21 - Brincando de Deus

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"É só minha humilde opinião

Mas é uma na qual eu acredito"


Isso aí. Hector. O líder dos sombrios em pessoa – ou em espírito, sei lá eu – bem ali. Ele nos encarava com uma expressão irônica. Ele parou de aplaudir, mas ficou com as mãos unidas na frente do corpo.

— Ora, ora. O que temos aqui? Uma guardiã. – Ele me olhava fixamente, parecendo fascinado. – E não uma guardiã qualquer, certo? Temos aqui a herdeira do Conselho.

Que droga! Eu estava tão ferrada. Senti minhas pernas fraquejarem por um instante, mas me obriguei a me manter concentrada – essa definitivamente não era a hora certa para perder o controle ou para fraqueza.

— Hector – a voz do Rafael soava mais fria do que eu jamais havia escutado, mesmo que eu não pudesse ver seu rosto por causa de sua posição –, o que você está fazendo aqui?

— A convenção acabou mais cedo e resolvi fazer uma surpresinha para o meu conselheiro favorito. — Claro que ele era o único conselheiro do Hector, então não era uma disputa muito acirrada. – Mas quem diria que seria eu o surpreendido?

Notei o Rafael se retesar, mas ele não respondeu. Em vez disso, o Hector continuou:

— Eu sabia que você conseguiria trazê-la. Nunca tive dúvidas.

Senti mesmo que parava de respirar. Que papo era esse de "trazê-la"? Ele estava falando de mim? Certo... As coisas começavam a se encaixar muito rápido na minha mente. Tudo fazia sentido só com aquela frase.

— Hector... – A voz do Rafael estava realmente estranha, mas eu não conseguia identificar o que era.

— Você me deixou imensamente satisfeito. Agora podemos prosseguir com as experiências.

— Experiências? — O Rafael ecoou. — Do que você está falando?

O Hector pareceu ficar entusiasmado. Aparentemente falar sobre isso o deixava animado. E eu não tinha um bom pressentimento.

— Ora, as experiências com os guardiões.

— Você estava usando guardiões formados nas suas experiências.

Minha cabeça rodava a mil quilômetros por hora. Como eu podia ter sido tão burra? E agora eu estava pagando pela minha idiotice. Meu Deus, eu estava frita!

— Mas você sabe que não estavam funcionando! — O Hector esclareceu, ficando histérico. – Eu pensei em tentar uma coisa diferente – de repente a voz dele ficou taciturna.

Vi o Rafael soltar o ar de uma forma tensa. Eu nunca quis tanto poder ver o rosto dele. Eu tinha certeza que estava deixando passar alguma informação importante.

— Não me diga que você está pensando em... – a voz do Rafael virou um sussurro.

O Hector abriu um sorriso de orelha a orelha de um jeito maníaco, e, juro, ele virou uma espécie de Coringa ou sei lá o quê. Ele era psicótico, com certeza. Ele respondeu, agitado:

— Sim! O que você acha da ideia? Nós podemos ter outro sombrio como você!

— O quê!? – Rafael e eu reagimos ao mesmo tempo.

Porque o lance era o seguinte: se eu estava entendendo corretamente, o Hector estava pensando em me transformar em uma sombria! Cara, por que ele não me matava e acabava com tudo de uma vez? Naquele momento nem me parecia uma má ideia.

— Isso! – O Hector desviou os olhos como se pensasse em voz alta. — Imagina só, um outro sombrio com os seus poderes, suas habilidades...É genial!

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