Capítulo 21

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Cheirou cada canto, celeiro, no estábulo, nos galinheiros, na horta, encontrando vestígios de Bola-de-Neve em quase toda parte. Invariavelmente encostava o focinho no chão, puxava algumas cheiradas profundas e exclamava numa voz terrível: "Bola-de-Neve! Andou por aqui! Sinto perfeitamente o cheiro!" E, à palavra "Bola- de-Neve", a cachorrada soltava grunhidos sanguinários, pondo os dentes à mostra.
Os animais andavam aterrorizados. Parecia-lhes que Bola-de-Neve era uma espécie de entidade invisível, impregnando o ar à sua volta e ameaçando-os com todas as espécies de perigos. Certa tarde, Garganta reuniu-os e, com uma expressão alarmada, disse-lhes ter várias notícias para dar.
- Camaradas - gritou, fazendo trejeitos nervosos -, descobrimos uma coisa pavorosa. Bola-de-Neve vendeu-se a Frederick, da Granja Pinchfield, que neste mesmo instante está planejando atacar-nos e tomar nossa granja! Bola-de-Neve será o guia, quando o ataque começar. Mas ainda há pior. Nós pensávamos que a rebelião de Bola-de-Neve for a causada por sua vaidade e ambição. Pois estávamos enganados, camaradas. Sabeis qual foi a verdadeira razão? Bola-de-Neve era aliado de Jones desde o início! Foi, o tempo todo, agente de Jones. Tudo isso está comprovado em documentos que deixou e que só agora descobrimos. Para mim isso explica muita coisa, camaradas. Pois não vimos, com os nossos próprios olhos, a maneira como ele tentou - felizmente sem conseguir - fazer que fôssemos derrotados e destruídos na Batalha do Estábulo?
Os bichos ouviam estupefatos. Isto era um crime muitíssimo maior do que ter destruído o moinho de vento. Mas alguns minutos se passaram até eles compreenderem a completa significação de tudo aquilo. Todos se lembravam, ou julgavam lembrar-se, de terem visto Bola-de-Neve carregando à frente, na Batalha do Estábulo, de como ele os encorajava e incitava a cada instante, não titubeando um só segundo quando as balas de Jones rasgaram-lhe o dorso. Inicialmente foi difícil entender de que maneira isso combinava com estar do lado de Jones. Até Sansão, que raras vezes fazia perguntas, ficou confuso. Deitou-se, enfiou as patas dianteiras debaixo do corpanzil, fechou os olhos e, com grande esforço, tentou reunir os pensamentos.
- Não acredito - disse. - Bola-de-Neve lutou bravamente na Batalha do Estábulo. Isso eu vi com meus próprios olhos. Pois nós até não lhe demos uma "Herói Animal, Primeira Classe", logo depois? -
- Esse foi o nosso erro, camaradas. Pois agora sabemos, e está tudo escrito nos documentos encontrados que, na realidade, ele tentava conduzir-nos à desgraça.
- Mas ele foi ferido - insistiu Sansão. - Todos o vimos ensangüentado.
- Isso era parte do trato - gritou Garganta.- O tiro de Jones pegou apenas de raspão. Eu poderia mostrar isso a vocês, escrito com a letra dele mesmo, se vocês soubessem ler. A combinação era Bola-de-Neve dar o sinal de retirada no momento crítico e abandonar o terreno ao inimigo. E ele quase conseguiu isso, posso dizer até que teria conseguido, se não fosse o nosso heróico Líder, o Camarada Napoleão. Lembram-se de que, bem no momento em que Jones e seus homens atingiram o pátio, Bola-de-Neve, de repente, virou-se e fugiu, seguido de muitos animais? E não foi nesse exato momento, quando já nos dominava o pânico e tudo parecia perdido, que o Camarada Napoleão surgiu proferindo o brado de "Morte à Humanidade!" e fincou os dentes na perna de Jones? Por certo vocês se lembram disso, não é, camaradas? - exclamou Garganta, dando pulinhos de um lado para outro.
Bem, agora que Garganta descrevera a cena tão vividamente, parecia aos animais que de fato se lembravam. Pelo menos lembravam-se de, no momento crítico da Batalha, Bola-de-Neve voltar-se para fugir. Sansão, porém, ainda permanecia um tanto contrafeito.

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