13 - Quando Chove

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"Apenas diga de novo e seja sincero"


Acabei dormindo por cima do meu livro de Sociologia à uma da madrugada, enquanto respondia um questionário para a aula. Então não era nenhuma surpresa que eu estivesse com o sono e mal-humorada. Principalmente depois de tudo que eu havia descoberto.

Porque a verdade era que eu havia ficado horas pesquisando sobre os Vitorelli e descoberto séculos de história. Eu havia levado um tempão para chegar à uma conclusão sobre o Rafael e... mesmo assim eu não conseguia acreditar. Naquele exato momento meu corpo estava na sala, mas minha mente estava vagando por toda a história dos guardiões, de 1685 até aqui.

Eu realmente, realmente não estava com saco para aguentar uma segunda rodada de escola. E a tempestade que caía lá fora parecia combinar com meu humor. Por isso que pela primeira vez nos últimos dez anos, eu pedi uma dispensa da Academia. Logo depois da primeira aula, fui até a diretoria e falei para a vice-diretora Ingrid que não estava me sentindo muito bem – e olha que nem era mentira. E eu devia mesmo estar com cara de doente, porque ela nem argumentou ao olhar para mim. Ela ligou para o meu pai e deve ter feito um draminha básico, já que meu pai a autorizou a me dispensar mais cedo – ele devia achar que eu estava morrendo.

Quarenta minutos depois, eu estava em casa, com a cabeça rodando com tanta informação. O que eu precisava era de menos dúvidas e mais esclarecimentos. E, pelo visto só havia um jeito de conseguir.

A biblioteca estava exatamente da mesma forma que eu havia deixado na noite anterior. Tranquei me lá novamente, enquanto preparava outra vez o ritual de convocação – eu sabia que ainda ia precisar daquele fio de cabelo.

Eu tinha de admitir, estava com raiva. Podia sentir o sangue ferver nas minhas veias quando li o feitiço. Novamente fiquei olhando para a porta da biblioteca, na expectativa. E novamente a voz que me sobressaltou veio das minhas costas.

— Achei que tivéssemos combinado de nos encontrar amanhã.

Virei e lá estava o Rafael com os braços cruzados, me fulminando, mal-humorado – e lindo. Mas eu também estava com raiva e pode apostar que eu estava bem pior que ele.

— Então você veio, Sr. Rafael Vitorelli.

A acusação ficou tão nítida na minha voz que surpreendeu até a mim. Eu esperava que ele reagisse, que negasse, mas a única coisa perceptível foram as sobrancelhas dele se franzirem e desaparecerem por trás das lentes dos óculos. Fiquei com ainda mais raiva da tranquilidade dele.

— Certo, então, esse é mesmo seu nome? – Ele não respondeu e eu respirei fundo para controlar a frustração. – É isso mesmo? Você não responde?

Ele ainda não havia se movido um milímetro, apenas murmurou, sem emoção:

— Tenho certeza que a essa altura você já sabe tudo.

Eu estava querendo uma discussão acalorada, onde eu pudesse descarregar toda a raiva que eu sentia, mas aquela passividade dele estava me deixando ainda mais irritada e cada vez mais frustrada.

— Será que eu sei tudo? – Eu não estava mais me importando em deixá-lo ver meu aborrecimento. – Tudo que eu sei está ali. – Apontei para os vários volumes de enciclopédias abertos sobre a mesa a dois metros de nós.

Ele não desviou a cabeça para olhar, apenas continuou me encarando. Provavelmente ele já conhecia cada palavra daqueles livros. Era insuportável não conseguir saber o que ele estava pensando. Sem nenhum aviso prévio, eu estiquei a mão e tirei os óculos escuros do rosto dele. Esperei que ele fosse se esquivar, mas ele não fez nenhum movimento de defesa, apenas piscou os olhos para se acostumar à luz.

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