Vim mais uma vez para falar
aquelas coisas
cravadas e retorcidas
no peito dos meus pés
Falo do verde dos teus olhos
e da dor que carregas em tua alma
O peso das minhas palavras
são para tentar trasmitir
um pouco do amargor da tua história
E pra dar fim a essa agonia minha
E pra consumar a paz dentro de mim
Somos dois bichos abandonados
Chutados e espancados pelos semblantes passageiros
Bendito é o sol que ainda aquece teu rosto
E o calor que regenera teu corpo
O gosto forte de velório no fundo da boca
um sabor agreste da presenca ceifadora
chega assim sorrateiro
E com garras longas aperta a minha garganta
Me arrasta pro fundo escuro
Me afoga até o último segundo de vida
e depois me traz à tona
e então repete todo o processo
Tua voz falha, mas tens que seguir cantando
Não te permitem parar
Minha menina de olhos lânguidos
Minha ave com as asas cortadas
Minha curuminha
Te digo que no fim
sempre terás a mim
Queria poder te ouvir dizer o mesmo
mas sei que de ti não posso
esperar garantia de nada
Estás perdida
Somos dois perdidos
Sem lar
sem pátria
sem ombro amigo
sem perdão para os (supostos) pecados
Me pego te procurando pela casa
ou por qualquer um que possa ajudar
Não encontro
Calado, volto para o ponto de partida
Agora como o Cristo
me entrego sem relutar
às águas escuras e profundas
ao vento revolto
às sarjetas de vielas sujas
à raspa dos derradeiros sentimentos
e dos segundos de atenção
que se mostram eventualmente
E ficarei te aguardando por lá
quando chegar o ponto final.
o fim definitivo.-Bruno Freire
Arte por Kim Kim
VOCÊ ESTÁ LENDO
Dentro da Noite Silenciosa
PoesíaPoesias que escrevo no ímpeto, sob uma necessidade vital.