Alma Borrada

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Mesmo com a dor
o gosto amargo
da rotina
Eu sei meu amigo
Cantar não tá pra peixe
E apesar desse boteco
Caçando um coração,
Um pouco de calor
Amigo,
amar não me compete
Isso eu reflito quando me apoio
na mesa do bar
Um cão expulso da matilha
Um luz azul saindo por trás da cabeça
Sangro sem sangrar
Um pé em Deus
Outro em Satã
E vou me fazendo de desentendido
Trago em mim a tal solidão como um souvenir
Trazido de um lugar
feio, frio e longe
Bebo mais um conhaque, um cigarro meio amassado no canto da boca
Os olhos são os de um alguém
que ficou amarelado,
desbotou-se,
uma leve lembrança do que
num longínquo dia
já foi um homem.

-Bruno Freire

Arte por Christian Schloe

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