Capítulo 4

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      Entreolhamo-nos e então saltamos sem pensar duas vezes para cima do telefone. Atendi e então reconheci a voz, era minha mãe:

-Alô, quem é? Havia umas sete ligações registradas apenas desse número. -Ela perguntou.

-Sou eu, Julie. Mãe, eu fui assaltada! Estou bem, porém perdi minhas coisas. Recebi ajuda de duas pessoas, e passarei a noite na casa delas. -Informei.

-Sabia que te deixar sozinha só traria problemas! Seguinte, você sabe ao certo o endereço daqui, não? -Questionou.

-Saber até sei, mas tenho dúvidas. –Respondi. Sincera.

     Sua expressão de desaprovação era marcante. E provavelmente agora, ela estivesse assim. Ao dizer o endereço, anotei-o em um papel:

-Está certo, mãe. Amanhã estou de volta, não precisa preocupar-se. -Avisei.

-Olhe, aparências enganam. Peço que não confie 100% nestas pessoas. Nunca sabe-se de suas reais intenções. Cuidado, e boa noite. -Ela aconselhou, e então desligou antes de meu último suspiro.

     A falta de importância me esgota. E os tratamentos de estilo "tanto faz" me fazem perder o sentido. Os dias correm, e sinto que sou um peso a mais no dia a dia das pessoas. Realmente... Esperava que fosse para casa ainda hoje:

-Era sua mãe não é? -A garota perguntou, com olhar preocupado.

-Sim. Amanhã terão a privacidade de volta, sem qualquer intrusa. –Esbravejei. Enquanto rodava em círculos pela sala.

-Ei, você não pode gritar assim! –Repreendeu-me. –E além do mais, não é uma intrusa. Pare de se rebaixar assim. –Completou. Ela parecia chateada.

-Você não me conhece. Não sabe pelo que passo! –Rebati. Ela cruzou seus braços e me encarou descaradamente.

-Realmente não te conheço. E nem você conhece a mim. É essa a primeira impressão que quer deixar? –Argumentou. Fiquei sem reação.

-Desculpe se meus traços não são compatíveis com os seus. Na verdade, com os de ninguém. –Respondi após alguns segundos refletindo.

A morena respirou fundo:

-Olhe, sei que não tivemos um começo muito legal, mas podemos reverter. Eu não quero o seu mal, ninguém aqui quer. Porém, se quiser uma convivência amigável, terá que pelo menos colaborar. –Encorajou.

Sem saber o que dizer, permaneci calada e com semblante triste:

-Está bem. Vamos recomeçar. Eu digo "Olá, como está?" e você responde como realmente se sente. Podemos? –Sugeriu. Paciente.

-Não é simples assim. Não posso simplesmente olhar para seu rosto e fingir não te conhecer. Você não pode me ajudar! –Interrompi.

-Certo. Estou subindo para meu quarto, caso mude de ideia... –Avisou. Suas mãos estavam tremendo.

-Meninas, poderiam conversar um pouco mais baixo, por favor? –Pediu sua mãe, que surgiu na sala.

-Claro, mãe. Desculpe. –Desculpou-se a menina. Em seguida, fuzilou-me pelo olhar.

-Ah, antes que eu esqueça, onde está seu uniforme sujo? Irei colocar agora na máquina de lavar. Amanhã quando for embora já estará limpo. -Ela direcionou a pergunta a mim.

-Deixei ao lado da pia do banheiro, no chão. –Respondi. Sem expressões.

-Tudo bem, obrigada. Já está ficando um pouco tarde, é bom descansarem para amanhã. –Pediu, e por fim saiu.

Doce Menina MáOnde histórias criam vida. Descubra agora