26 - Respire

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"Respirar por amor amanhã

Porque não há nenhuma esperança para hoje"


Eu já podia pressentir a dor. Instintivamente, levantei os braços para proteger o rosto — como se adiantasse muita coisa. Mas tudo que senti foi surpresa quando o homem caiu de joelhos, gemendo de dor e tombou de lado. Ergui os olhos e vi o Rafael parado à minha frente, usando uma jaqueta de couro, coturnos, aqueles jeans rasgados e óculos escuros — ele parecia mais bad boy do que nunca. Aparentemente, ele havia acertado a parte de trás do joelho daquele sombrio e agora estava com a faca do cara.

O ar me escapou dos pulmões assim que o vi. Nos encaramos por um instante. O rosto dele não demonstrava nenhuma emoção, graças aos óculos não dava para ver seus olhos. Um segundo depois, ele ergueu uma sobrancelha de uma forma provocativa.

— Precisa de ajuda? — Ele perguntou.

— Eu devo me preocupar com esse punhal na sua mão?

Mesmo que eu não pudesse ver seus olhos, eu sabia que ele os havia revirado, enquanto dizia, aborrecido:

— Deixa de ser boba... — ele guardou o punhal no bolso interno da própria jaqueta e virou de costas para mim bem a tempo de ver outra garota vindo na nossa direção.

Essa garota devia ser um pouco mais velha que eu, mas, ao contrário de mim, ela era negra, com um corpo escultural e cabelos cacheados dignos de capa de revista. Ela não vinha correndo, como os outros, vinha andando graciosamente, praticamente flutuando.

Ela ia passar direto pelo Rafael, mas ele a segurou pelo braço. Ela o fitou, confusa e mandou:

— O que você está esperando? Vamos pegá-la antes que ela escape! — O Rafael meneou a cabeça. Vi o olhar dela passar de surpresa para compreensão e depois fúria. Ela começou a acusa-lo: — Então, é verdade o que andam dizendo? Você está fora?

— Sim.

Eles se encararam duramente por um minuto inteiro. Parecia que eles se conheciam bem. Tenho que admitir que senti um pouco de ciúmes. Então, entendi que provavelmente ela também tinha algum cargo de comando entre os sombrios.

Ela se desvencilhou do Rafael e veio direto para mim. Cara, ela se movia muito rápido. Mas não tão rápido quanto eu. Amparei o soco dela e lhe passei uma rasteira, a derrubando no chão. Acho que ela bateu a cabeça no chão, porque ficou inconsciente.

Até pensei em conferir a reação do Rafael, mas não tive tempo. Uns cinco ou seis sombrios vinham nos cercando. Agora que estava claro de qual lado o Rafael estava lutando, não estavam pegando leve com ele.

— E então, qual é o plano? — Ele perguntou, logo depois de derrubar seu terceiro adversário. Estávamos de costas um para o outro.

Sem fôlego, eu deixei meu segundo sombrio inconsciente.

— Que plano?

— Ora, para tirar todos daqui.

Não paravam de aparecer rivais para a gente. O Rafael e eu nos movíamos em sincronia; alguém poderia achar que tínhamos ensaiado.

— Eu pensei em fazer um ritual de exorcismo de purificação.

Ele se esquivou de um golpe de um sombrio moreno e lhe acertou um chute na lateral do corpo.

— É uma ótima ideia... — ele respondeu, ofegante. — O que você está esperando?

Por um instante, olhei ao redor e não havia nenhuma ameaça imediata. Todos os sombrios ali estavam inconscientes ou tentando se levantar. Me permiti parar um minuto. Apoiei as mãos nos joelhos, respirando, cansada.

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