Capítulo 6

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Estava tudo muito bem escrito, com exceção da palavra "álcool", que foi escrita "álcol", e de um dos esses, que foi desenhado ao contrário. O conjunto ficou bastante bom, e Bola-de-Neve leu-o em voz alta para os demais. Todos os animais balançaram a cabeça, de pleno acordo, e os mais vivos começaram imediatamente a decorar os Mandamentos.
- E agora, camaradas - disse Bola-de-Neve, deixando cair o pincel, ao campo de feno! É uma questão de honra realizar a colheita em menos tempo do que Jones e seus homens. .-
Nesse momento, porém, as vacas, que já vinham dando sinais de inquietação, começaram a mugir. Havia vinte e quatro horas que não eram ordenhadas e estavam com os úberes quase estourando. Depois de alguma reflexão, os porcos pediram baldes e ordenharam as vacas com relativo êxito, pois seus cascos adaptavam-se bem à tarefa. Em breve obtinham cinco baldes de um leite espumante e cremoso, que muitos bichos olharam com considerável interesse.
- Que vamos fazer com esse leite? - perguntou alguém.
- Jones às vezes misturava um pouco ao nosso farelo - disse uma galinha.
- Não se preocupem com o leite, camaradas! - gritou Napoleão, postando-se à frente dos baldes.
- Nós trataremos deste assunto. A colheita é mais importante. O camarada Bola-de-Neve os conduzirá.
Eu seguirei dentro de alguns minutos. Avante, camaradas! O feno está à espera.
Os animais marcharam rumo ao campo de feno, para o início da colheita, e quando voltaram, à tardinha, notaram que o leite havia desaparecido.
E como trabalharam para juntar aquele feno! Mas o esforço foi recompensado, pois a colheita deu um resultado muito melhor do que esperavam.
Por vezes, a tarefa foi dura; os implementos destinavam-se ao uso de seres humanos e foi uma enorme desvantagem o fato de nenhum bicho poder utilizar ferramentas que exigissem a posição em pé sobre as patas traseiras. Mas os porcos eram tão imaginosos que conseguiram contornar todas as dificuldades. Os cavalos conheciam cada palmo do terreno e na realidade sabiam ceifar e raspar muito melhor do que Jones e os empregados, Os porcos não trabalhavam, propriamente, mas dirigiam e supervisionavam o trabalho dos outros. Donos de conhecimentos maiores, era natural que assumissem a liderança. Sansão e Quitéria atrelavam-se à ceifadeira ou à grade (naturalmente não havia mais necessidade de freios e rédeas) e andavam pelo campo para lá e para cá, com um porco atrás gritando "Eia, camarada!" ou "A volta, agora, camarada!", conforme o caso. E cada animal, até os mais modestos, trabalhou para colher e juntar o feno. Até os patos e as galinhas andavam o dia inteiro sob o sol, carregando no bico pequeninos feixes de feno. Enfim, terminaram a colheita dois dias antes do tempo que Jones e seus empregados normalmente levavam. Mas, além disso, foi a maior colheita que jamais se realizara ali. Não houve qualquer desperdício; as galinhas e os patos, com sua vista penetrante, juntaram até o menor talinho. E nenhum animal na granja roubou sequer uma bocada.
Durante todo aquele verão o trabalho da granja andou como um relógio. Os bichos, felizes como nunca. Cada bocado de comida constituía um extremo prazer, agora que a comida era realmente deles, produzida por eles e para eles, em vez de distribuída em pequenas quantidades por um dono cheio de má vontade. Ausentes os inúteis parasitas humanos, mais sobrava para cada um. Havia também mais lazer, muito embora os animais fossem inexperientes nisso. Encontraram muitas dificuldades - por exemplo, no fim do ano, quando colheram os cereais, foram obrigados a pisá-los, à moda antiga, e soprar as cascas, pois a granja não possuía uma debulhadeira -, mas os porcos, com a inteligência, e Sansão, com seus músculos fantásticos, sobrepujavam-nas. Sansão era a admiração de todos. Já era trabalhador no tempo de Jones; agora, como que valia por três. Dias houve em que todo trabalho da granja parecia recair sobre seus fortes ombros. Da manhã à noite lá estava ele, puxando e empurrando, sempre, no lugar onde o trabalho era mais pesado. Fizera um trato com um dos galos para ser chamado meia hora mais cedo que os demais, todas as manhãs, e empregava esse tempo em trabalho voluntário no que parecesse mais necessário. Sua solução para cada problema, para cada contratempo, era "Trabalharei mais ainda", frase que adotara como seu lema particular.

A Revolução Dos BichosOnde histórias criam vida. Descubra agora