Capítulo 6

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     De duas coisas havíamos certeza: O bendito caderno escrito coisas absurdas havia simplesmente evaporado; E, seríamos punidas por isso. Eufóricas, procuramos por ele em todo canto até Carolina o encontrar embaixo de sua carteira. As folhas estavam um pouco amassadas e sujas. Isso daria um ótimo roteiro de filme. "O sumiço do caderno":

-Tenho certeza de que o guardei dentro da mochila! -Carolina sussurrou, preocupada.

-Está insinuando que... Alguém tenha pego? -Miya perguntou.

-É a única justificativa! A não ser que um furacão tenha passado por aqui e o arrancado de minha mala. –Estressou-se Carolina, elevando o tom.

-Um "furacão" chamado Rebecca. –Conclui. Fazendo aspas com os dedos.

-Melhor não acusarmos alguém sem provas. -Alice retrucou, cruzando os braços.

-Melhor não sermos bobas e descobrirmos por conta própria! –Decidi. Justo quando iria sair para caçar Rebecca pela escola, a mesma entrou.

    Passou reto. Séria. Sem dizer nem "A", nem "B". Estava dura feita estátua, sem sequer olhar para os lados, apenas para frente, como um robô. Minutos passaram-se e ela permaneceu intacta. É apenas mais uma pista para chama-la de "Suspeita".

     Na última aula, de Educação física, a professora nos levou a quadra e pediu para fazermos alongamentos e exercícios. Mas, não estava nem um pouco tranquila para isso. Então como sempre, sentei na arquibancada e disse "Estou sem uniforme".

     Minha cabeça estava em pleno vendaval. Muitos problemas, muita tensão. Além da questão do caderno, também havia a situação do colar do meu pai cujo fora roubado. Como arranjaria um outro colar de ouro?

     Foi quando decidi desabafar com Carolina, talvez fosse uma boa conselheira. Expliquei em detalhes o que ocorreu e então ela refletiu um pouco e, sugeriu:

-Você deveria falar com o Henrique, ele é experiente nisso!

Henrique é um garoto de cabelos castanhos quase para pretos:

-O que ele têm haver com isso? –Perguntei, erguendo as sobrancelhas. Neste mesmo momento, o mesmo tirava a camisa do outro lado da quadra.

-Ele já me arranjou dinheiro quando precisei. –Cochichou ela em meu ouvido. –Você só precisa fazer o que ele pedir.

-Arranjou dinheiro? Ele é algum tipo de assaltante ou... –De repente, fui interrompida pela professora gritando anunciando o começo da aula. Carolina apenas sussurrou "Vá" antes de correr para o centro da quadra.

     Sozinha, refleti e cheguei a conclusão de que realmente era necessário tentar. O máximo que conseguiria seria um "Não", e isso com certeza não me afetaria. Ao tomar coragem, levantei e caminhei lentamente em sua direção:

-O que quer? –Sussurrou ele, enquanto eu ainda estava na metade do caminho. E, uau, ele têm ótimos sentidos.

-Precisamos conversar. Será que podemos fazer um acordo? –Perguntei. Quase gaguejando.

-Diga! –Pediu ele. Desta vez olhando para mim.

-Uma amiga sugeriu que você pudesse me ajudar em certa situação. Mas isso é um tanto irrelevante. Eu estou... Precisando urgentemente de um colar de ouro. É isso! –Cuspi as palavras depressa.

-Moleza! Cadê a grana? -Perguntou, olhando para meus bolsos.

-Grana? –Estranhei.

-Nada neste mundo é de graça, mocinha. –Deu risadas. –Eu tenho um em casa, antigo de minha... Mãe. –Pareceu entristecer-se ao dizer isto. –20,00. –Completou.

-Está bem... -Sussurrei pasma. Trago o dinheiro depois da aula. Nos encontramos por trás da escola, certo? -Sugeri.

     Mais tarde, ao já estar em casa, tentei despistar minha mãe e pegar o dinheiro em sua carteira. Ok, meio desonesto fazê-lo, mas ao contrário um interrogatório inteiro sobre com o que eu gastaria, me rodearia até ao fim do dia.

     Ao pegar, escondi as notas de dinheiro no bolso do agasalho, e coloquei as duas mãos em cada bolso para disfarçar o volume. Para ela, inventei a desculpa de que passaria na casa de uma amiga para pegar um livro. E por sorte, acreditou.

     Ás pressas, voltei ao colégio novamente. De longe já pude reconhecê-lo sentado ao chão, fumando um cigarro. Ao aproximar-me, joguei a nota em seu colo, chamando-o a atenção:

-Você é rebelde! –Murmurou, enquanto jogava fumaça ao ar.

-Eu sou ansiosa. Diferente. –Cruzei meus braços em desaprovação.

-Você é uma boa negociadora. –Riu malicioso. –Não me trouxe gorjeta? –Arregalou os olhos, pidão.

-Não tenho nem para mim. E quem dera. –Dei de ombros.

-Aceita? –Ofereceu um cigarro.

-Não. –Fiz uma careta. –Eu não fumo! –Completei.

Finalmente levantou-se. Metendo a mão em sua mochila, vasculhando:

-Aqui está! –Disse, apresentando-me o maldito colar. –Cuide bem dele, não me decepcione.

-Promete não ter roubado, né? –Logo uma expressão de desespero já entregara meu receio. –Estarei encrencada se tiver.

-Ei, a última coisa que "roubei" foi uma paçoca. Aos meus cinco anos de idade. –Respondeu, descontraído. Parecia estar sendo sincero.

Revirei os olhos:

-Bom, terminamos por aqui. –Afirmei, quase virando-me para partir.

-Antes precisarei de um favor seu. –Impediu.

     Antes que pudesse responder, tive uma crise de tosses com o cheiro das fumaças, fazendo-o rir. Era cruel:

-Tá de palhaçada? Eu já paguei pelo que me pediu! -Exclamei.

-Você verá! Acompanhe-me. -Ele disse, jogando o cigarro para longe desta vez.

     Assustada, acompanhei seus passos. Ele não disse nada durante a caminhada toda. Paramos em frente a uma casa. Mil perguntas sem respostas sussurravam em minha mente. Brevemente o garoto tirou uma lata de spray de sua mochila:

-Estou começando a me arrepender por ter lhe acompanhado.

    Ele pareceu não escutar. Apenas continuou a retirar o lacre da lata, arrancando agressivamente sua tampa. Em seguida, começou a pichar o muro da residência. Desenhou símbolos, e escreveu ofensas. Eu não compreendi o significado daquilo. E pior, não entendi o motivo por estar ali.

    Gritei para que parasse, implorei. Só poderia estar louco. Em menos de alguns segundos a parede inteira já estava em um tremendo carnaval. Exatamente naquele instante, uma viatura policial parou na ponta da esquina, descendo de lá um policial forte e alto. Foi quando, percebi que Henrique havia se lascado em todos os sentidos.

    Ao tentar avisá-lo, para que desse tempo de corrermos, o garoto por impulso jogou a lata de spray em minhas mãos e em uma tremenda velocidade saiu correndo. Foi quando percebi, EU estava lascada.

Doce Menina MáOnde histórias criam vida. Descubra agora