"Bem, qual é o problema?
Você tem muita coragem"
Acordei às oito da manhã na quinta-feira, feliz por saber que era feriado. Achei estranho a claridade do quarto. Normalmente, a cortina fechada deixava o cômodo bem mais escuro. Mas eu lembrava de ter fechado a janela e puxado as cortinas à noite.
Estreitei os olhos para a luz intensa e olhei na direção da janela do meu quarto. E meu coração quase saltou pela boca. Na verdade, as janelas do meu quarto, são duas portas de vidro, que dão para a sacada, onde meu pai instalou um banco quando achou que eu tinha idade suficiente para não cair dali — antes disso, meu pai deixava minha janela trancada a maior parte do tempo. Eu costumo me sentar ali com muita frequência só para ficar olhando o parque mais a frente.
Mas não era a paisagem que chamava minha atenção naquele momento, e sim a pessoa na minha sacada. O Rafael estava sentado confortavelmente, com os pés em cima do banco, olhando para o outro lado, concentrado.
Fechei os olhos para garantir que não estava ainda sonhando e os abri novamente. Mas a cena não mudou. Ele usava uma camisa de brim e uma calça jeans surrada, que deixava um joelho a mostra. Eu já tinha notado que ele usava sempre umas pulseiras de couro e o chapéu fedora. O vento batia nas pontas de cabelo que escapavam do chapéu.
— Mas o quê...!? – Foi tudo que eu consegui dizer, encarando-o com olhos arregalados. Aquilo só podia ser uma ilusão!
Ele gerou a cabeça na minha direção, parecendo um pouco sobressaltado.
— Que bom que você acordou finalmente — ele respondeu, displicente.
— Como... — puxei o cobertor até o queixo — como você entrou aqui?
— Pela janela — ele falava como se aquilo fosse óbvio.
Mas o negócio é que a minha coisa é protegida por camadas e mais camadas de feitiços, amuletos e tudo mais contra sombrios. Ela é, tipo assim, blindada. Totalmente à prova de sombrios.
— Ok... Mas como você conseguiu entrar aqui? — Eu ainda o encarava, incrédula. Eu tinha total noção de como meu cabelo devia estar. — Sabe, a casa do líder do Conselho tem uma barreira de proteção intransponível. E, coincidentemente, ele é meu pai. Tipo, não tem como você ter simplesmente entrado.
Mal terminei de falar e já me arrependi. Eu não devia ter dito que era filha do líder do Conselho. Eu não sabia se ele sabia que eu era a herdeira. Mas, aparentemente, ele sabia porque respondeu:
— Devo admitir que tive um pouco de trabalho, mas instransponível acho que é uma palavra forte demais.
— Não, não é. Isso devia ser impossível.
Ele deu de ombros, impassível.
— O que você veio fazer aqui, afinal?
— Bem... você disse que não podia fugir à noite. Então, achei que seria melhor sair durante o dia.
Aquilo só podia ser loucura. Ou talvez eu ainda estivesse dormindo e aquilo fosse um pesadelo, nada mais. Mas infelizmente era real. Bem real.
— Isso é absurdo!
— Lá vem você e o lance de não poder quebrar regras... Seu pai nem mesmo está em casa para te impedir.
— Como assim, meu pai não está em casa?
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Além das Sombras
Fiksi RemajaTudo que Vicky queria era ser uma garota normal de dezesseis anos. Ter um monte de amigos, ir ao cinema de vez em quando, frequentar apenas uma escola por dia... Mas, não. Em vez disso ela tinha de fazer parte de um seleto grupo de pessoas que, não...