Capítulo 25

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Todas as ordens, agora, eram transmitidas por meio de Garganta ou de outro porco. Napoleão não era visto em público mais do que uma vez cada quinze dias. E, quando aparecia, era acompanhado, não só pela sua matilha de cães, mas também por um garnisé preto que marchava à sua frente, atuando como arauto, soltando um cocoricó antes de cada fala de Napoleão. Mesmo na casa grande, diziam, ele habitava um apartamento separado dos demais. Fazia as refeições sozinho, com dois cachorros para servi-lo, e comia no serviço de jantar de porcelana da cristaleira da sala. Anunciou-se também que a espingarda seria disparada anualmente na data do aniversário de Napoleão, assim como nos outros dois aniversários. - • -
Agora já não mencionavam Napoleão como "Napoleão" simplesmente. Referiam-se a ele de maneira formal, como "nosso Líder, o Camarada Napoleão", e os porcos gostavam de inventar para ele títulos tais como Pai de Todos os Bichos, Terror da Humanidade, Protetor dos Apriscos, Amigo dos Pintainhos e assim por diante. Garganta, em seus discursos, com lágrimas rolando pelo focinho, falava na sabedoria de Napoleão, na bondade de seu coração, no profundo amor que devotava aos animais de todos os lugares, mesmo - e especialmente - aos infelizes animais que ainda viviam na ignorância e na escravidão, em outras granjas. Tomara-se usual atribuir a Napoleão o crédito de todos os êxitos e de todos os golpes de sorte. Ouvia-se, freqüentemente, uma galinha comentar para outra: "Sob a orientação de nosso Líder, o Camarada Napoleão, pus cinco ovos em seis dias"; ou duas vacas, bebendo juntas no açude, exclamarem: "Graças à liderança do Camarada Napoleão, que gosto bom tem esta água!" O sentimento geral da granja era bem expresso num poema intitulado "O Camarada Napoleão", composto por Mínimo, que era assim:
Amigo dos órfãos!
Fonte da Felicidade! Senhor do balde de lavagem! Oh, minh'alma arde Em fogo quando eu te vejo Assim, calmo e soberano, Como o sol na imensidão, Camarada Napoleão!
Tu és aquele que tudo dá, tudo Quanto as pobres criaturas amam. Barriga cheia duas vezes por dia, palha limpa onde rolar; Todos os bichos, grandes, pequenos, Dormem tranqüilos, enquanto Tu zelas por nós na solidão, Camarada Napoleão! Tivesse eu um leitão e Antes mesmo que atingisse O tamanho de um garrafão ou de um barril Já teria aprendido a ser, eternamente, Um teu fiel e leal seguidor. E o primeiro Guincho que daria meu leitão. seria: "Camarada Napoleão!" Napoleão aprovou esse poema e mandou escrevê-lo no grande celeiro, na parede oposta àquela onde estavam os Sete Mandamentos. Sobre ele foi colocado um retrato de Napoleão de perfil, feito por Garganta.
Enquanto isso, por intermédio de Whymper, Napoleão envolvera-se em negociações complicadíssimas com Frederick e Pilkington. As pilhas de madeira ainda não estavam vendidas. Dentre os dois, Frederick era o mais ansioso por colocar-lhes a mão, mas não oferecia um preço razoável. Ao mesmo tempo circulavam renovados boatos de que Frederick e seus homens estavam planejando atacar a Granja dos Bichos e destruir o moinho de vento, cuja construção lhe causara enorme ciúme. Sabia-se que Bola-de-Neve ainda estava oculto na Granja Pinchfield. Em meio ao verão correu entre os animais a notícia alarmante de que três galinhas se haviam apresentado confessando que, instigadas por Bola- de-Neve, haviam conspirado para assassinar Napoleão. Foram executadas imediatamente e se tomaram novas medidas para a segurança de Napoleão. Quatro cachorros passaram a montar guarda junto à sua cama, durante a noite, um em cada canto, e um jovem porco de nome Rosito recebeu a tarefa de provar a comida, para evitar que ele fosse envenenado.
Mais ou menos por essa época, foi anunciado que Napoleão acertara vender as pilhas de madeira ao Sr. Pilkington; ia assinar também um acordo regular para a troca de certos produtos entre a Granja dos Bichos e Foxwood. As relações entre Napoleão e Pilkington, embora mantidas apenas por intermédio de Whymper, eram agora quase amistosas. Os bichos não confiavam em Pilkington, ser humano que era, mas preferiam-no a Frederick, a quem tanto temiam quanto odiavam. Com o passar do verão e estando o moinho de vento perto da conclusão, os boatos de um iminente e traiçoeiro ataque tornavam- se cada vez mais fortes. Frederick, dizia-se, tencionava trazer contra eles vinte homens armados de espingardas e já subornara os magistrados e a polícia, de forma que, se conseguissem colocar as mãos nas escrituras de propriedade da Granja dos Bichos, não surgisse problema algum. Além disso, filtravam-se de Pinchfield terríveis histórias a respeito das barbaridades a que Frederick submetia seus animais. Havia chicoteado um cavalo velho até liquidá-lo, matava as vacas de fome, assassinara um cachorro jogando-o numa fornalha, divertia-se de noite assistindo a brigas de galos, em cujas esporas colocava pedaços de lâminas de barbear. O sangue dos animais fervia de ódio quando ouviam contar o que se fazia contra seus camaradas e, às vezes, alguns pediam que lhes fosse permitido sair para atacar Pinchfield, expulsar os humanos e libertar os bichos. Porém, Garganta aconselhava-os a evitar essas atitudes violentas e a confiar na estratégia do Camarada Napoleão. -
Não obstante, crescia o sentimento de ódio com relação a Frederick. Certo domingo de manhã, Napoleão apareceu no celeiro e declarou que jamais, em tempo algum, admitiria vender as pilhas de madeira a Frederick; considerava abaixo de sua dignidade, disse, fazer negócios com patifes daquela espécie. Os pombos, que continuavam a espalhar as mensagens da Revolução, foram proibidos de pôr os pés em qualquer ponto de Foxwood e receberam ordem de modificar seu slogan de "Morte à Humanidade" para "Morte a Frederick". Entrementes, no fim do verão, foi revelada outra das maquinações de Bola-de-Neve. A lavoura de trigo estava cheia de joio e descobriu-se que Bola-de- Neve havia misturado sementes de joio às do trigo. Um ganso que tomara parte no feito confessou sua culpa a Garganta e suicidou-se comendo frutinhas de erva-moura. Os animais ficaram sabendo também que Bola-de-Neve jamais havia recebido, como pensavam muitos até então, a comenda de "Herói Animal, Primeira Classe". Era apenas uma lenda, criada algum tempo depois da Batalha do Estábulo pelo próprio Bola-de-Neve. Muito ao contrário, em vez de condecorado, ele for a repreendido por demonstrar covardia durante a batalha. Novamente, alguns bichos ouviram isso com perplexidade, mas Garganta conseguiu convencê-los de que fora um lapso de suas memórias. . .

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