Capítulo 17

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Todas as segundas-feiras o Sr. Whymper visitava a granja, conforme o combinado. Era um homenzinho finório, de suíças crescidas, procurador de pouca clientela porém suficientemente vivo para perceber, antes de qualquer outro, que a Granja dos Bichos precisaria de um representante e que as comissões seriam polpudas. Os bichos olhavam suas idas e vindas com um certo receio e evitavam-no tanto quanto possível. Apesar disso, ver Napoleão, de quatro, dando ordens a Whymper, que permanecia em pé sobre duas patas, era uma coisa que, lhes acariciava o orgulho e parcialmente os reconciliava com a nova situação. As relações com o gênero humano andavam bem diferentes. Os humanos não odiavam menos a Granja dos Bichos, agora que ela prosperava; na realidade, odiavam-na mais do que nunca. Todo ser humano tinha como questão de fé que a granja iria à bancarrota mais cedo ou mais tarde e, sobretudo, que o moinho de vento seria um fracasso. Reuniam-se nas estalagens e provavam uns aos outros, por meio de gráficos e diagramas, que o moinho estava fadado a desabar e, caso se mantivesse erguido, jamais funcionaria. Não obstante, mesmo contra a vontade, haviam criado um certo respeito pela eficiência com que os bichos conduziam os seus assuntos. Sintoma disso foi o fato de começarem a chamar o sítio de Granja dos Bichos, abandonando a pretensão de continuarem a chamá-la Granja do Solar. Haviam também acabado com o cartaz de Jones, que perdera toda esperança de reaver sua granja e fora viver noutro lugar. Até agora, exceto por intermédio de Whymper, nenhum contato houvera entre a Granja dos Bichos e o mundo exterior, mas já circulavam insistentes boatos de que Napoleão estava por chegar a um decisivo acordo de negócios, ora com Pilkington, de Foxwood, ora com Frederick, de Pinchfield - mas nunca, interessante, com ambos, simultaneamente.
Foi mais ou menos por essa época que os porcos, de repente, mudaram-se para a casa-grande, onde fixaram residência. Novamente os bichos julgaram lembrar-se de que havia uma resolução contra isso, aprovada nos primeiros dias, e novamente Garganta conseguiu convencê-los do contrário. Era absolutamente necessário que os porcos, disse ele, sendo os cérebros da granja, tivessem um lugar calmo onde trabalhar. Além disso, viver numa casa era mais adequado à dignidade do Líder (nos últimos tempos dera para referir-se a Napoleão pelo título de "Líder") do que viver numa simples pocilga. Mesmo assim, alguns animais se aborreceram ao ouvir dizer que os porcos não só faziam as refeições na cozinha e utilizavam a sala como local de recreação, mas ainda dormiam nas camas. Sansão resolveu o assunto com seu "Napoleão tem sempre razão", porém Quitéria, que tinha a impressão de lembrar-se de uma lei específica contra camas, foi até o fundo do celeiro e tentou decifrar os Sete Mandamentos que lá estavam escritos. Sentindo-se incapaz de ler mais do que algumas letras separadamente, foi chamar Maricota.
- Maricota - pediu ela - leia para mim por favor, o Quarto Mandamento. Não diz qualquer coisa a respeito de nunca dormir em camas?
Com alguma dificuldade, Maricota soletrou o mandamento:
- Diz que "Nenhum animal dormirá em cama com lençóis".
Interessante, Quitéria não se recordava dessa menção a lençóis, no Quarto Mandamento. Mas, se estava escrito na parede, devia haver. E Garganta que por acaso passava nesse momento, acompanhado de dois cachorros, colocou todo o assunto na perspectiva adequada.
- Com que então vocês, camaradas, ouviram dizer que nós, os porcos, agora dormimos nas camas da casa? E por que não? Vocês não supunham, por certo, que houvesse uma lei contra camas, não é? A cama é meramente o lugar onde se dorme. Vendo bem, um monte de palha no estábulo é uma cama. A lei era contra os lençóis, que são uma invenção humana. Nós retiramos os lençóis das camas da casa e dormimos entre cobertores. Confortáveis, lá isso são! Porém não mais do que necessitamos, posso afirmar-lhes, camaradas, com todo o trabalho intelectual que atualmente recai sobre nós. Vocês não seriam capazes de negar-nos o repouso, camaradas, seriam? Vocês não desejariam ver-nos tão cansados que não pudéssemos cumprir nossa missão, não? Será que alguém quer Jones de volta?

A Revolução Dos BichosOnde histórias criam vida. Descubra agora