Capítulo 21

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       Julie

       Continuação...

-O que minha filha aprontou desta vez? -A mãe de Carolina questionava, enquanto fazia gestos com as mãos. -Eu tive que sair do trabalho só para vir aqui... -Ela completou, enquanto a fuzilava pelo olhar.

-Ai, se for sobre notas baixas não será nenhuma novidade. -A avó de Beatriz dizia, enquanto bocejava.

-Miya está envolvida em alguma coisa? Eu não posso acreditar, minha filha sempre foi bem educada para isso. -O pai de Miya a defendia, e sua filha dava-lhe um leve sorriso.

         Os responsáveis haviam chegado, exceto de minha parte e de Lauren. A pequena "Reunião" já estava quase para iniciar, a diretora apenas aguardava a chegada de meus pais, enquanto todos os outros comentavam e tentavam adivinhar sobre qual situação havíamos nos metido. 

         A mãe de Lauren respondera que não conseguiria atravessar o trânsito a tempo, e que havia compromissos para comparecer e coisas para organizar. Aparentemente é uma mulher de negócios e de agenda lotada. Mas confirmou que mais tarde passaria no colégio para saber sobre o ocorrido.

         Minha mãe aparentemente não viria, estava atrasada até agora, e por isso era notável que os outros responsáveis já estavam ficando impacientes pela demora. Mas estou acostumada, pois não é novidade alguma. Quando pequena sempre fui aquela garotinha que era a última a ficar na porta da escola esperando por seus pais, enquanto todas as outras criancinhas já haviam saído. Aquela que sempre fora largada em todas as situações.

          A coordenadora no momento pediu licença e anunciou que buscaria o pendrive de Carolina na sala de aula, fazendo-me retornar à realidade. Faria isso apenas para poder provar. É aí que sinto uma pontinha de alívio ao recordar que talvez minha mãe não comparecesse. 

          Ao pensar nisso, escuto vozes familiares vindas dos corredores. Logo em seguida avisto minha mãe entrando na sala acompanhada de meu PAI. Neste momento sinto que meu castigo será três vezes maior. O que será que deu nela para trazê-lo junto? 

         Realmente não estava esperando, alguma parte de mim não queria acreditar. Só de imaginar as reações que ele poderia ter, os comentários, as formas de agir, tudo. A única vontade que tenho é a de correr para o mais longe possível. Logo ao pisar na sala, ele não teve educação alguma, não cumprimentou ninguém, nem menos acenou, apenas lançou-me um olhar irritado do tipo "Vamos ter uma conversinha depois".

          Minha mãe foi completamente o contrário, antes de qualquer coisa cumprimentou-os e até foi em direção à Lauren perguntar como estava. Confesso que fiquei um pouco sem graça de começo, mas percebi que a garota reagiu bem, respondeu com seu jeito simpático de sempre e não foi arrogante em momento algum. Vemos por aqui que ela não virou as costas para minha mãe mesmo estando chateada comigo... Talvez seja um bom sinal:

-Silêncio, por favor! -Pediu a diretora. -Ao ver que o volume do barulho estava cada vez aumentando. -Começarei a contar o que houve, peço a atenção de todos. -Ela continuou, e então surgiu o silêncio.

-Não quero nem saber sobre a gravidade desta situação. Nossa filha deveria saber que mais tarde arcaria com as consequências. -Meu pai se pronunciou, deixando-me ainda mais envergonhada e nervosa. 

-Você já está julgando-a sem saber da história? -O pai de Miya chocou-se, era como se aquilo fosse a maior injustiça que já pôde ver.

           Meu pai ameaçou levantar da cadeira, mas minha mãe o impediu, puxando-o. Certamente evitou que ele gerasse uma confusão ainda maior. Após aquela cena desagradável, sem perceber, meus olhos acabam indo em direção à Lauren, de novo. Não é a primeira vez que me distraio com isso, o que torna um tanto repetitivo e engraçado. Noto que ela observa meu pai de dois em dois segundos, sua expressão estava séria, esquisita. Suas pernas balançavam-se. Ela realmente parecia se sentir desconfortável.

-Com licença, posso ir ao banheiro? -Lauren perguntou.

          A diretora assentiu com a cabeça, dando-lhe a permissão. A garota levantou-se apressadamente e saiu. Eu queria pergunta-la o que estava havendo, o que a fez ficar assim, e se eu poderia ajuda-la de alguma maneira... A curiosidade estava chegando ao ponto de me consumir, mas então recordo que desde então não estamos nos falando, e que não devo me preocupar com isso. 

          Após alguns instantes, a diretora começou:

-O professor havia marcado uma apresentação sobre um tema de trabalho que seria apresentado hoje, e elas mostraram-nos um conteúdo totalmente abominável... Fotos vindas de seus respectivos celulares, com imagens de conversas incluindo discurso de ódio. No qual ofendiam uma colega de classe. É uma atitude imperdoável, que não poderíamos deixar passar em branco. 

-Isso é um absurdo, minha filha NUNCA chegou a esse nível. O máximo que pôde fazer foi cortar o cabelo de uma garota que sentava a sua frente em outro colégio. Até aí tudo bem, pior foi quando ela roubou o lanche de um garoto do 4º ano. -A mãe de Carolina relembrou, e sua filha já estava vermelha como um pimentão.

-Mãe... -Carolina tentou impedi-la. 

-Eu ainda acho que armaram para elas. Alguém que deve detesta-las. -Minha mãe pela primeira vez começou a dizer, neste momento fico feliz por não estar jogando a culpa para cima de mim.

-Elas parecem ter uma boa relação com os colegas de classe. -A diretora respondeu.

-Já posso ir embora? Minha coluna está doendo. -Reclamou a avó de Beatriz, após um gemido de dor.

        Todos entreolharam-se e um novo ciclo de cochichos começaram, entre risadas. Beatriz colocou a mão sobre a testa, desejando não ter visto aquilo. Vejo por aqui que não fui a única a passar vergonha hoje, isso de certa forma é algo bom. O assunto ia desandando e entrando em outros ares, até que a diretora pediu a atenção de todos novamente e voltou ao principal foco:

-Como punição todas terão de fazer trabalhos extras valendo nota. Tirar pelo menos 9,00 nas provas se não quiserem ficar de recuperação. E... -De repente ela foi interrompida pelo pai de Miya, que decidiu corta-la.

-Como? Não podem acusa-las assim. Posso jurar que as meninas nunca fariam algo do tipo. -Ele murmurou, indignado.

-Então você irá surpreender-se, pois temos provas. E elas estão no pendrive! -Completou a diretora, dando um ar misterioso ao ambiente.

-Leve-nos para ver. Só irei acreditar vendo com meus próprios olhos. -Murmurou ainda o pai de Miya, que insistia em defender sua filha a todo custo.

         De repente, a porta abriu-se rapidamente, fazendo um estrondo. Era a coordenadora, que surgiu um tanto desesperada sobre o batente da porta. Todos viraram-se para ela, inclusive eu e meus pais. Após alguns segundos em silêncio ela tomou coragem e disse:

-O pendrive desapareceu! Ele estava conectado ao notebook desde então, o professor afirma não ter mexido. 

-Desapareceu? Mas como? O professor saiu da classe durante este período? -A diretora questionou, confusa.

-Diz ele que havia levado os alunos à sala de informática, deixando o telão ligado junto ao notebook, onde o pendrive estava conectado. Fez isso pois os alunos não concentravam-se na aula e apenas comentavam sobre o ocorrido... -Respondeu a coordenadora, deixando todos surpresos.

-Ele não tinha o direito de deixa-lo exposto ali, era bem óbvio que alguém pegaria. Agora... Quem? -Perguntou-se a diretora. 

-Como teremos provas agora? -Questionou minha mãe, todos concordaram.

-Chamando a Rebecca. Vítima dos xingamentos. Ela confessará. -A coordenadora sugeriu, e então saiu da sala para buscar a garota.

         Aproximadamente cinco minutos depois Rebecca surgiu acompanhada pela coordenadora. A garota aparentava estar espantada, batia os pés em sequência e tinha o olhar angustiado. A diretora não perdeu tempo em começar com o interrogatório:

-Seja sincera... É verdade sobre elas te tratarem assim? 

-Não, quando eu disse isso na sala de aula estava apenas brincando. -Rebecca murmurou, sem fôlego. Todos estranharam sua mudança de comportamento. -Nós somos colegas, elas nunca trataram-me assim, e vice-versa. 

Doce Menina MáOnde histórias criam vida. Descubra agora