6 - Para Uma Pessimista, Estou Bastante Otimista

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"Bem, qual é o problema?

Você tem muita coragem"


Acordei às oito da manhã na quinta-feira, feliz por saber que era feriado. Achei estranho a claridade do quarto. Normalmente, a cortina fechada deixava o cômodo bem mais escuro. Mas eu lembrava de ter fechado a janela e puxado as cortinas à noite.

Estreitei os olhos para a luz intensa e olhei na direção da janela do meu quarto. E meu coração quase saltou pela boca. Na verdade, as janelas do meu quarto, são duas portas de vidro, que dão para a sacada, onde meu pai instalou um banco quando achou que eu tinha idade suficiente para não cair dali — antes disso, meu pai deixava minha janela trancada a maior parte do tempo. Eu costumo me sentar ali com muita frequência só para ficar olhando o parque mais a frente.

Mas não era a paisagem que chamava minha atenção naquele momento, e sim a pessoa na minha sacada. O Rafael estava sentado confortavelmente, com os pés em cima do banco, olhando para o outro lado, concentrado.

Fechei os olhos para garantir que não estava ainda sonhando e os abri novamente. Mas a cena não mudou. Ele usava uma camisa de brim e uma calça jeans surrada, que deixava um joelho a mostra. Eu já tinha notado que ele usava sempre umas pulseiras de couro e o chapéu fedora. O vento batia nas pontas de cabelo que escapavam do chapéu.

— Mas o quê...!? – Foi tudo que eu consegui dizer, encarando-o com olhos arregalados. Aquilo só podia ser uma ilusão!

Ele gerou a cabeça na minha direção, parecendo um pouco sobressaltado.

— Que bom que você acordou finalmente — ele respondeu, displicente.

— Como... — puxei o cobertor até o queixo — como você entrou aqui?

— Pela janela — ele falava como se aquilo fosse óbvio.

Mas o negócio é que a minha coisa é protegida por camadas e mais camadas de feitiços, amuletos e tudo mais contra sombrios. Ela é, tipo assim, blindada. Totalmente à prova de sombrios.

— Ok... Mas como você conseguiu entrar aqui? — Eu ainda o encarava, incrédula. Eu tinha total noção de como meu cabelo devia estar. — Sabe, a casa do líder do Conselho tem uma barreira de proteção intransponível. E, coincidentemente, ele é meu pai. Tipo, não tem como você ter simplesmente entrado.

Mal terminei de falar e já me arrependi. Eu não devia ter dito que era filha do líder do Conselho. Eu não sabia se ele sabia que eu era a herdeira. Mas, aparentemente, ele sabia porque respondeu:

— Devo admitir que tive um pouco de trabalho, mas instransponível acho que é uma palavra forte demais.

— Não, não é. Isso devia ser impossível.

Ele deu de ombros, impassível.

— O que você veio fazer aqui, afinal?

— Bem... você disse que não podia fugir à noite. Então, achei que seria melhor sair durante o dia.

Aquilo só podia ser loucura. Ou talvez eu ainda estivesse dormindo e aquilo fosse um pesadelo, nada mais. Mas infelizmente era real. Bem real.

— Isso é absurdo!

— Lá vem você e o lance de não poder quebrar regras... Seu pai nem mesmo está em casa para te impedir.

— Como assim, meu pai não está em casa?

Além das SombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora