Com os olhos ainda fechados eu tento voltar a dormir enquanto o alarme do despertador ecoa pelo quarto. Eu poderia esquecer por um segundo que estou em um quarto de hotel e acabaria confundindo o som do despertador do celular de Brad com o de Abby, mas a respiração pesada dele e o ronco de Chuck não me permitiram fechar os olhos por muito tempo durante a noite. Eu nunca me incomodei de verdade com nada disso até agora, só que depois de passar tantas noites dormindo com o silêncio de Abby como companhia eu já não consigo ignorar os barulhos que meus amigos fazem enquanto dormem.
Com o quarto ainda escuro eu me levanto ás pressas e corro para o banheiro antes que algum deles acorde. Chuck se diverte passando horas trancado no banheiro para nos atrasar e Brad costumava demorar mais de meia hora em frente ao espelho antes de cortar o cabelo, agora eu não sei o que faz ele ficar tanto tempo encarando o próprio reflexo. Depois de cada jogo nosso fora de casa passamos a noite em algum hotel perto da estrada e saímos bem cedo na manhã seguinte (ordens do treinador). Meus amigos sempre gostaram dessa ordem, pois significa uma boa noite de comemoração e descanso antes de voltarmos para a estrada. Considerando que Chuck dirige o próprio carro ao invés de ocupar um lugar no ônibus de viagem da universidade, é uma boa coisa. Depois dos jogos eu sempre me sinto exausto e só quando a euforia de uma vitória passa é que percebo o quanto o descanso é vital para mim, tenho certeza de que acontece o mesmo com ele.
Como se para provar o que eu penso, Chuck resmunga algo em seu sono completamente alheio ao som irritante do celular de Brad. Eu me pergunto como os dois conseguem continuar dormindo enquanto o alarme ecoa pelo quarto, mas aproveito a chance de me arrumar sem que os dois me incomodem. Em seguida abro as cortinas da ampla janela ao lado da porta do quarto. Imediatamente o breu é invadido pelo dourado vívido do nascer do sol, fazendo cada partícula de poeira do ar cintilar enquanto o calor atravessa os vidros.
— Bom dia — comento com ninguém em especial, mas sei que Chuck acordou porque seu ronco parou. — Brad, você devia usar rosa sempre. Definitivamente é a sua cor.
Ao ouvir meu comentário Chuck rapidamente se levanta acreditando que veria algo embaraçoso. Aposto que ele pensou em usar isso para zombar de Brad pelo resto de nossas vidas. Ao perceber que eu estava mentindo e não há nada de anormal na calça cinza de moletom que Brad está vestindo, Chuck resmunga e volta a enterrar a cabeça no travesseiro.
— Chuck, você deveria aproveitar para tomar banho enquanto o Brad finge que está dormindo. Você sabe que ele demora uma eternidade para se arrumar.
— O que aconteceu com você hoje? — Chuck resmunga com a voz embargada de sono. — Nunca te vi com um humor tão bom, é irritante.
— Nós ganhamos ontem e eu sempre acordo de bom humor — dou de ombros por mais que ele não veja.
— Eu não entendo como você pode ficar feliz por acordar cedo.
— Eu acho que a alegria dele tem mais a ver com uma pessoa... — Brad diz ainda de olhos fechados.
— Tem razão. Deve ser ela. Você reparou que os dois ficaram trocando mensagens ontem antes do jogo? O técnico estava quase jogando o celular do Rock no lixo quando ele finalmente parou.
— Eu vi — Brad se esforça para segurar a risada, o que só piora a situação.
— Vocês dois também acordaram cheios de humor — tento permanecer calmo diante dos olhares desconfiados de ambos. — Vou comer alguma coisa e tentar encontrar o pessoal antes de partir. Enquanto isso vocês podem fazer algo mais útil do que falar da minha vida pessoal.
— Então a Abby passou a fazer parte da sua vida pessoal? Chuck ergue as sobrancelhas grossas e eu preciso respirar fundo para não tentar arrancar o sorriso insolente de seu rosto.
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Um olhar para o amor
Lãng mạnA vida de Abby foi minuciosamente planejada anos atrás. Hoje ela está noiva de um homem que possui todas as características que ela poderia desejar em um marido, seu curso de graduação é melhor do que ela poderia esperar e ela recebe a oportunidade...