"Eu me pergunto, como deveria me sentir quando você não está aqui
Porque eu queimei todas as pontes que construí quando você estava aqui"
Acordei sobressaltada às quinze para as sete da manhã – depois de ficar desmaiada por umas três horas – com meu pai me sacudindo, alarmado.
— Victória! – Ele praticamente gritava, agachado ao lado do sofá. Quando o fitei, confusa, ele deu um suspiro, que acho que foi de alívio. – O que você está fazendo aqui na sala? – Ele deu uma olhada na minha roupa. Eu estava até de tênis ainda. – O que aconteceu?
E então eu lembrei de tudo que tinha acontecido na noite anterior. Tinha mesmo acontecido? Por um breve instante achei que tivesse sido tudo um sonho. Mas não. E o desespero voltou com toda a força, me atingindo como um soco. Me sentei ereta no sofá – descobrindo que ainda estava me sentindo exausta.
— Pai, eu sei! – Meu pai levantou-se e cruzou os braços, me olhando, reprovador. – Eu sei onde os guardiões que desapareceram estão – falei, exaltada.
Ele me olhou, condescendente.
— Você estava sonhando com eles, Victória? — Ele falou de uma forma tolerante, como se eu fosse uma criança confusa.
— O quê? Não! – Respondi, agitada. – Eu não sonhei. Realmente descobri onde eles estão.
Dessa vez, vi as sobrancelhas dele se franzirem entre desconfiado e preocupado. Talvez ele achasse que eu estava ficando louca – talvez já cogitasse a possibilidade de me mandar frequentar um terapeuta novamente. Eu não tinha muitas opções se queria que ele acreditasse em mim. Na verdade, eu não tinha saída. Eu precisava dizer a verdade – ou pelo menos parte dela. Ficando de pé, falei com seriedade:
— Eu estive na mansão do Hector.
Ele me encarou e, pela primeira vez, cogitou a ideia a ideia de acreditar em mim. Vi sua expressão ficar estupefata e em seguida enfurecia.
— Você o quê!?
— Eu estive na sede dos sombrios. — Achei que não tinha a necessidade de contar que eu estive em todas as propriedades dos sombrios. Antes que ele pudesse começar a pesquisar os hospícios mais próximos, continuei: — E os guardiões estavam todos lá, nas masmorras.
— Espera aí, você esteve mesmo na sede dos sombrios? – A expressão dele era de apenas ira. Mas pelo menos, agora ele estava acreditando. – Como assim!? O que você estava fazendo lá? Como você conseguiu sair lá!? – Daí ele começou a pensar em outra hipótese. – Eles te sequestraram?
— O quê!? Não!
— Então, você foi por livre e espontânea vontade? Você não conseguiria ser tão tola!
Agora eu também estava ficando com raiva e não me importava que ele soubesse. E eu também não me importava que ele me chamasse de idiota.
— Sim, eu fui por livre e espontânea vontade. Fui porque eu quis! Como eu entrei ou saí não vem ao caso agora. O importante nesse momento é que eu encontrei os guardiões! Todos eles. Estão todos vivos. Eu falei com o Renato... ele está...bem, ok, está um pouco acabado, mas está vivo!
Ele parecia que nem estava me escutando, não a última parte, pelo menos. Aquilo me deixou ainda mais louca da vida. Ainda mais. Aquilo foi a gota d'água. Agora eu realmente gritei a plenos pulmões.
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Além das Sombras
Roman pour AdolescentsTudo que Vicky queria era ser uma garota normal de dezesseis anos. Ter um monte de amigos, ir ao cinema de vez em quando, frequentar apenas uma escola por dia... Mas, não. Em vez disso ela tinha de fazer parte de um seleto grupo de pessoas que, não...