Diário de Aluno#10 Inverno

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                          Inverno
              Parte 3 – Os sentimentos que foram

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                          Inverno

              Parte 3 – Os sentimentos que foram.

                      Meses depois

Embarquei numa aventura, buscar uma maneira de sair da minha ansiedade, e devo admitir que ela é complicada, pois nunca havia sentido antes, pois meu velho eu, nunca me pegou essa crise, pois era umas das vantagens quando era bem solitário e gostava disso, enquanto muitos reclamavam da espera e de resultados, eu me relaxava e apenas curtia o meu momento, mas dentre isso criou a solidão e o limbo de sonhos. Sair do limbo de sonhos foi fácil, apenas foi preciso dar um passo à frente como naquela vez com Amy, e decidi sair daquela gaiola, apenas aceitei e superei.
Também aceitei o suicídio de Jane, percebi que minhas pistas me levaram à uma seguinte conclusão, era verdade, mas uma coisa está mal esclarecida, qual foi o real motivo de seu suicídio? Se foi por sua vida solitária ou por algo mais específico. Queria poder entender para que na próxima vez consiga fazer diferente, pois creio que não prestei atenção nos detalhes de Jane, não só na sua euforia, mas como no seu sofrimento.
Mas agora me pergunto o que as pessoas iriam falar ou pensar se saberem que Jane se suicidou, acabaria com seu legado inspirador, pois mesmo morta tem inspirado muitos a fazerem o mesmo, e com esse fato arruinaria tudo, mas outra coisa que seria pior é contar à mãe dela sobre isso, se já foi doloroso pra mim ter que dizer que ela morreu após a aventura da Islândia, imagine com essa notícia. Então achei melhor ter esse fato guardado comigo, pois abalará todos.
Como disseram, com Jane tudo é mais complicado.

Amy ainda continua em seu grande sonho em estudar medicina em Oxford, e depois daquele dia que me deixou ansioso, nunca mais tive notícias dela, aparentemente ela apagou sua rede social, trocou de número sem ter mesmo me avisado, simplesmente ela desapareceu, e isso fez meu coração ficar mais mortificado ainda, pois ela é tudo pra mim e creio que se esqueceu disso, eu sou tímido mas estou tentando ser melhor para ela, porém isso não está valendo a pena, pois nossa bela amizade morreu e se dissipou como a névoa, deixou um buraco em mim e por causa disso fiquei mais triste ainda e frio como uma rocha pois não tinha alguém como ela ao meu lado, não tinha alguém para expressar meus sentimentos e meus desejos, meus desabafos. Tecnicamente guardei tudo o que há de pior dentro de mim — como queria que ela soubesse o quão mau estou —, não estive chorando, ou ainda mais gritando de raiva, apenas estava parado e estático como uma múmia, esperando alguma coisa acontecer.
Mas decidi então seguir em frente, deixá-la ir, aliás ela nunca voltará e se voltar não será a mesma garota que me amei. Também ainda mantenho algumas lembranças em mim de nossos melhores momentos, como nosso primeiro beijo.
Há um ano atrás, após o fim das aulas, estávamos indo até sua casa após uma noite muito boa no centro de Manhattan a fim de conhecer a cidade. Na época não conhecia muito o centro, só pelas fotos, mesmo morando aqui, nunca tive curiosidade ou atrativo, mas com minha mudança de astral, conheci ao lado dela numa pequena aventura e neste dia me apaixonei por ela e creio que Amy percebeu isso. Mas nossa aventura terminou quando retornamos para a casa dela em Rockway e a levei até sua porta.
No caminho, estivemos caminhando pela calçada e durante isso conversamos bem elétricos após toda nossa aventura depois de nossas idas e vindas até aqui, mas então conversamos sobre o passado, sobre nossa ida até Coney Island, Long Island e como eu era pessimista. Mas então afirmei que mudei para ela, pois amava e precisava retribuir, ficamos quietos por um instante até perceber que era o momento exato para o beijo. Parados em frente a porta da casa dela, eu dei o primeiro passo. Segurei seu belo rosto com delicadeza e o levei até o meu para estar próximo de seus lábios, nos beijamos lentamente, eu amei e então depois de segundos paramos, pois queria ver a reação dela, então me afastei um pouco para observar seus olhos, mas ficamos nos olhando por uns segundos até Amy retornar a me beijar, contudo, a intensidade aumentou e senti as mãos dela sobre minhas costas, mas infelizmente tive que abaixar minha cabeça devido à altura dela.
Amy parou de beijar-me pois temia que sua mãe surgisse e atrapalhasse tudo, então nos despedimos e ela seguiu meu caminho e segui o meu. Foi o melhor momento que me recordo, mas infelizmente quase não relembro esse momento, pois sinto a falta dela e saudade dói bastante.

Nova Iorque amanhecia fria e congelante, as ruas estavam cobertas de neve, as pessoas vestiam roupas de frio, casacos enormes até mesmo casacos de pele. Também nevava um pouco, e os flocos de neve sujavam meu cabelo enquanto andava pelo campus encoberto de neve. As folhas das árvores se foram, portanto todas as árvores estavam carecas assim como os arbustos. Vestia muitas roupas, uma por cima da outra, como meus casacos e algumas calças, e estava com um capuz escondendo meu cabelo, então andei até o prédio com as quadras para a aula de educação física, umas das aulas obrigatórias mais chatas que tenho pois quem comanda a aula é o professor Lois, um atleta olímpico fracassado, se sucumbiu as drogas e nunca mais participou de uma competição até conseguir passar nos testes de drogas, mas em seguida conseguiu sua profissão de volta, trabalhando na NYU dando aula para minha turma, e devo admitir, ele é um saco, sua pessoa é insuportável, temperamental, desiquilibrado e acima de tudo é um imbecil, pois como um ex-atleta, se vanglória com isto. Espero que ele não fique pegando no meu pé hoje, não estou bem psicologicamente, minha vida se tornou um tédio, e o inverno, frio, congelante, mórbido, melancólico e solitário representa isso bem.
O prédio onde ocorre as aulas de educação física é grande e largo, pois dentro dele há três quadras para diversas modalidades do esporte, e fica atrás dos prédios dos dormitórios e demora uns sete minutos para chegar lá.
Com pressa, deparo que a aula já iniciou, e devo imaginar que com o temperamento de Lois, quis logo começar, portanto fez sua clássica chamada para marcar a presença.
Ele costuma fazer uma fileira com os alunos lado a lado e assim chama cada um para a presença, portanto a pessoa chamada tem que dar um passo à frente assim que chamada. Como a aula havia começado, não deu tempo para trocar de roupa e pôr a roupa obrigatória, então me juntei aos outros alunos que já estavam com suas roupas atléticas. Fiquei um pouco inseguro com tudo isto, fiquei encolhido para me esconder, mas chegou um momento em que Lois me chamou para à presença e então fiquei congelado por um instante, mas rapidamente retornei à realidade e dei um passo à frente. Ele veio dar um sermão: 
— Rogers, onde está sua roupa atlética? — perguntou Lois com seu rosto carrancudo e irritado.
— Guardado em minha mochila, só estou esperando a chamada terminar para trocar de roupa — respondo meio inseguro e olhando para baixo.
— Rogers, você tem algum problema, todos os seus colegas vieram cedo, chegar adiantado é o dever de um aluno, e você... — argumentou Lois porém interrompo.
— O dever de um aluno é ter o compromisso em chegar no horário marcado — digo saindo da minha insegurança, pois estava com raiva.
— Não me interrompa quando estou falando, agora saia daqui! — exclamou Lois em um tom alto.
Rapidamente saí da sua frente para ir até os banheiros para trocar de roupa, e saí de lá bem estressado, pois como disse, hoje não estou bem em meu psicológico.

Após os sermões de Lois, vesti minhas roupas atléticas e estava pronto para as aulas, e retornei para a quadra de basquete onde ocorria a aula, todos os alunos estavam fazendo exercícios para o aquecimento, então me juntei e participei. O professor Lois era caucasiano, bem alto e tinha pernas bem definidas. O que chamava atenção era sua calvície, pois sua careca brilhava bastante.
A aula começou com alguns esportes que tinham relação com a dinâmica, Lois queria treinar a dinâmica de minha turma para começar a trabalhar com os outros tipos de modalidades e o esforço só aumentava, mas estava me saindo bem com as aulas práticas, pois os exercícios na Islândia com as corridas me deixaram mais forte e devo agradecer a Jane por isso.
E realmente esporte nunca foi meu tipo, sem querer, na hora de selecionar as aulas para concluir a grade de cursos obrigatórios deixei algumas modalidades de educação física marcada, quer dizer, esqueci de ver, mas acabei caindo numa turma para as aulas com práticas voltadas ao esporte, então sem escolhas tinha que seguir. Tentei mudar na direção as modalidades, mas as turmas estão cheias e além do mais, semestre que vem não vou precisar participar destas aulas, então tenho que aguentar longos seis meses para largar esse curso.
No final da aula, Lois iniciou uma competição para ver quem era o melhor da turma, e a competição era ver quem escalava mais rápido a corda de escalada até o teto.
Neste esporte havia uma corda bem grossa que estava pendurada no teto da quadra, portanto ela tinha o comprimento de 15 metrôs e a escalada séria complicada. Nas aulas anteriores, já estava praticando a escalada, mas era complicado e minhas mãos ficavam com calos. Com a turma tendo prática, começou a competição e Lois esteve cronometrando o tempo para ver quem era o melhor, então quem se sobressaiu foi uma garota bem forte e acabou jogando poeira contra todos os outros, e inclusive contra mim, mas devido a isso trouxe uma competição entre os alunos, uma briga. Mas foi quando que outro aluno também se sobressaiu e foi um garoto, porém ele era atleta e fez o professor ficar impressionado com seu desempenho.
Logo em seguida, chegou a minha vez contra outro aluno bom e queria provar para mim mesmo que era capaz e ser forte assim como Jane me ensinou. Fui para a corda de escalada e encontrei meu adversário, e ele era uma montanha, mas eu já escalei o Evereste então não é um problema.
Eu e o meu adversário ficamos um ao lado do outro em frente as nossas cordas e a encarava como se fosse meu inimigo, assim como meu adversário. Lois ficou próximo de nós e contou até cinco para começar a cronometragem.
Assim que ele disse um, segurei naquela corda com toda força e enrolei a minha perna esquerda para me agarrar. Comecei a escalar rapidamente enquanto segurava com as duas mãos na corda e me puxava para frente em movimentos rápidos. Eu e meu adversário estávamos juntos, empatados, ninguém tinha uma vantagem e enquanto isso me esforçava ao máximo enquanto escalava até o teto escuro da quadra e Lois segurava seu celular cronometrando o tempo. Minhas mãos estavam começando a doer e senti que não conseguiria, mas respirei fundo e me forcei ao máximo. Foi quando em meu esforço a dor da minha mão direita me incomodou e larguei a corda ficando pendurado com uma mão só, então todos pararam o que estavam fazendo para me ver. Eu quase caí mas me segurei e vi o teto ainda tão distante e meu adversário conseguindo avançar, então ouvi a voz de Lois me reprimindo, dizendo que eu não conseguiria, porém isso só aumentou a minha raiva e continuei mesmo com as minhas mãos doendo, por conta disso soltei a corda da minha perna esquerda que me segurava para não cair definitivamente, sem isso estava sob um baita perigo, e comecei a subi rapidamente.
Com a minha ação, me fez ganhar uma vantagem com a minha agilidade e então alcancei meu adversário e fiquei contente, mas me lembrei de Jane em seus últimos instantes de vida, antes de seu suicídio, quando descíamos aquele penhasco, e quando ela cortou sua própria corda e caiu no abismo, me vi como ela, mas ao invés disso estava subindo, e quando olhei para a corda à minha frente, tive um vislumbre dela em minha mente e então repeti seu ato.
Minhas mãos doíam bastante e com a dor escorrei e despenquei uns setes metrôs no chão, eu me lembrei de Jane em sua queda, ela caiu de costas enquanto me observava cair junto com ela no abismo para salvá-la. Vislumbrei Jane tentando me salvar de cair no chão, mas era tarde demais.
Eu caí no chão, mas não de costas, mas virado de lado e meu braço direito adormeceu a queda e senti uma forte dor, achei que tinha quebrado, mas por sorte não, me contorci no chão enquanto meu braço direito doía. Lois nem se incomodou com a minha queda e nem prestou socorro, apenas mandou seus alunos me ajudarem a me levar até a enfermaria.
Neste segundo queria chorar, de saudades de Jane e deu amor, pois queria salvá-la, mas como disse, tarde demais.

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