Tentativa e Erro

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JOHN


Empresas Tottman 

— Você fez o quê? — Meu pai, Robert Tottman, gritou comigo tão alto que todos no escritório viraram para ver se estava tudo bem — Mais uma vez, o que você fez John?

— Pai, eu pedi uma ajuda ao advogado da empresa para ajudar uma amiga minha.

— Aquela amiga que você conheceu nos sonhos? Aquela que está em coma a sei lá quanto tempo? Filho, você não pode gastar os recursos da empresa dessa forma. Precisa aprender sobre os negócios algum dia. Você sabe como vou parecer louco ao explicar isso se algum sócio perguntar.

— Pai, não seja dramático! Foi só um advogado. Ele conseguiu adiar o desligamento dos aparelhos do hospital, mas...

— Mas?

— Não por muito tempo. Precisamos mudar ela de hospital.

— Não precisamos nada. John, não vou te ajudar nessa loucura. Vou falar com o Henrique para não fazer mais nada que você pedir. Ouviu bem? Esqueça essa garota.

— Pai, uma vez o senhor me disse que eu precisava sempre seguir a minha intuição e é isso que farei. Se você não vai me ajudar, eu farei de outra forma.

— A sua mãe também não fará nada, eu já conversei com ela.

— Como você pôde fazer isso? Vai deixar a Camille morrer só para me aplicar uma lição?

— Não filho. Não farei nada porque não há o que fazer. O quanto antes você se der conta que está indo em uma direção sem sentido, melhor. Se quer continuar, continue, mas sem os meus recursos ou os da empresa.

Eu sabia que meu pai iria fazer uma drama por causa da Camille, mas nunca pensei que me negaria um favor logo quando eu mais preciso. Será que ele está certo e tudo não passou de uma ilusão? Não podia ser, tenho conversado com ela todos os dias nos sonhos, dividimos nossos sonhos, como um dia iremos dar a volta ao Mundo à bordo de um Veleiro e ela sonha em ser uma artista como a mãe. Eu sabia que não eram apenas sonhos, tinha que ser real.

Saí do escritório das empresas Tottman que ficava no décimo oitavo andar do edifício Royal, como sempre apertei os três botões para chamar os elevadores, aquele que chegasse primeiro seria o premiado. Como de costume o mais rápido era o do meio, dentro do elevador estava uma mulher com a aparência muito estranha, ela usava roupas pretas e sua pele era muito branca como se tivesse passado um pó no rosto. Eu já ia desistir de entrar quando ela segurou as portas e falou — Vai descer?

— Sim, vou descer! Obrigado por segurá-las.

— Então moleque, não me reconhece? Claro que não, estou diferente da última vez que nos vimos.

— Quem é você? — Tentei sair do elevador, mas já era tarde demais — O que você quer?

— Calma! Quero te ajudar. Peguei esse corpo emprestado só para vir falar com você. Se quer ajudar a Camille investigue o hospital.

— Como assim? Quem é você? Como sabe disso?

— Pirralho, não temos muito tempo. Pare de se mijar de medo e escute!

— O meu advogado tentou, mas pela nova lei eles podem desligar os aparelhos se não houver um investimento.

— Não é isso que eu quis falar, eles facilitam as mortes para vender os órgãos. Investigue!

— Como assim? Será que fizeram isso com o meu avô também? Você precisa me contar, pelo amor de Deus!

— Eu te conheço garoto? Onde eu estou? — De alguma forma a mulher na minha frente transformou-se. Não estava mais tão pálida e com certeza era uma pessoa totalmente diferente daquela com quem conversei há poucos segundos.

Depois que eu expliquei para a mulher exatamente onde ela estava, fui para casa. Eu precisava pegar toda as minhas economias para pagar um detetive particular e um novo advogado. A minha mãe já esperava por mim na entrada.

— Mãe, eu posso explicar. Meu pai... — Ela colocou o dedo na boca e pediu silêncio.

— John, eu vou te ajudar, eu não preciso acreditar na sua história, mas se é algo que você busca com tanta vontade vou te dar algum dinheiro. Inclusive aqui está o cartão de um ótimo detetive, ele foi um colega na época da escola. Tenho certeza que ele fará o que puder para ajudá-lo e com desconto.

— Muito obrigado mãe! Vou agora mesmo ligar para ele.

— Filho, vai tomar um banho e descansar. Faça isso amanhã cedo. Não adianta tentar forçar-se demais.

— Eu entendo mãe. Obrigado por ajudar. Não conta para o meu pai, por favor.

— Será um segredo nosso.

Fiz exatamente o que ela me pediu, eu nem tinha visto o horário em que cheguei em casa, mas com certeza não era tão tarde assim, mas eu precisava pensar no que tinha acontecido hoje naquele elevador. Não poderia ter sido algo da minha imaginação, com certeza aquela mulher era um daqueles seres medonhos que circulavam no hospital quando eu fui na última vez, a sensação que eu tive foi idêntica.

Logo eu estava deitado em minha cama, dormi rapidamente, precisava vê-la novamente. Nos sonhos eu corria pelos corredores e mesmo sem ver a numeração das portas eu já sabia o caminho.

— John! Você veio? — Dessa vez ela estava deitada em sua cama, dava para notar a tristeza em seu olhar.

— Claro que sim! Tenho novidades.

— Não suma! Você é o único que consegue ouvir no momento.

— Eu descobri que este hospital facilita a morte das pessoas para vender órgãos no mercado negro. Agora eu só preciso provar para conseguir tirar você daí.

— O doutor Gabriel nunca faria parte disso.

— Pode ser, mas eu recebi a informação de um dos vampiros do hospital. Ela incorporou em outra pessoa e veio até mim na empresa do meu pai.

— Só pode ser coisa da Monique, ninguém mais faria algo desse tipo por mim. Ela deve ter gastado muita energia.

— Você tem visto ela?

— Eu não consigo mais falar com ninguém, passo a maior parte do tempo dormindo. Eu tenho medo de...

— Você não vai morrer, não vou deixar desligarem os aparelhos.

— Não é isso! Acho que não me resta muito tempo. Até mais John!

Acordei no meio da madrugada, peguei o cartão do detetive e liguei. Eu não podia mais perder tempo.

Antes de AcordarOnde histórias criam vida. Descubra agora