Capítulo 22

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      Lauren

      Momentos antes...

      Eu realmente não estava bem. Sentia uma pontinha de enjoo começar a me desconfortar. Talvez por causa das três fatias de pizza que havia comido ontem ás 11:00 da noite. Aquilo definitivamente não havia me caído bem, e agora estava apenas arcando com as consequências.

      Por este motivo eu deveria de preferência ficar próxima á um banheiro, e foi o que fiz. Após pedir permissão a diretora para ir, apressei meu passo até lá. Ao chegar avistei Rebecca debruçada sobre a pia, durante uma chamada ao celular.

     Rebecca não notou minha presença ali, aparentemente estava bastante concentrada ao que a pessoa dizia. Por este motivo, não pensei duas vezes em esconder-me atrás da porta. Ligeiramente, peguei meu celular e o desbloqueei, colocando imediatamente no gravador de voz, que em questão de segundos já estava capturando sua conversa. Talvez aquilo fosse útil mais tarde:

"-Muito obrigada. Tudo deu certo como planejado. Agora basta aproximar-se de Julie, ou outra delas."

"-O melhor é que a maioria me vê como inocente. Nunca desconfiariam de mim. Realmente são uns bobos!"

"-Em breve você terá seu pagamento em mãos. Ou quem sabe algo mais... Um beijo para o melhor ajudante que já pude ter."

      Aquilo não me cheirava algo bom, mas não poderia perder tempo para refletir sobre isso agora, eu deveria ir à diante. Após a garota desligar, me senti em total direito de enfrenta-la:

-Certamente você poderia ter este tipo de ligação em um lugar mais oculto, concorda? Como têm tanta certeza de que não há ninguém ouvindo-a? -Sussurrei em um tom sarcástico aproximando-me dela lentamente.

-Lauren?! -Rebecca deu um salto de susto.

-Acalme-se. Está desesperada assim com medo de que eu pudesse ter ouvido algo importante de sua conversa? -Continuei sussurrando, deixando-a sem escapatória.

-O que quer dizer com isso? Pare de brincar! -Rebecca tentou afastar-se, dando passinhos para trás.

-Ainda não, eu adoro brincar. -Deixei um sorriso incerto transparecer no canto de meus lábios. -Apenas quero dizer que talvez seja mais seguro você esconder a verdade. Principalmente pois depois de seu pequeno deslize tenho provas contra você, e posso fazê-las virem à tona.

-E que tipo de "provas" você têm? Será que se você simplesmente disser o que ouviu vão acreditar em você? -Rebecca tentou me intimidar, sem resultado.

-Escute você mesma! -Murmurei, enquanto reproduzia o áudio da menina durante a ligação. -E agora, vão acreditar em mim ou em você?

-Cobra... -Sussurrou Rebecca, cheia de ódio. A garota tomou impulso para frente tentando alcançar meu celular, mas fui ágil o bastante para desviar-me.

-Você têm duas opções, ou faça o que digo e todas saímos sã e salvas, ou aja por si mesma e seja descoberta por todos. E aí, têm em mente qual opção prefere? -Sugeri, ela refletiu durante longos segundos.

-Então diga logo, o que quer que eu faça? -Ela questionou. Neste momento senti a sensação de vitória me consumir.

-Simples. Basta ir à sala de aula e dar um jeito de recolher o pendrive sem ninguém ver. Depois entregar-me. O último passo é desmentir todas nossas confusões, entendido? -Expliquei. Ela apenas concordava com a cabeça.

-Ótimo. -Murmurei, dando um sorriso vitorioso á mesma.

      Rebecca engoliu seco. Apenas sua expressão já entregava seu medo. Ela sentia-se ameaçada, e agora eu a teria em minhas mãos. Primeiramente eu saí do banheiro, vendo se tudo estava livre para nossa passagem. Posteriormente a garota em seguida, indo em direção às escadas, para subirmos e irmos à nossa sala de aula recolher o pendrive.

      As classes deveriam estar em aula, pois tudo estava pacato e silencioso. O som de nossos passos eram os únicos a serem ouvidos. Ao chegarmos à frente da sala, vimos que a porta estava encostada. Cuidadosamente ela olhou pela fresta e a abriu. Tudo estava vazio... Tanto as carteiras como os alunos, ninguém e nada estava lá.

     Mesmo estranhando, não poderíamos perder uma oportunidade como esta, então sem pensar duas vezes Rebecca entrou, enquanto eu a fiquei esperando na porta. A garota demorou alguns instantes até encontrar o pendrive, que estava bem escondido entre o notebook e a mochila do professor. Enquanto isso, eu observava os corredores atentamente e checava se alguém estava vindo ou algo semelhante.

      Após ela já ter o pego, entregou-me para que eu pudesse dar um sumiço naquele conteúdo. Depois de nosso acordo ela provavelmente não contaria nada, não cogitaria ser um dos assuntos mais falados no colégio após que todos soubessem de seu áudio comprometedor. Aos poucos eu afastei-me, deixando-a sozinha refletindo sobre a situação. Ao quase passar pela porta lembrei de algo importante para lhe pedir:

-Para o seu próprio bem... Não mexa com a Julie!

      Julie

      Realmente não sabia escolher entre comemorar ou desconfiar. Tudo parecia falso demais. O que houve com Rebecca? Em segundos atrás estava nos expondo para todos da pior maneira, e agora simplesmente resolveu desmentir justo quando teríamos uma drástica punição. Será que ela finalmente decidiu deixar para lá? Fazendo assim com que cada um seguisse sua própria vida sem nenhuma interferência? Ou então tropeçou e bateu a cabeça em algum lugar enquanto vagava pelo colégio? Certamente, eu não duvidaria disso.

      Para o alívio de todas nós a reunião envolvendo a diretora e os responsáveis terminou após Rebecca desmentir a situação mais umas dez vezes. Ninguém encontrou o pendrive, não há ninguém que saiba do seu paradeiro. De certa forma isso nos ajudou bastante, e evitou os castigos que levaríamos. Pela primeira e única vez Rebecca foi útil para alguma coisa.

      Neste exato momento estou sentada no sofá da sala enquanto ouço músicas pelo fone de meu celular. De repente vozes alteradas chamam minha atenção, logo fazendo-me desconcentrar no que estava fazendo.

      Intrigada, levantei-me e retirei meu fone, deixando-o pendurado em minha camiseta. Os sussurros continuavam, vinham do quarto de meu pai. Vagarosamente, continuei caminhando em direção ao quarto, em ponta de pé. Ao chegar, vejo que a porta está encostada e aparentemente meus pais estão discutindo sobre algo.

      Há muito tempo atrás não via este tipo de coisa por aqui, e quando via, sobre algum ruim se tratava. Lentamente, encostei-me na porta, esperando poder escutar um pouco do que diziam:

-Teremos que reduzir os gastos, principalmente agora. -Meu pai sussurava, seu tom de voz era trêmulo e preocupante.

-Eu entendo! Mas precisamos deste dinheiro, temos Julie. Ela ainda é jovem, e depende de nós. Precisamos cuidar do futuro dela. -Minha mãe gaguejava, parecia estar chorando.

-Por enquanto teremos que nos virar com o pouco que ainda resta. Talvez até os próximos meses eu já esteja empregado novamente e tudo voltará ao normal.

-Próximos meses? Acha mesmo que irá sobrar até lá? Pense um pouco! Temos contas, dívidas. Precisamos comer, vestir. -Minha mãe relembrava, e ambos continuaram conversando.

Doce Menina MáOnde histórias criam vida. Descubra agora