Capítulo 5

360 14 0
                                    

Acordaram, porém, de madrugada, como sempre, e, ao lembrarem-se do glorioso acontecimento da véspera, correram para a pastagem. A pequena distância havia uma colina que comandava a vista de quase toda a fazenda. Os animais subiram ao topo e olharam em volta, à luz clara da manhã. Sim, era deles - tudo quanto enxergavam era deles! No êxtase desse pensamento, viraram cambalhotas e saltaram, num arroubo de contentamento. Molharam-se no orvalho, morderam a deliciosa grama do verão, arrancaram torrões de terra e aspiraram aquele cheiro delicioso. Depois fizeram um circuito de inspeção em toda a granja, vistoriando, com muda admiração, a lavoura, o campo de feno, o pomar, a lagoa e o bosque. Era como se, anteriormente, nunca tivessem visto aquilo, e mal podiam acreditar: tudo era deles.
Voltaram, então, para as casas da granja e pararam silenciosos junto à porta da casa-grande. Era deles também, mas sentiram um certo receio de entrar. Depois de alguns instantes, porém, Bola-de-Neve e Napoleão forçaram a porta, e os animais entraram, em fila, caminhando com o maior cuidado para não desarrumar nada. Andaram na ponta dos pés, de um aposento para o outro, falando baixinho e olhando com certa reverência o luxo inacreditável, as camas, os colchões de penas, os espelhos, os sofás de crina, o tapete de Bruxelas, a litografia da Rainha Vitória sobre a lareira da sala. Quando desciam as escadas, deram pela falta de Mimosa. Voltando, descobriram-na no quarto principal. Havia apanhado no toucador da Sra. Jones um pedaço de fita azul e segurava-o contra a espádua, admirando-se no espelho, com trejeitos ridículos. Repreenderam-na acerbamente e saíram todos. Alguns presuntos, pendurados na cozinha, foram levados para fora e enterrados; o barril de cerveja da copa foi rebentado com um coice de Sansão; além disso, nada mais foi tocado na casa. Ali mesmo foi aprovada por unanimidade a resolução de conservá-la como museu. Concordaram em que nenhum animal jamais deveria habitá-la.
Os bichos tomaram a refeição matinal e foram outra vez convocados por Bola-de-Neve e Napoleão.
- Camaradas - disse Bola-de-Neve -, seis e quinze, e temos um longo dia pela frente. Iniciaremos hoje a colheita do feno. Mas antes há um outro assunto para tratarmos.
Os porcos revelaram que durante os últimos três meses haviam aprendido a ler e escrever, num velho livro de ortografia dos filhos de Jones, que fora jogado no lixo. Napoleão mandou buscar latas de tinta preta e branca e conduziu-os até a porteira das cinco barras que dava para a estrada principal. Então, Bola-de-Neve (que era quem escrevia melhor) pegou o pincel entre as juntas da pata, apagou o nome GRANJA DO SOLAR do travessão superior e, em seu lugar escreveu GRANJA DOS BICHOS. Seria esse o nome da granja daquele momento em diante. Depois disso, voltaram para as casas da granja; Bola-de-Neve e Napoleão mandaram buscar uma escada e ordenaram que fosse encostada à parede do fundo do celeiro grande. Explicaram que, segundo os estudos que haviam feito nos últimos três meses, era possível resumir os princípios do Animalismo em Sete Mandamentos. Esses Sete Mandamentos, que seriam agora escritos na parede, constituiriam a lei inalterável pela qual a Granja dos Bichos deveria reger sua vida a partir daquele instante, para sempre.
Com alguma dificuldade (pois não é fácil um porco equilibrar-se numa escada de mão), Bola-de-Neve subiu e começou a trabalhar, enquanto Garganta, alguns degraus abaixo, segurava a lata de tinta. Os Mandamentos foram escritos na parede alcatroada em grandes letras brancas que podiam ser lidas a muitos metros de distância. Eis o que dizia o letreiro:
OS SETE MANDAMENTOS

  1. Qualquer coisa que ande sobre duas pernas é inimigo. 

2. Qualquer coisa que ande sobre quatro pernas, ou tenhaasas, é amigo. 

3. Nenhum animal usará roupas. 

4. Nenhum animal dormirá em cama. 

5. Nenhum animal beberá álcool.

 6. Nenhum animal matará outro animal. 

7. Todos os animais são iguais.  

A Revolução Dos BichosOnde histórias criam vida. Descubra agora