Heaven - Connor

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Acordei mas estava tudo escuro, eu sentia frio e fome; tentei me mexer mas não consegui.
Eu podia ouvir vozes como um eco distante.

– Já se passaram doze horas. – Uma voz grave disse, eu não reconhecia aquela voz, a pessoa parecia bem seria. – Nós não sabemos como ele vai reagir daqui para frente, o que podemos fazer é continuar dando sangue e torcer para que tudo dê certo.

Outra voz respondeu mas eu não entendi o que ela dizia.
Eu não conseguia abrir os olhos para ver as pessoas que estavam conversando.
Voltei a ficar inconsciente depois de um tempo.

• • •

Quando minha consciência voltou novamente, eu pude escutar alguém chorando do meu lado. Dessa vez a voz estava mais próxima de mim, eu senti que quase poderia abrir os olhos se fizesse um pouco mais de esforço.
A pessoa do meu lado começou a falar.

– Eu voltei por você... – Troye dizia em meio ao choro. – Por favor, volte por mim...

Eu sentia meus olhos quase se abrindo, eu sabia que se me esforçasse mais, eu conseguiria abrir os olhos.
E eu quase consegui.
Voltei a perder a consciência, mas dessa vez foi diferente.

5 meses atrás.
Eu estava sentado do lado de Troye em uma sorveteria. Caspar, Tyler e Zoella – Uma amiga nossa que também fazia vídeos para o YouTube. – estavam conosco.
Eu não estava com vontade de tomar o resto do sorvete, então ofereci a Troye que mexeu o sorvete no copo até que o sorvete virou uma papa. Caspar olhou com nojo.

– Sabe, a versão líquida disso se chama suco. – Ele disse. – Geralmente é mais barato do que a versão congelada que era para você estar comendo.
– Deixa ele, Caspar. – Zoella disse e cutucou o braço de Caspar com o cotovelo. Ele fez uma careta para fingir dor.
– Eu só estou dizendo...

Eu não prestei atenção no resto da conversa. Eu estava observando Troye que ria do que os amigos estavam fazendo e observava tudo ao redor como se o mundo inteiro fosse uma novidade para ele.
Eu adorava aquela expressão no rosto dele, a expressão de quem estava sonhando acordado.
Agora era Tyler quem estava falando com Troye.

– Como se sente sendo o novo membro do time dos gays que já saíram do armário? – Ele disse rindo.
– Menos um membro para o meu time. – Caspar disse fazendo uma expressão triste.
– Qual é o seu time? – Eu perguntei.
– O dos gays que não saíram do armário. – Ele respondeu. – Eu sou secretamente apaixonado pelo Troye.

Todos na mesa riram.

– Então Troye... – Disse Zoella. – Como você se sente?

Troye deu de ombros e tomou mais uma colher da pasta que antes fora sorvete.

– Me sinto do mesmo jeito que me sentia antes. – Ele deu de ombros. – Com a diferença de que agora eles me shippam com meninos e dizem que eu namoro meus amigos.

Troye voltou a comer seu sorvete enquanto Tyler falava sobre sua experiência ao se assumir gay.
De repente, Troye olhou para mim e sorriu.
Por um breve momento, eu senti algo estranho em mim. Eu não sabia o que era. Era como se o sorriso de Troye fosse caloroso e aquecesse algo em mim. Aquela sensação era boa e estranha ao mesmo tempo.

– Mas eu pensei que os Judeus não permitiam essa coisa... – Tyler disse e olhou para Troye.
– Não sei se permitir é a palavra certa. – Ele disse. – Eles meio que tem uma aversão a isso mas a minha família aceitou quando eu contei para eles... acho que é isso que importa.
– Você acha que as pessoas vão te julgar e dizer que você não vai pro céu ou coisa do tipo? – Caspar falou franzindo o cenho e Zoella deu uma cotovelada mais forte nele.
– Caspar... – Ela cochichou.
– Não, tudo bem. – Troye respondeu sorrindo. Ele já tinha acabado de tomar o sorvete. – Eu acho que está tudo bem sobre isso... Eu não ligo para "ir pro céu". – Ele disse fazendo aspas com os dedos. – Se for para perder uma parte de mim, eu não quero ir para o céu.

Ir para o céu.

Eu pude sentir alguém segurando a minha mão dessa vez.
Eu definitivamente não queria partir se a condição fosse que eu deixasse Troye.
Dessa vez eu me esforcei mais. Pensei em todos os momentos em que passei ao lado de Troye desde que nos conhecemos; em todas as sensações que ele me fazia ter e todos os arrepios e sorrisos que aconteciam quando eu estava ao lado dele. Pensei em como eu descobri que amava a Troye e não a Kayla e em como ela chorou quando eu contei para ela. Em como eu tinha escondido tantas coisas de Troye, inclusive meus sentimentos por ele.
Mas agora eu tinha que voltar para ele.

Seu rosto apareceu em minha mente com mais clareza do que nunca e de repente, tudo estava escuro novamente.
Mas não era a mesma escuridão que eu tinha enfrentado antes. Eu estava em um quarto com as luzes apagadas.
Havia uma televisão na parede em frente à cama em que eu estava. Olhei para a esquerda e a mesa ao lado da cama estava cheia de flores e balões com cartões desejando melhoras.
Senti algo apertar minha mão novamente e olhei para o outro lado.
Era Troye.
Ele estava sentado em uma cadeira ao meu lado e mantinha a cabeça deitada na cama enquanto dormia. Ele parecia muito cansado, haviam bolsas em baixo de seus olhos mas sua expressão era serena. Eu não queria acordá-lo.
Tirei minha mão de baixo da mão dele com um pouco de dificuldade pois meus pulsos doíam. Pude ouvi-lo resmungar e sorri com o ato. Levei a mão ate o topo de sua cabeça e comecei a acariciar seus cachos com cuidado para que ele não acordasse.
E ali, decidi que faria as escolhas certas a partir daquele momento. Eu tentaria não esconder ou negar meus sentimentos por Troye com medo de que nos machucássemos.
Já tínhamos nos machucado o suficiente.

Don't Keep Love Around // TronnorOnde histórias criam vida. Descubra agora