independente e esperava que ele partisse em busca de algo que jamais conseguiu; mas Abby não é como ele e eu me arrependo ao pensar que ela está sozinha agora por minha causa.

Abby se encaixou com tanta perfeição nos meus braços que eu não imaginei, nem um por segundo, que ela pudesse não ter sentido a mesma conexão e desejo que eu. Aquelas palavras não foram mais do que a verdade que já estava implícita entre nós. Entretanto eu deveria saber que ela não estava pronta para escutá-las. Eu a assustei quando deveria ter me controlado e a mantido ao meu lado. Falar impulsivamente e afastar as pessoas é o que eu faço de melhor, aparentemente.

Ainda estou concentrado na lembrança do olhar assombrado que ela me lançou quando a porta abre atrás de mim. Sinto meu peito acelerar com a possibilidade de Abby ter voltado, mas minhas esperanças se desfazem ao reconhecer os passos pesados de um de meus amigos e não faço esforço algum para me mover. Eu fixo o olhar no chão vermelho e vejo com o canto do olho Brad contornar o sofá e sentar ao meu lado.

- Está tudo bem? Pensei que a Abby tivesse vindo com você. - Por mais que eu não o encare sei que está confuso.

- O que aconteceu depois que eu saí? - Ignoro sua pergunta e a pontada que sinto ao ouvir o nome de Abby sendo mencionado.

Quando Brad não responde eu me forço a virar o rosto e noto o modo como seus ombros enrijecem e o semblante fecha. Brad está assumindo a postura de capitão do time e eu imediatamente sei que ele traz notícias ruins. Brad está sempre tão descontraído que esse gesto faz com que eu me alerte.

- O idiota foi arrastado para fora do campus por dois seguranças - ele narra sem emoção alguma e em seguida vira todo o corpo em minha direção. Eu prendo o ar e me preparo para ouvir o pior. - Você sabe como as notícias correm rápido e o técnico não gostou de saber que um dos melhores jogadores se envolveu em uma briga. Além disso, você também sabe qual é a política de universidade em relação a agressão física...

- Brad, fala de uma vez.

- Você está suspenso pelos próximos três jogos. O técnico disse que você vai poder acompanhar a delegação e ficar no banco, além disso também pode continuar usando a academia, mas não vai poder entrar em campo.

- São quase dois meses sem jogar! E os olheiros vão estar nesses jogos porque são os mais importantes da temporada - comento quase sem acreditar em Brad. Eu imaginei que levaria uma advertência ou passaria o próximo jogo afastado, mas não pensei que pudesse receber uma punição tão dura.

- Você devia ficar satisfeito por não ter sido expulso. O idiota disse que você atacou primeiro porque está de olho na noiva dele e se não fosse pelo vídeo que uma garota filmou você estaria dando adeus para o time e para a sua bolsa de estudos agora. Claro que eu também expliquei que a Abby terminou com ele e o técnico resolveu levar isso em consideração.

Nunca em minha vida eu senti uma raiva tão intensa quanto a que me domina ao ouvir meu amigo. Saber que o ex-noivo manipulador de Abby está tentando fazer o mesmo comigo me traz uma vontade enorme de finalmente levantar do sofá e ir atrás dele até o fim do mundo. Não vou permitir que ele continue com esse jogo, ainda mais sabendo que ele insiste em dizer que Abby ainda é sua noiva depois de todos os protestos dela.