Acordei com o sol em meu rosto novamente depois de uma mais uma noite de pesadelos e agonia. Algo me atraía até a janela, mas tem dias que não sinto vontade de olhar o mundo do lado de fora, onde famílias passeiam alegremente no parque, crianças felizes com seus pais e até com seus bichos de estimação, a velha carroça de cachorro quente sempre está lá e eu aqui tão perto e tão longe. Já tentei gritar, balançar os braços e até joguei alguns objetos pela janela, mas ninguém nem olha para cá.
Olho mais uma vez para o pequeno quarto hospitalar onde me encontro, tudo nele é excessivamente branco, tão branco que parece que estou no pólo norte, tem um minúsculo banheiro e uma pequena televisão que fica em um suporte bem no alto da parede. Algum sádico levou o controle remoto e não dá para trocar de canal.
Desde que acordei ninguém veio me ver, a porta do quarto está sempre trancada. Não tenho notícias da minha família, não agüento mais ficar enfurnada neste paraíso ao avesso.
Olho novamente para o parque que fica bem em frente ao prédio onde estou e subo na janela, um pensamento tentador invade a minha mente. Olho para baixo e me imagino caindo, vejo um rapaz me olhando, posso simplificar seu olhar em uma única palavra, pânico. Ele começa a fazer sinais para mim, parece estar gritando, mas não consigo entendê-lo.
Apenas uma leve inclinada para frente e poderei ouvi-lo melhor... Sinto meu corpo vacilar em direção ao abismo. Fechei meus olhos... Mas ao invés de uma queda, sinto um forte puxão atrás de mim e caio em meu quarto novamente.
— Você quase caiu! O que estava fazendo na janela Camille? — Gritava um homem que eu nunca tinha visto, usava um jaleco branco e um estetoscópio em volta do pescoço, um perfeito estereótipo de um médico. Ele era alto, tinha o cabelo meio preto meio grisalho e estava com a barba por fazer.
— Calma! Quem é você? — Perguntei tentado acalmá-lo com as palmas das mãos direcionadas para ele.
— Eu sou o seu médico, meu nome é Gabriel! O que estava fazendo Camille? Estava querendo jogar a sua vida fora? — Ele falava comigo carinhosamente agora enquanto pousava sua mão em meu ombro.
— Eu estava em pânico! Não sabia onde estava, o que aconteceu comigo ou com minha família e estava trancada aqui sei lá por quanto tempo. Gritei e ninguém me ouviu, bati na porta e ninguém abriu...
— Camille... — Agora era ele que me acalmava, me indicando um sofá de dois lugares que só agora eu percebi — Sente-se, por favor! Não sou muito bom com as palavras então vou contar-lhe tudo do meu jeito. Ok?
— OK! – Assenti.
— Você e sua família sofreram um acidente de carro! Fique tranquila, sua família está bem!
— Graças a Deus! — Eu gritei!
— Mas você sofreu graves lesões e precisou ser internada neste hospital. Fizemos tudo que estava em nosso alcance. Camille... — O médico segurou em minhas mãos e olhou em meus olhos, pude ver a sinceridade em seus olhos castanhos claros como podia ver o céu — Você esteve seis anos em coma.
— Meu Deus! — gritei Nervosa!
— Venha aqui! — Ele me direcionou até o espelho e pude ver uma mulher estranha. Essa não era eu — Quem é essa mulher doutor?
— Essa é você Camille! Agora, segundo minhas informações você deve ter dezessete anos.
Olhei mais atentamente para aquela figura no espelho, era uma mulher linda, meus cabelos castanhos eram os mesmos embora mal cuidados, eu parecia minha mãe.
— E onde estão os meus pais? Eu posso ir vê-los? Quando saio daqui?
— Calma, hehe! Uma pergunta de cada vez! Você vai precisar ficar aqui até terminarmos de tratá-la, seus pais virão visitá-la e quando chegar a hora poderá ir.
Eu deixei-me cair no chão, de joelhos e pondo minhas mãos no rosto eu chorei, chorei por muito tempo. Até pensei que o doutor tinha ido embora, mas ele me acalmou mais uma vez, me deitou na cama e me deu um comprimido estranho, parecia ter um brilho dourado saindo dele. Será que colocam purpurina nos remédios agora?
Pude pela primeira vez, agora ciente de tudo, observar melhor o quarto, admirar as cortinas de muito bom gosto, uma mancha escura perto da porta, o azulejo do banheiro e seus detalhes era lindo e minha cama tinha um encosto ajustável!
— Vou deixar a porta aberta, mas não quero você perambulando por aí até eu te liberar — Ele me olhava sério enquanto dava a advertência.
— Claro! — Menti.
— Tem mais uma coisa que posso fazer por você Camille?
— Poderia me trazer o controle remoto da televisão? — Eu ri e pude ver uma certa felicidade no doutor.
— Certo! Mas antes vou trancar esta janela. Está proibida de tentar pular! OK?
— Ok! Doutor Gabriel.
Seis anos? Não consigo me lembrar de nada. Como será que estão meus pais e meu irmãozinho? O que aconteceu com o Mundo nesse tempo?
Acho que terei que descobrir por mim mesma.
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Pessoal, esta é a minha nova história! Espero que possam me ajudar com comentários votos e muita crítica! Também espero que possam se divertir tentando decifrar os mistérios de Camille Antes de Acordar.
Um forte abraço e até o próximo capítulo!
Fábio Vera Cruz
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Antes de Acordar
Bí ẩn / Giật gânO que você faria se acordasse em um lugar totalmente estranho, sem nenhuma pessoa conhecida, sem respostas do que aconteceu com você ou com sua família? A última memória de Camille Williams era a de estar a caminho de um passeio com sua família, ma...