Capítulo 26

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No outono, após um tremendo e exaustivo esforço, pois a colheita se fizera ao mesmo tempo, o moinho de vento estava concluído. Restava ainda instalar a maquinaria e Whymper andava tratando das compras, mas a estrutura já estava pronta. Contra todas as dificuldades, a despeito da inexperiência, dos implementos primitivos, da falta de sorte e da perfídia de Bola-de-Neve, a obra estava concluída no exato dia marcado! Cansados, mas orgulhosos, os bichos deram voltas e mais voltas em torno de sua obra-prima, que lhes parecia ainda mais linda do que da primeira vez. Além-disso, as paredes tinham agora o dobro da espessura. Exceto explosivos, nada poderia colocá-las abaixo. E ao pensarem nas modificações que suas vidas sofreriam quando as pás estivessem girando e os dínamos em ação - ao pensarem em tudo isso, o cansaço os abandonava e eles saltavam ao redor do moinho de vento, dando gritos de alegria. Napoleão em pessoa, acompanhado dos seus cachorros e do seu garnisé, veio inspecionar o trabalho concluído; congratulou-se com os animais pelo feito e anunciou que o moinho se chamaria "Moinho Napoleão".
Dois dias mais tarde, os animais foram convidados para uma reunião especial no celeiro. E ficaram abobados de surpresa quando Napoleão comunicou ter vendido a madeira a Frederick. No dia seguinte, os caminhões de Frederick chegariam para o carregamento. Durante todo o período de aparente amizade com Pilkington, Napoleão na realidade negociara um acordo secreto com Frederick.
Todas as relações com Foxwood foram cortadas e enviadas a Pilkington mensagens insultuosas. Os pombos receberam ordem de não pousar mais na Granja Pinchfield e mudar o slogan de "Morte a Frederick" para "Morte a Pilkington". Ao mesmo tempo Napoleão assegurou a todos que as histórias sobre o iminente ataque à Granja dos Bichos eram inteiramente falsas e que os boatos a respeito da crueldade de Frederick para com os animais eram muito exagerados. Todos esses boatos eram, provavelmente, coisa de Bola-de-Neve e seus agentes. Parecia, agora, que Bola-de-Neve, na realidade, não estava escondido na Granja Pinchfield; aliás nunca estivera lá, em toda sua vida, vivia (e cercado de muito luxo, sabiam agora) em Foxwood, sendo, além do mais, pensionista de Pilkington há muitos anos.
Os porcos estavam quase em êxtase com a esperteza de Napoleão. Fingindo ser amigo de Pilkington, obrigara Frederick a aumentar seu preço em doze libras. Porém, a qualidade superior da mente de Napoleão, dizia Garganta, estava no fato de não confiar em ninguém, nem mesmo em Frederick. Este quisera pagar a madeira com uma coisa chamada cheque, que era, ao que diziam, um pedaço de papel com uma promessa de pagamento escrita. Mas Napoleão era vivo demais para isso. Exigiu o pagamento em notas autênticas de cinco libras, que deveriam ser entregues antes da retirada da madeira. Frederick já pagara; e a soma era suficiente para comprar a maquinaria do moinho de vento.
A madeira já fora retirada com grande rapidez. Quando todo carregamento estava bem longe, houve outra reunião especial no celeiro, para os bichos examinarem as notas de Frederick. Sorrindo beatificamente e usando suas condecorações, Napoleão recos tara-se numa cama de palha, com o dinheiro a seu lado, cuidadosamente empilhado numa travessa da cozinha da casa-grande. Os animais passavam lentamente em fila e cada um olhava o tempo que quisesse. Sansão espichou o focinho para cheirar as notas e as delicadas coisinhas agitaram-se e farfalharam com sua respiração.
Três dias mais tarde, houve um deus-nos-acuda. Whymper, branco como cera, chegou afobado com sua bicicleta, deixou-a caída no pátio e correu para dentro da casa. Daí a momentos ouviu-se um pavoroso rugido de raiva vindo do apartamento de Napoleão. A notícia do que sucedera espalhou-se pela granja com a rapidez de um raio. As notas eram falsas! Frederick levara a madeira de graça!

A Revolução Dos BichosOnde histórias criam vida. Descubra agora