Capítulo 19: Amor platónico

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A fotografia a cima é da Eduarda Queirós (14 anos).

No capítulo anterior:

A pior coisa é quando você vai dormir pra não pensar na pessoa e acaba sonhando com ela. Foi o que aconteceu comigo. Acordei assustada e agradeci a Deus por ter sido apenas um sonho. Sonhei que eu estava com o Gabriel, abraçada a ele, do jeito que gostaria de estar agora, mas ai do nada nós nos separávamos, ou melhor, foi como se rasgassem uma folha ao meio e cada um fosse pra um lado, foi o que aconteceu.

Minha mãe não estava em casa, sai do quarto, peguei algo pra comer e voltei pro meu lar da depressão. Liguei a tv e fiquei assistindo enquanto comia. Fez o tempo passar um pouco mais rápido. Ou talvez não. Peguei o celular e tinha mensagem da Ju, Ceci, Duda, mas nada do Gabriel. Desde a sexta-feira do então acontecido ele não tinha falado comigo. Eu devia falar com ele? Talvez, mas tenho algo chamado orgulho que é maior que qualquer coisa que sinto. Aliás, ele não tinha porque estar mal, eu tinha, então era obrigação dele pelo menos perguntar como eu estava. Mas ele não fez isso e talvez, foi mais um motivo para que eu sofresse mais. Complicado. Anoiteceu, já estava na hora da janta, eu sentia fome mas ninguém veio me chamar para jantar. Exceto Analu, que entrou no meu quarto dizendo que a janta estava pronta. Mas claro que eu não ia me juntar à mesa com eles e fingir que estava tudo bem quando na verdade não estava. Eu sou forte, mas nem tanto, não ia rolar. Quando vi que eles já tinham ido dormir, por volta das onze/meia-noite, sai do quarto e fui por a minha janta. Já estava surtando de tanta fome, mas a partir de agora meu estômago vai ter que se acostumar com isso. Sentei a mesa, sozinha, liguei a tv e fiquei olhando tentando me distrair enquanto jantava, sozinha. Talvez essa fosse a palavra. Sozinha, só, solidão. Era como eu estava, ou como me sentia. Eu devia estar com muita fome mesmo, porque olha, terminei de comer em menos de dez minutos. Tomei um banho rápido e lavador de alma, escovei os dentes e deitei sobre minha cama. Foi inevitável não chorar mais um pouco. Não sei como tinha isso tudo de lágrimas dentro de mim, porque nossa!

—Giovana! Olha a hora.

Uma voz nenhum pouco agradável tomou meus ouvidos logo de manhã, acordei com esse grito. Minha mãe já tinha saído do meu quarto, merda, eu havia perdido a hora. Levantei da cama em um pulo, peguei meu uniforme e fui pro banheiro. Tomei o banho mais rápido da vida, me vesti e escovei os dentes. Minha mãe já tinha ido, fiquei mais à vontade, digamos assim. Passei um pouco de pó de arroz só pra esconder as olheiras e bufei. Hoje ainda era terça-feira, que droga. Peguei minha mochila no quarto, passei um pouco do meu perfume e sai. Caminhei na maior lerdeza, eu não tinha pressa pra chegar na escola. Quer dizer, eu devia ter pois estava perdendo aula, mas só de pensar em ter que encontrar todo mundo de novo eu não aguentava. Depois de longos minutos caminhando finalmente entrei na escola, sentei em um dos bancos e fiquei assistindo a televisão que tinha ali. Estava passando desenho. Eu não estava prestando atenção, só estava olhando. Minha cabeça estava longe, o que já é normal ultimamente. O sinal tocou e eu entrei na sala, minhas amigas me olharam estranho, mas ninguém disse nada. Sentei na última cadeira e encostei minha cabeça na parede. De novo não prestei atenção em porcaria de aula nenhuma, se continuar assim ainda repito de ano. Merda!

—Gi? Vai ficar ai? —Ju perguntou. Já tinha tocado o sinal do intervalo e eu ainda estava pensando na vida.

—Oi, não. Vamos sair.

Me despertei do mundo paralelo e me preparei pra enfrentar todo mundo. Sai de sala com as meninas e fomos as quatro sentar no pátio, como de costume.

—Giovana, para com essa cara, olha só quem tá ali e tá mais lindo que o normal hoje. —Eduarda disse enquanto olhava Ricardo passar. Eu dei risada, meu amor platónico realmente estava um gato hoje.

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