— O que você disse? — Olhei para a Monique com raiva. Como ela pode falar uma coisa dessas?
— Aquele senhor já está sendo encaminhado. Veja só! — Ela apontou para o parque.
Mesmo sem pensar se a janela estava aberta ou fechada eu saltei como nunca em minha vida, ao contrário do que imaginava eu não caía rapidamente e simplesmente flutuava a caminho do chão. Acho que demorei uns vinte segundos para chegar ao solo vinda do quinto andar. Eu queria correr mais rápido, mas cada passo que eu dava ficava dois mais longe. Depois de um tempo eu vi feixe de luz sair do chão em direção aos céus.
Eu não precisava ir até lá conferir para saber que não precisava mais manter a minha perseguição infantil. Nada do que eu fizesse o traria de volta.
Antes mesmo que eu pudesse voltar ao hospital, fiquei pasma com a visão do que parecia uma manada de monstros vindo em minha direção, cambaleei para o lado a tempo de não ser pisoteada. Eram centenas deles, assustadores e tinham mais do que o dobro da minha altura. O chão tremia e eu agachada na grama era um alvo fácil para qualquer um deles. A princípio eu pensei que estaria a salvo, pois todos estavam com muita pressa em suas correrias, mas o último e maior de todos vinha lentamente na minha direção. Tentei me levantar, mas já era tarde demais, pensei em gritar, mas quem me ouviria nesse momento?
Olhei para a sua feição grotesca, ao caminhar, uma gosma saía do seu corpo e engordurava todo o chão, seus olhos vagos não tinham íris, mas a sua atenção estava centrada em mim. Logo se abaixou e abriu a boca com a clara intenção de arrancar o maior pedaço possível de uma só vez. Eu já tinha aceitado o meu fim quando uma sombra bateu no monstro com uma violência que eu nunca vi, fazendo com que a criatura tombasse para trás. Isso de uma certa forma me tirou do transe e danei a correr, ainda pude ver de soslaio a Monique batendo no monstro sem dó antes de finalmente entrar na recepção do hospital.
No meu desespero atravessei paredes e até cheguei a ser percebida por algumas pessoas enquanto rumava para o meu quarto. Enquanto eu corria também pensava que agora eu não tenho mais uma cama, assim que cheguei podia ver o meu corpo cheio de tubos e sensores. Era eu ali e ao mesmo tempo não era.
No instante seguinte da minha chegada, a Monique saltava janela adentro.
— Menina! Se você quer morrer me fala que eu darei um jeito em segundos.
— Você está bem?
— Ah! Apesar daquele cara ser forte eu sou muito mais velha e cruel do que ele.
— Fiquei feliz por você ter me ajudado e não ter se ferido. Onde foi o avô daquele garoto?
— Aquele moleque que vinha direto ao hospital? Eu tenho certeza absoluta que ele podia me ver. Eu também não sei Camille! Você acredita em céu? Pode ser que ele tenha ido para lá. Eu não posso vê-los.
— Eu acredito. O doutor Gabriel...
— Esqueça! Ele não é o "Anjo Gabriel". Apenas alguém gosta de ajudar as pessoas, mas não tem o poder necessário. Eu detesto gente fraca que acha que irá mudar o mundo.
— Como ele...? — Eu ia perguntar mais alguma coisa quando a Monique transformou-se em sombras e saiu..
— Eu não te devo explicações garota ignorante — A voz dela ainda era audível mesmo quando ela já estava bem longe.
Logo decidi perambular por aí me passando pelo fantasma do hospital. Logo desisti por que muita gente conseguia me ver e era constrangedor entrar nos quartos alheios. Assim que eu decidi entrar em mais um cômodo que eu via muitas pessoas entrarem, dei de cara com a Bia.
— Venha comigo! — Ela disse asperamente e partiu velozmente por meio dos corredores sem fim até pararmos em frente a uma sala fechada. Um homem andava em círculos enquanto aguardava ansiosamente o resultado da cirurgia que ocorria lá dentro
— Você é médica? Me diz o que está acontecendo. Estou ficando louco aqui. — O homem apertava as mãos da Bia e tremia um pouco.
— Você precisa se acalmar! Tome este remédio aqui. Todos os dias eu te trarei um desses. Ok? — Eu logo percebi que se tratava do mesmo remédio que eu tomava, um comprimido dourado e brilhante. O homem o engoliu de uma só vez e sem água — Logo você estará bem. Se quiser perguntar qualquer coisa esta mocinha aqui ao meu lado poderá te ajudar.
— Que moça? Não vejo ninguém.
— Ora! Eu já estou vendo coisas. Aguarde aqui que eu logo o levarei ao seu quarto — Ela agora caminhou na direção oposta e fez um sinal com a cabeça para que eu continuasse a segui-la.
Não fomos muito longe, acho que apenas o suficiente para aquele homem não nos ouvir.
— Você sabe por que eu te trouxe aqui Camille?
— Não! Você precisa que eu a ajude?
— Eu preciso que você fique em seu quarto e não saia mais. Aquele homem logo irá conseguir acordar. No momento está no mesmo processo que você, porém no caso dele é algo momentâneo.
— Então porque ele não podia me ver? Eu achei que ele um humano e não um fantasma como eu.
— Primeiro Camille, você não é um fantasma. O seu caso é especial. Existe um fino fio que a liga ao seu corpo. Você não está morta, você não está viva também. Ele não pode te ver, pois vocês não estão na mesma freqüência, você está se envolvendo muito com esses seres ruins e está assimilando um pouco deles. Isso não a transformará num deles, mas pode atrasar ainda mais o seu despertar. Volte para o quarto e fique lá dentro.
Eu sempre detestei levar bronca dos meus pais ou dos meus professores, mas essa Bia era muito mais chata do que todos eles juntos. Acabei voltando para o quarto e fui dormir no sofá, pensativa.
Quando será que poderei ver meus pais novamente?
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Antes de Acordar
Mystery / ThrillerO que você faria se acordasse em um lugar totalmente estranho, sem nenhuma pessoa conhecida, sem respostas do que aconteceu com você ou com sua família? A última memória de Camille Williams era a de estar a caminho de um passeio com sua família, ma...