Entreolhamo-nos e então saltamos sem pensar duas vezes para cima do telefone. Atendi e então reconheci a voz, era minha mãe:
-Alô, quem é? Havia umas sete ligações registradas apenas desse número. -Ela perguntou.
-Sou eu, Julie. Mãe, eu fui assaltada! Estou bem, porém perdi minhas coisas. Recebi ajuda de duas pessoas, e passarei a noite na casa delas. -Informei.
-Sabia que te deixar sozinha só traria problemas! Seguinte, você sabe ao certo o endereço daqui, não? -Questionou.
-Saber até sei, mas tenho dúvidas. –Respondi. Sincera.
Sua expressão de desaprovação era marcante. E provavelmente agora, ela estivesse assim. Ao dizer o endereço, anotei-o em um papel:
-Está certo, mãe. Amanhã estou de volta, não precisa preocupar-se. -Avisei.
-Olhe, aparências enganam. Peço que não confie 100% nestas pessoas. Nunca sabe-se de suas reais intenções. Cuidado, e boa noite. -Ela aconselhou, e então desligou antes de meu último suspiro.
A falta de importância me esgota. E os tratamentos de estilo "tanto faz" me fazem perder o sentido. Os dias correm, e sinto que sou um peso a mais no dia a dia das pessoas. Realmente... Esperava que fosse para casa ainda hoje:
-Era sua mãe não é? -A garota perguntou, com olhar preocupado.
-Sim. Amanhã terão a privacidade de volta, sem qualquer intrusa. –Esbravejei. Enquanto rodava em círculos pela sala.
-Ei, você não pode gritar assim! –Repreendeu-me. –E além do mais, não é uma intrusa. Pare de se rebaixar assim. –Completou. Ela parecia chateada.
-Você não me conhece. Não sabe pelo que passo! –Rebati. Ela cruzou seus braços e me encarou descaradamente.
-Realmente não te conheço. E nem você conhece a mim. É essa a primeira impressão que quer deixar? –Argumentou. Fiquei sem reação.
-Desculpe se meus traços não são compatíveis com os seus. Na verdade, com os de ninguém. –Respondi após alguns segundos refletindo.
A morena respirou fundo:
-Olhe, sei que não tivemos um começo muito legal, mas podemos reverter. Eu não quero o seu mal, ninguém aqui quer. Porém, se quiser uma convivência amigável, terá que pelo menos colaborar. –Encorajou.
Sem saber o que dizer, permaneci calada e com semblante triste:
-Está bem. Vamos recomeçar. Eu digo "Olá, como está?" e você responde como realmente se sente. Podemos? –Sugeriu. Paciente.
-Não é simples assim. Não posso simplesmente olhar para seu rosto e fingir não te conhecer. Você não pode me ajudar! –Interrompi.
-Certo. Estou subindo para meu quarto, caso mude de ideia... –Avisou. Suas mãos estavam tremendo.
-Meninas, poderiam conversar um pouco mais baixo, por favor? –Pediu sua mãe, que surgiu na sala.
-Claro, mãe. Desculpe. –Desculpou-se a menina. Em seguida, fuzilou-me pelo olhar.
-Ah, antes que eu esqueça, onde está seu uniforme sujo? Irei colocar agora na máquina de lavar. Amanhã quando for embora já estará limpo. -Ela direcionou a pergunta a mim.
-Deixei ao lado da pia do banheiro, no chão. –Respondi. Sem expressões.
-Tudo bem, obrigada. Já está ficando um pouco tarde, é bom descansarem para amanhã. –Pediu, e por fim saiu.
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Doce Menina Má
ChickLitAlegre e triste ao mesmo tempo? Tudo era apenas um teatro, uma máscara. Em meio de tantas respostas negativas, Julie tornou-se aquilo que ninguém se agradaria em ser. Será mesmo que Julie irá superar toda essa pressão e dar a volta por cima?