Capítulo 2

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     Através da janela, observava aquele forte azul que o céu continha. Aquele enorme grupo de estrelas. Aquilo provavelmente me deixaria mais calma. Era tarde, então logo peguei no sono.

     Ao amanhecer, acordei com meu pai sacudindo-me bruscamente. Tirava edredons e cobertas das quais me cobria.

     Em meu quarto, tudo é um pouco bagunçado. Alguns móveis de minha mãe estão aqui, pelo simples fato de não caber no dela. A cama de casal antiga de meus pais é onde atualmente durmo. E realmente, acho isso bom, pois posso rolar e me virar à vontade sem a preocupação de cair de cara sobre o chão.

     Ele me encarou, com uma expressão tão brava ao ponto de me assustar. Sem um pingo de paciência, me puxou a força da cama, mesmo sendo contra minha vontade. Ele já estava trocado e com sua mochila em mãos, pronto para trabalhar. Ele trabalha em uma empresa de cosméticos, e assim, não ganha o esperado. Por isso, precisamos trabalhar em dobro para nos manter. Fazemos o que é possível. Minha mãe vende pratos de doces e faz alguns artesanatos. Enquanto eu, ajudo quando tenho tempo livre.

     Após ser quase derrubada no chão, abri meus olhos ainda um pouco desnorteada, e tomei iniciativa indo tomar um banho. Entrei na antiga banheira, e deixei a água molhar meus cabelos negros e me aquecer. Era um sonho poder viver ali dentro para sempre. Após isso, vesti o uniforme escolar, um conjunto azul bem entediante. O pior é que a maioria dos colégios possuem uniformes dessa cor, por que não outra? Poderiam fazer um diferencial. Um vermelho? Talvez roxo. Ou então preto? Seria irado. 

     Após já estar trocada, segui para a cozinha, e lá encontrei mamãe. Com grandes olheiras, e expressão cansada. Estava preparando uma torta aparentemente deliciosa de maçã. Por exaustão e descuido, sem querer cortou seu dedo enquanto as fatiava. Preocupada, aproximei-me:

-Foi um pouco profundo, quer ajuda? -Perguntei, imaginando um "sim" como resposta.

-Não, estou bem. -Ela cerrou os dentes tentando sorrir. -Mas, por favor, pegue um curativo no banheiro para mim? -Ela pediu.

     Enquanto caminhava até o banheiro, olhei de relance para o relógio em meu pulso e notei que faltava exatamente quinze minutos para o portão do colégio ser aberto. Estou matriculada de tarde, e é minha primeira vez em uma escola particular. Não sei como lá funciona, mas de qualquer forma, é meu primeiro dia, não devo atrasar-me por nada.

     Minha mãe trocou-me de escola por motivos irreconciliáveis. Meu antigo colégio era extremamente abandonado, os professores não davam aulas, e os alunos eram agitados e diferentes. Eu odiava cada um deles. É um sentimento inexplicável. Por isso, espero encontrar alguém que eu possa considerar "menos chato".

Ao retornar à cozinha entreguei o curativo para ela:

-Obrigada! -Ela agradeceu e rapidamente retirou o lacre em que envolvia a caixinha de curativos. -Ah, cuidado para não se atrasar, e boa aula. -Ela disse.

Eu já estava atrasada, mas não quis tocar no assunto. Ela me puxaria a orelha.

     Ás pressas, despedi-me e saí. Ao caminho, começou a garoar, e com isso fui meio que obrigada a parar em uma lojinha qualquer para comprar uma sombrinha.

     Em seguida, a chuva apertou. E começou ser um desafio não pisar em poças de lamas, que estavam por todo canto. Depois de quase escorregar e fraturar meu nariz, finalmente cheguei. O portão estava aberto, havia apenas uma coordenadora ali. Era provável que todos os alunos já haviam entrado, menos eu, para variar.

     Ao chegar à calçada, a coordenadora me observou com cara de poucos amigos e liberou minha passagem. Quando entrei tive toda certeza, eu estava certa, ninguém estava por ali. Subi as escadas em que levavam para as classes, e procurei pela minha. Logo ao fim do corredor encontrei minha suposta classe, graças a um papel colado sobre a porta. Estou no primeiro ano do ensino médio, sinto que as matérias serão mais complicadas daqui em diante.

     Bati na porta, e brevemente a professora abriu. Todos começaram a me observar. E então, ela quebrou o gelo dizendo:

-Boa "noite", mocinha! Atrasada justo no primeiro dia?

-Olá, para você também. -Revidei, impaciente.

Risadas e cochichos foram ouvidos:

     Em seguida, mostrou-me onde seria meu lugar permanente e voltou a explicar a matéria sem que dissesse mais nada. Em minha frente estava uma garota ruiva bem alta, aparentemente lia um livro no qual não conseguia enxergar o título. Atrás um garoto de boné bem relaxado, estava jogado na cadeira como se estivesse em sua própria casa. Ao redor, três meninas. No qual, pude saber seus nomes quando a professora finalmente fez a chamada. Miya, uma oriental de cabelos bem escuros. Alice, uma loira de estatura baixa, e maquiagem forte. Carolina, que chamava atenção por seus cabelos volumosos e cheios de cachos. Aparentemente bastante extrovertida. E por último, Rebecca, a ruiva grandalhona em minha frente.

     No intervalo, descemos as escadas e fomos à cantina. A fila estava imensa, e justo quando chegou minha vez de comprar, todos os lanches haviam acabado. Irritada, caminhei pisando duro sem rumo definido. Enquanto passava por perto do banheiro, avistei uma única menina lá. Era Rebecca, tentando passar batom. Sua mão tremia tanto que ele acabou escorregando e pintando seu nariz. Ela não notou, e saiu do banheiro, esbarrando em mim, derrubando meu celular e minha carteira com dinheiro:

-Que ótimo! Olhe por onde anda garota! –Reclamei.

-De-de-desculpa. -Ela pediu gaguejando.

-Não quero desculpas, quero que você pegue... –Ordenei. Apontando para meu celular e carteira caídos sobre o chão.

     Ela pareceu surpresa. E então abaixou-se com dificuldades e os pegou. Entregou-me, e foi para outro canto da escola. Bateu o sinal e retornamos para as salas. Brevemente o professor começou a comentar sobre um trabalho de Filosofia. Mas como sou novata, fui até ele e pedi para que me explicasse. Com toda educação, respondeu-me, e sugeriu que eu entrasse para o grupo das meninas que sentam ao meu lado:

-Há algum problema em Julie fazer o trabalho com vocês? –Perguntou a elas, que ficaram pensativas por alguns segundos.

-Tudo bem, caso não me quiserem, faço sozinha. –Cruzei os braços.

-Claro que não. Faça conosco. E seja bem-vinda ao colégio! –Miya exalou simpatia.

-Verdade. -Carolina sorriu.

-Tive uma ideia! Poderíamos adiciona-la a aquele chat que criamos. -Alice sugeriu e ambas concordaram.

-Tem razão! Aí combinamos como será o trabalho e etc. - Miya completou.

     Enquanto conversávamos, Rebecca parecia estar bem atenta em nós. E nem sequer disfarçava. Aquilo nos deixava sem um pingo de privacidade. Continuamos conversando agora desta vez todas bem próximas evitando da garota nos ouvir, quando de repente, ela começou a dizer:

-Que "chat" é esse? E por que não estou nele? -Perguntou, curiosa nível extremo.

-Não está porque ele foi criado com o intuito de resolvermos um trabalho da semana passada, no qual você não estava! -Carolina respondeu, convincente.

     Um ponto para esta garota! Após a constrangedora situação, continuamos tratando sobre o trabalho, e Rebecca não deu nenhum palpite desta vez. Teríamos de terminar tudo para um mês. Decorar nossas falas e fazer a apresentação com cartaz em cartolina ou slide, então escolhemos o slide por ser mais formal.

     Mais tarde, ao caminho de casa, sozinha e com fones de ouvidos, avistei um trio de rapazes conversando na esquina, porém de primeira não dei tanta importância. Após certo tempo pude perceber que todos me encaravam e conversavam entre si. Ao notar muita desconfiança em seus olhares, dei meia volta e entrei em um corredor por qual nunca havia passado. Mas ao quase chegar em seu fim, outros três rapazes surgiram em minha frente. E ao olhar para trás, aqueles outros três estavam lá. Foi quando me caiu a fixa de que estava correndo um sério perigo.

Doce Menina MáOnde histórias criam vida. Descubra agora