Capítulo 18

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Os animais tranqüilizaram-no a esse respeito e não se falou mais no fato de os porcos dormirem nas camas da casa. E quando se anunciou, alguns dias depois, que os porcos passariam a levantar-se, de manhã, uma hora mais tarde do que os outros bichos, ninguém se queixou disso também.
Ao chegar o outono, os animais andavam cansados, mas felizes. Haviam tido um ano difícil, e após a venda de uma parte da safra de feno e de trigo, os estoques para o inverno não eram lá muito abundantes, mas o moinho de vento compensava tudo. Já estava quase pela metade. Após a colheita houve um período de tempo bom e os bichos trabalharam mais do que nunca, satisfeitos com a tarefa de andarem para lá e para cá puxando blocos de pedras, desde que com isso conseguissem fazer a parede subir mais alguns centímetros. Sansão chegava a trabalhar de noite, uma hora ou duas, por sua conta, à luz da lua. Nas horas de folga os animais passeavam em volta do moinho inacabado; admirando a solidez e a verticalidade de suas paredes, maravilhados com o fato de terem sido capazes de construir algo tão imponente. Somente o velho Benjamim se recusava a entusiasmar-se com o moinho de vento, embora, como sempre, não fizesse outro comentário além do enigma de que os burros vivem muito tempo.
Novembro chegou, com fortes ventos de sudoeste. Foi preciso interromper a construção, pois o tempo estava úmido demais para a mistura de cimento. Finalmente, houve uma noite em que a tormenta foi tão forte que os galpões da granja tremeram na base e várias telhas do celeiro foram arrancadas. As galinhas acordaram cacarejando aterrorizadas, pois haviam sonhado, todas ao mesmo tempo, com o barulho de um tiro a distância. Pela manhã, ao saírem os animais de suas baias, deram com o mastro caído no chão e viram o olmeiro do pomar desgalhado como se fosse um rabanete. Mal haviam notado isso quando soltaram um grito lancinante de desespero. Visão terrível se apresentava aos seus olhos: o moinho de vento estava em ruínas.
Correram todos para o local. Napoleão, que raras vezes abandonava seu passo normal à frente de todos, correu também. Sim, ali estava o moinho, o fruto de todas as suas lutas, rebaixado ao nível dos alicerces; e as pedras, que tão laboriosamente haviam levantado, espalhadas pelas redondezas. Impossível falar, de início; ali ficaram olhando tristemente à desordem das pedras caídas. Napoleão andava 1entamente de um lado para outro, em silêncio, ocasionalmente farejando o chão, aqui e ali. Seu rabicho se esticava e se sacudia energicamente, para lá e para cá, num sinal de febril atividade mental. De repente estacou, como se tivesse chegado a uma conclusão.
- Camaradas - disse lentamente -, quem é o responsável por isto? Sabem quem foi o inimigo que, na calada da noite, destruiu nosso moinho de vento? BOLA-DE-NEVE! - rugiu violentamente com voz de trovão. - Bola-de-Neve foi o autor disto! Com rematada maldade, pensando em destruir nossos planos e vingar-se de sua ignominiosa expulsão, esse traidor penetrou até aqui, sob o manto da escuridão, e destruiu nosso labor de quase um ano. Camaradas, neste local e neste momento, pronuncio a sentença de morte para Bola-de-Neve. Uma "Herói Animal, Segunda Classe" e meio balde de maçãs ao animal que lhe fizer justiça. Um balde inteiro a quem o capturar vivo!
Os animais ficaram chocadíssimos ao saberem que mesmo Bola-de-Neve fosse capaz de uma coisa daquela. Subiu ao céu um brado de indignação e cada um pôs-se a pensar num modo de apanhar Bola- de-Neve, se algum dia ousasse voltar. Quase ao mesmo tempo, descobriram-se as pegadas de um porco a pequena distância da colina. Embora marcassem apenas alguns metros, pareciam dirigir-se a um buraco da sebe. Napoleão cheirou-as profundamente e declarou serem de Bola-de-Neve. Na sua opinião, Bola-de-Neve provavelmente viera da Granja de Foxwood. - Não percamos tempo, camaradas! - bradou Napoleão, depois de examinar detidamente as pegadas. - Temos muito trabalho pela frente. Hoje mesmo, de manhã, recomeçamos a construção do moinho de vento e trabalharemos por todo o inverno, com sol ou com chuva. Mostraremos a esse traidor miserável que ele não pode desfazer nosso traba1ho assim tão facilmente. Lembrem-se, camaradas, não deve haver modificações em nossos planos: serão cumpridas à risca. Para a frente, camaradas! Viva o moinho de vento! Viva a Granja dos Bichos!

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