Capítulo 11

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Izzat saiu do bosque e foi direto para o abrigo, mas dessa vez, não entrou pelo Café La Palette. Através de um aplicativo instalado no celular, foi guiado até a praça Denfert Rochereau. Nessa praça, a oeste do monumento do Leão de Belfort havia uma grade que dava acesso à galeria subterrânea. Tal como essa entrada, existem dezenas de outras espalhadas pela cidade. Depois de mais de 20 minutos andando pelos túneis escuros e asquerosos, finalmente chegou ao abrigo, abriu a escotilha, entrou no recinto e deu de cara com Gabriel. Não mentiu quando disse que não queria vê-lo tão cedo, mas não viu escolha diante dos novos fatos.

— Que bom que chegou, Izzat. — Como sempre Gabriel se portava como um lord. Não só era um homem de boas maneiras, mas vestia-se como tal. Estava usando um terno cinza de lã fria sem o paletó, que fora estendido sobre o encosto da cadeira em que ele sentava. Ainda assim, o colete, com todos os botões fechados, sobre a camisa branca impecavelmente engomada, dava a ele um ar de Sherlock Holmes.

Izzat fechou os punhos tentando controlar a raiva. Não podia perder o controle e deixar que a ira piorasse ainda mais sua situação. Assim, mesmo com o olhar emanando desprezo, falou:

— O que faremos?

— A princípio é simples, você precisará ficar aqui algum tempo.

— Como?

— Não pode voltar para casa — Gabriel estava sentado no meio da sala, com a panturrilha direita cruzada sobre o joelho esquerdo e o aspecto tranquilo — Eles ainda não conseguiram um mandato contra você, mas já estão te procurando.

— Não seria mais fácil se você falasse a verdade para a polícia?

— Seria, mas já te expliquei a importância do sigilo. Isso está fora de questão. Vamos invadir o sistema da companhia de telefonia e mudar o seu cadastro. Colocaremos o seu antigo número sobre custódia de um novo proprietário. De qualquer forma, até fazermos isso, não pode correr o risco de ser pego.

— Mas o que havia nessa mensagem que poderia ser tão comprometedora assim.

Gabriel descruzou as pernas e tirou o celular do bolso.

— Está aqui. Consegui uma cópia. — esticou os braços na direção de Izzat com o aparelho na mão.

O rapaz leu a mensagem em silêncio: Se você tem amor a sua vida, não venha à reunião: está avisado. Izzat esfregou a mão no rosto e outra vez se arrependeu de ter ido. Desde o começo Youssef pressentiu que algo ruim poderia acontecer ali.

— Ele só estava me alertando. Não queria que eu voltasse a me envolver, só isso. Isso não era uma ameaça.

— Talvez não fosse, mas a polícia pode interpretar assim. Além disso, mesmo que essa hipótese seja descartada, saberão que você mantém contato como o grupo terrorista e estava disposto a se reincorporar — Gabriel se levantou e caminhou pela sala com a mão direita no bolso da calça. — Veja, Izzat, a polícia não costuma ser benevolente com reincidentes. Irão executá-lo sem hesitar.

Izzat não gostou da ideia, mas aceitou.

— Há mais uma coisa, Gabriel — fez uma pausa — fui designado para uma missão.

Os olhos de Gabriel brilharam. Encarou a Izzat lançando-lhe um sorrisinho de canto.

— Por que não disse antes? — falou sorrindo — do que se trata?

— Não sei ainda. Nourdin quer que o encontre amanhã para me passar mais detalhes. Não posso deixar de ir.

— Claro. Teremos que improvisar então. Mas ele não deu nem uma dica? Não falou em bombas? Atentados? Nada?

IZZATOnde histórias criam vida. Descubra agora