7 - Renegada

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"Eu sou uma renegada, eu sempre fui"


Graças a minha viagem no final de semana, agora eu estava mesmo com um monte de lição de casa acumulada. Então, eu estava aproveitando uma aula vaga para terminar meu trabalho de geografia sobre a situação econômica dos países BRICS.

O Oliver chegou até onde eu estava, com uma barra de chocolate.

— Quer? – Ele ofereceu.

Fiquei tentada a aceitar, mas apenas lhe lancei um olhar enviesado. Ele sabia muito bem que eu estava de dieta.

— Não – respondi secamente. — Você sabe que não pode comer na biblioteca.

Ele revirou os olhos.

— Mas como não tem ninguém aqui para me impedir...

Olhei na direção da mesa da dona Maitê, a bibliotecária, do outro lado da sala, mas ela parecia muito concentrada lendo uma revista Minha Novela.

— Você viu a campanha para o grêmio estudantil? – Ele puxou uma cadeira e sentou ao meu lado.

— Nem quero ver.

— Sério, a Tamires está concorrendo como presidente de uma das chapas.

— E provavelmente vai ganhar.

— Claro. Todo mundo vai acabar votando na chapa dos populares.

— Com certeza. A chapa dos nerds não tem a menor chance.

— Mas você realmente precisa ver os panfletos que a Tamires e as amigas dela estão entregando no pátio. É hilário.

— Por quê?

Ele deu outra mordida no chocolate e respondeu, divertido:

— Prefiro deixa-la se surpreender...

E, acredite, eu me surpreendi ao passar por um cartaz no pátio, na saída. Embora não devesse. Me surpreender, quero dizer. Levando em conta o histórico da Tamires. Lá estava ela em uma foto com uma praia ao fundo, tomando água de coco de um canudinho. Felizmente a foto só ia até a altura dos ombros. Nem mesmo a Tamires poderia espalhar fotos de biquíni pela escola.

— Céus, quanta credibilidade! — O Oliver comentou, rindo — Eu simplesmente não consigo pensar em ninguém melhor para ser o representante de todos os alunos da escola.

— Com certeza é a pessoa mais indicada para exigir o interesse dos alunos.

— Você devia concorrer, sabia?

— De jeito nenhum! — Quase gritei, horrorizada — Obrigada, mas eu passo. Já tenho muito com o que me ocupar, com esse lance de ser guardiã e tudo mais.

— Já estaria ganha a eleição. As pessoas teriam medo de apanhar se não votassem em você.

Lancei lhe um olhar fulminante, o que o fez se afastar um passo de mim, comentando:

— Tá vendo? É disso que eu estou falando.

O lance é que eu sou... meio conhecida pelo meu temperamento explosivo e, convenhamos, meio agressivo. Quando eu era criança, minhas professoras costumavam culpar minha "falta de meiguice" à morte precoce da minha mãe. Sabe, esse papo de que eu não tive uma influência feminina.

E tudo bem que realmente meu pai me criou como um garoto. Maria moleque mesmo. Mas, se quer saber, depois que eu cresci — e aprendi a arrumar o cabelo e tal — nunca gostei desse negócio de ser menininha demais. E também não posso me dar esse luxo se pretendo ser líder do Conselho dos Sombrios — eu preciso impor respeito, saca?

Além das SombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora