2 - Montros

307 42 19
                                    

"Você pensou em soluções práticas

Mas gostava da tensão"


Passei pela semana de provas da Academia muito bem, obrigada. A preocupação do meu pai não tem motivo, na verdade. Sabe, minhas notas são bastante altas – que eu saiba, apenas um aluno conseguiu manter notas melhores que as minhas, e isso faz, tipo, uns cem anos. Tenho certeza que eu conseguiria continuar sendo uma ótima aluna sem ter que estudar vinte e quatro horas por dia.

Os guardiões desaparecidos viravam um mistério cada vez maior. Já tinha uma equipe de guardiões em uma missão para tentar encontrá-los, mas pelos boatos que estavam correndo, não estavam tendo muito sucesso. Mas, pelo menos, não havia sumido mais nenhum no último mês.

Aparentemente, os guardiões sequestrados haviam mesmo sido mortos, já que nenhum sombrio entrou em contato nem nada. As esperanças de encontra-los vivos eram bem poucas. Mas será que os sombrios haviam desistido do plano, mesmo obtendo sucesso nas primeiras tentativas? Era bem estranho...

De fato, era estranho demais. Então, não foi uma grande surpresa para mim quando o Guilherme sentou do meu lado no intervalo e falou:

- Outro guardião desapareceu.

- Era bom demais para ser verdade que os sombrios simplesmente tivessem descartado esse plano.

- Sem dúvidas. O conselho está bem preocupado.

- Você sabe quem foi que sumiu dessa vez?

- Ouvi dizer que foi um tal de Roberto, Rogério...qualquer coisa assim. Acho que ele é auxiliar... Não. Secretário.

- Renato, talvez...? – Minha voz soou fraca até aos meus próprios ouvidos.

- É. Acho que é isso!

Senti minha cabeça girar. Eu devo ter ficado pálida, porque o Guilherme olhou para mim, com ar confuso e perguntou:

- Você está bem...?

Não, eu não estava nada bem. Como assim, o Renato desapareceu? Ele é um dos guardiões mais espertos que já conheci. Ele não pode simplesmente ter sido sequestrado por um sombrio. Isso é ridículo.

- Sim – foi o que respondi, disfarçando o tremor na minha voz.

O sinal bateu bem na hora em que o Guilherme começava a me lançar um olhar preocupado. Lancei lhe um olhar duro. De jeito nenhum eu ia deixa-lo suspeitar do desespero que eu estava sentindo.

Não que eu não gostasse do Guilherme. Nada disso. Ele é um dos caras mais legais que eu conheço na Academia, mas eu não costumo deixar ninguém saber o que eu estou sentindo de verdade. Eu fui criada para ser uma guerreira, não posso me dar ao luxo de ser sentimental.

Mas o fato é que eu mal pude pensar em outra coisa durante o resto da tarde. E fui a primeira a sair da sala quando o sinal da última aula tocou. Era como se eu não visse ninguém na minha frente. Passei direto para a sede do Conselho.

Normalmente ao entrar no gabinete do meu pai, a primeira coisa visível seria a mesa do Renato. E de fato a mesa estava lá, no mesmo lugar de sempre. Mas o Renato não estava atrás dela. Senti um aperto na garganta indescritível.

Marchei objetivamente até o gabinete do presidente. Meu pai ergueu a cabeça sobressaltado quando irrompi na sala.

- Então, é verdade? – Perguntei, sem rodeios.

- O que é verdade, Victória?

- É verdade que os sombrios sequestraram o Renato?

Ele não respondeu, apenas me encarou com um olhar significativo. Gemi, irritada.

Além das SombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora