10 - Não É Divertido?

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"Então, o que você vai fazer

Quando o mundo não girar ao seu redor?"

É, eu estava realmente precisando de uma distração nos últimos dias. Alguma coisa que me permitisse extravasar minha energia reprimida, já que as aulas de Luta dessa semana havia sido pura teoria sobre o kicking boxe. Então, quando a professora de Educação Física, a Ângela, apareceu com uma partida de futebol me pareceu muito conveniente.

Como já era de se esperar, apesar de eu ser muito boa aluna em Educação Física, a professora Ângela acha que eu tenho uma certa tendência à agressividade e nunca me escolhe para ser capitã de nenhuma equipe. Mas, em compensação, sou sempre uma das primeiras a ser escolhida. Para ser zagueira, claro. O que eu posso fazer? Sou a garota mais alta e assustadora da minha classe.

É ótimo terminar um dia de aula sendo comparada... sei lá... com o Thiago Silva. Apesar de estar jogando na defesa, eu já havia marcado dois gols de um placar de quatro a zero contra o time da Tamires e (surpresa) ela era a capitã do time dela. Ok, eu não acredito que ela seja escolhida como capitã porque joga extremamente bem. Nada disso. Acho que é mais pela liderança que ela exerce sobre as outras meninas – leia-se maria-vai-com-as-outras. A maioria das outras garotas a obedece cegamente – por isso estavam perdendo o jogo, aliás.

Mas aparentemente ela estava se achando o próximo Neymar ou qualquer coisa assim, porque ela veio em direção ao gol da minha equipe. Erro número um: ela não chuta muito bem. Erro número dois: ela teve diversas oportunidades de passar a bola para outras meninas mais bem posicionadas – e mais habilidosas, diga-se de passagem. Erro número três: dar de cara comigo e decidir me enfrentar. A Tamires tentou me driblar – certo, como se isso fosse minimamente possível –, eu roubei a bola dela sem a menor dificuldade. Ela percebeu que tinha sido "desarmada" e se jogou em cima de mim, caindo.

— Falta! – Ela gritou, desesperadamente.

— Oi? Falta!? – Falei, olhando-a ainda caída no chão – Pelo amor de Deus, você nem sabe o que é uma falta!

Ela levou a mão ao tornozelo. Na moral, ela deveria investir em aulas de interpretação, já que achava que levava tanto jeito para encenar.

— Claro que sei. E isso foi falta! – Ela gritou para mim.

Cara, ela não devia fazer isso. Gritar comigo, quero dizer. Eu já estava bem pilhada para ainda tentar conter minha raiva.

— Falta de noção, só se for, né?

— Você me machucou! – Ela continuava gritando, toda afetada.

A professora Ângela se aproximou correndo, empunhada com seu apito.

— Certo, meninas, vamos parar por aqui.

As outras garotas do time começaram a se amontoar à nossa volta.

— Mas, professora – a Tamires choramingou –, ela me machucou. Ela me machucou. Acho que meu pé está inchando.

— O quê!? – Guinchei, irada – Eu nem encostei em você, garota.

Ela se levantou, mancando e a Aline foi em seu auxílio imediatamente – como a súdita exemplar que ela é. Sem a menor cerimônia pela presença da professora, ela estendeu o dedo médio na minha direção. Trinquei os dentes, estava com tanta raiva que seria capaz de explodir. Ah, tinha sido falta sim. Falta de uma mão na cara dela.

— Realmente – murmurei – eu não tinha tocado em você, mas podemos resolver isso agora mesmo.

Eu avancei para cima dela, pronta para acertar um soco bem no seu nariz. Se eu fosse entra em uma briga, não ia ser para agir como uma garotinha e puxar cabelo, não. A professora Ângela se meteu entre nós duas e desviou meu golpe por pouco.

Além das SombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora