Caminho sem volta

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Acordei sentindo-me tonta, o quarto girava e uma dor no estômago parecia pulsar. Ao meu lado uma fumaça escura parecia aguardar que eu acordasse.

— Oi Monique! — Enfim consegui falar

— Você está péssima! Eu suguei o veneno que estava em você. Era muito difícil de perceber.

— Obrigada! Eu ainda não consigo levantar.

— Talvez demore um tempo para se recuperar por completo. Camille, você não está segura nesse lugar e o Gabriel não pode protegê-la.

— Está tudo bem. Acho que meus pais desistiram de mim

— Isso não é possível! Vou pessoalmente falar com eles.

— Não faça isso! Eles só iriam ficar assustados e não acreditariam em você. Você não pode mais gastar a sua preciosa energia comigo.

— Você é muito burra garota! Está morrendo. Você tentou algo que sabia desde o início que não era possível. Eu nunca vou mudar

— Você já mudou e não se deu conta ainda.

— Deixa eu te contar uma coisa. Fiz um acordo com o hospital, temos prioridade em sugar a vida de qualquer um que quisermos e em troca outros monstros não podem entrar aqui. Desde o início ajudo eles a matarem pessoas para venderem seus órgãos sei lá para quem.

— Eu sei!

— Aquele tampinha tomou coragem e falou com você né?

— Ele veio me ver em sonhos. Era a única pessoa que eu conseguia contactar.

— Ele te contou que irão desligar os seus aparelhos semana que vem? — Eu a olhei em choque, incrédula. Talvez tenha sido essa informação que o doutor Gabriel deu aos meus pais — Pelo visto ele não era tão corajoso assim.

— Isso é verdade?

— Eu posso ser cruel e sanguinária, mas não sou mentirosa.

— Obrigada por me falar! — Sorri.

— Sua idiota! Porque está feliz? Você não pode desistir. Entendeu? Aquele pirralho vai fazer algo para te ajudar. Eu sei disso.

— Está tudo bem! Estou feliz por você estar aqui ao meu lado. Eu sei que fez tudo o que podia.

— Eu não posso perder a minha irmã novamente.

— Você não irá perder. Um dia poderemos todos velejar ao redor do mundo, o John me disse que é o sonho dele. Eu posso pintar as lindas paisagens que virmos por aí e você... Você pode pestanejar e aprontar das suas como sempre.

— Você ainda é só uma criança. Gosta mesmo desse John?

— Vocês dois são os meus melhores amigos. Quem mais eu levaria numa viagem dessas? Talvez o meu irmão Albert.

— Não pode sair por aí prometendo coisas se não pretende cumprir.

— É uma promessa! — Vi a fumaça ir em direção à porta — Aonde você vai?

— Preciso de ar puro.

— Pra quê? Você nem respira.

— Preciso de tempo. Ok? É bom ver você bem novamente.

— Também é bom quase te ver novamente, senhora fumaça negra.

Ao sair ainda pude ouvir ela dizer — Ela está acordada e falante — Em seguida o doutor Gabriel entrou no quarto, seu rosto estava triste e as olheiras escondiam seus olhos que não tinham mais aquele brilho de antes.

— Camille, vamos descobrir quem tentou te fazer mal

— Não precisa doutor. De qualquer forma não vou durar mais de uma semana. Não é?

— Ela te contou? Sabia que não dava para confiar...

— Ela me ajudou, tirou o veneno.

— Eu sei! Talvez haja um ser humano dentro daquele monstro.

— Ela é gentil por dentro. Agora tem uma coisa que estou louca para falar com você e não consegui por dias.

— E o que seria?

— Aonde colocaram o controle remoto da televisão?Preciso ver os meus desenhos ou ficarei louca — Finalmente pude ver o esboço deum sorriso no doutor, se eu tenho só esse tempo de vida não quero que seja melamentando.     

Antes de AcordarOnde histórias criam vida. Descubra agora