Capítulo 10

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Há muito isso era esperado, e os preparativos estavam feitos. Bola-de-Neve, que estudara um velho livro sobre as campanhas de Júlio César, encontrado na casa-grande, estava encarregado das operações defensivas. Rapidamente deu suas ordens, e em pouco tempo cada animal estava em seu posto.
Quando os homens chegaram perto das casas, Bola-de-Neve lançou o primeiro ataque. Os pombos, em número de trinta e cinco, voaram por cima dos homens e defecaram no ar sobre eles; enquanto os homens atrapalhavam-se com isso. Os gansos, até então escondidos nas sebes, avançaram e bicaram- lhes as pernas energicamente Mas isso era apenas uma pequena manobra de escaramuça, destinada a criar confusão, e os homens facilmente espantaram os gansos com os bastões Então, Bola-de-Neve lançou sua segunda linha de ataque. Maricota, Benjamim e as ovelhas, com Bola-de-Neve à frente, arremeteram sobre os homens, marrando, mordendo e escoiceando-os por todos os lados. Novamente, porém, os homens com os bastões e os coturnos rústicos foram mais fortes; e de repente, a um guincho de Bola-de-Neve que era o sinal para bater em retirada, todos os bichos volveram a frente e fugiram para dentro do pátio; através do portão.
Os homens soltaram um brado de triunfo. Viram, tal como haviam imaginado, seus inimigos em fuga e lançaram-se no encalço, desordenadamente. Era justamente o que Bola-de-Neve desejava. Tão logo eles entraram no pátio, os três cavalos, as três vacas e o restante dos porcos, que estavam emboscados atrás do estábulo, surgiram-lhes de inopino à retaguarda, cortando a retirada. Bola-de-Neve deu o sinal de carga. Ele próprio correu na direção de Jones. Vendo-o, Jones levantou a arma e atirou. Os projéteis abriram riscos sangrentos no dorso de Bola-de-Neve e uma ovelha caiu morta. Sem titubear um só instante, Bola-de-Neve lançou os seus cem quilos contra as pernas de Jones. O homem foi jogado sobre um monte de esterco, e a arma voou-lhe das mãos. Porém, o espetáculo mais terrível, entre tudo era Sansão, erguendo-se nos posteriores e dando manotaços com seus cascos ferrados, feito um garanhão. Logo ao primeiro golpe atingiu o crânio de um cavalariço de Foxwood, prostrando-o sem vida na lama. Ante isso, vários homens largaram os bastões e tentaram correr. O pânico tomou conta deles, e em poucos momentos os animais os caçavam em volta do pátio. Foram chifrados, batidos, mordidos e atropelados. Não houve bicho da granja que não tirasse desforra, cada um à sua moda. Até o gato, inesperadamente, saltou de um telhado sobre as costas de um peão, cravando-lhe as unhas no pescoço e fazendo o homem dar um berro de dor. Em dado momento, desimpedida a saída, os homens conseguiram fugir do pátio e correram desabaladamente rumo à estrada principal. E assim, poucos minutos após a invasão, batiam em vergonhosa retirada pelo mesmo caminho da vinda, com uma multidão de gansos no seu encalço, bicando-lhes as pernas sem piedade.
Todos os homens haviam fugido, exceto um. No pátio, Sansão empurrava, com a pata, o cavalariço que jazia de bruços na lama, tentando virá-lo. Mas o rapaz não se mexia.
- Está morto - disse Sansão penalizado. Eu não queria fazer isso. Esqueci que estava usando ferraduras. Quem acreditará que não fiz de propósito?
- Nada de sentimentalismos, camarada! - gritou Bola-de-Neve, de cujos ferimentos o sangue jorrava. - Guerra é guerra. Ser humano bom ser humano morto.
- Eu não desejo tirar a vida de quem quer que seja, nem mesmo de um ser humano - repetiu Sansão com os olhos cheios de lágrimas.
- Onde está Mimosa? - perguntou alguém.

A Revolução Dos BichosOnde histórias criam vida. Descubra agora