14 - Aqui Vamos Nós Novamente

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"E aqui vamos nós novamente

Com todas as coisas que nós dissemos e nenhum minuto gasto"

Meu pai me falou na quarta-feira que pretendia viajar para Porto Alegre para uma convenção com guardiões de todo o país no dia seguinte. E ia ficar por lá até domingo. Gostaria de saber se ele ia ter tempo de ficar me ligando de hora estando fora do estado.

Sério, eu acho que, no fundo, ele sabia que eu não pretendia ficar trancafiada dentro de cara sem supervisão durante todo o final de semana. Seria confiança demais ou inocência demais. E, afinal de contas, eu sabia que o castigo era muito mais por eu ter escapado de casa do que por causa da discussão com a Tamires.

E, com certeza, veio muito a calhar, já que eu havia gastado horas pensando em como faria para encontrar com o Rafael em um dia de semana. Agora eu já tinha uma oportunidade perfeita. O único problema era que nós não tínhamos combinado hora nem lugar. Talvez eu tivesse que convocá-lo depois da Academia.

Ou talvez não. Quando saí da escola, qual não foi minha surpresa ao vê-lo parado do outro lado da rua. Parei um instante só para admirá-lo. Ele usava jeans, camiseta, uma jaqueta bege, gorro e outro par de óculos escuros, já que eu sabia que o outro ele tinha esquecido na minha casa no dia anterior. Mas talvez eu tivesse demorado demais. E, quer saber, eu já estava disposta a dar um soco na cara da Tamires outra vez.

— Vicky – o Oliver, falou, acompanhando meu olhar –, aquele ali não é o seu sombrio?

— Sim – respondi.

— Acho melhor você se apressar.

O negócio era que a Tamires aparentemente também o havia visto. Pior do que isso. Ela estava indo direto na direção dele. Vi quando ela passou a mão no cabelo, jogando-o para um lado. Ela estava com uma daquelas pilhas de panfletos para a eleição do grêmio estudantil que ela ficava entregando para todo mundo pelos corredores da escola. Ela tirou um e estendeu para ele. Graças a algazarra dos alunos falando e rindo por toda parte, eu não conseguia escutar o que eles diziam, mas o vi recusar sutilmente o panfleto.

Me aproximei para tentar escutar. Ele não pareceu me notar. Claro que não. Por que ele iria prestar atenção em mim com a Tamires bem ali na sua frente?

— É um informativo da minha candidatura à presidência do grêmio estudantil.

Ela lhe dirigiu um sorriso tão doce que dava cárie só de olhar. Ele permaneceu impassível e respondeu:

— Me desculpe, não voto. Eu não estudo aqui.

— Não? Então, se você não estuda aqui, está perdido ou algo assim?

— Não – ele respondeu secamente.

— Eu posso te ajudar, se quiser – ela jogou o cabelo para o outro lado. Eu particularmente não achava que isso era sedutor. Por favor, me poupe.

Ele inclinou a cabeça de lado, parecendo intrigado. Eu nunca quis tanto acertar a cara daquela garota. Que ridículo! O Rafael não era minha propriedade – longe disso – e podia flertar com quem bem entendesse. Até mesmo com a garota mais chata da face da Terra. Para minha descrença, ele respondeu tranquilamente:

— Não, obrigado. Já estou esperando alguém.

Ele virou o rosto e estendeu a mão na minha direção com a palma virada para cima. Ah, então, estava sim notando que eu me aproximava. A Tamires virou para ver de quem ele estava falando e observei com satisfação seu queixo cair, tipo, até o chão. Ignorei solenemente a mão que ele me estendia, mas me postei ao seu lado quando os alcancei.

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