Capítulo 25

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Para Izzat, aquele bosque era muito mais do que uma reserva natural. Era uma espécie de santuário que fora capaz de mudar o significado da sua vida para sempre. Como todas as terças-feiras dos últimos meses, ele estava meio sentado sobre um conjunto de raízes que se erguiam entrelaçadas sobre o chão e subiam confundindo-se com o tronco de uma imponente árvore que ficava no alto de uma colina, na extremidade norte do parque. O cenário, cujo tom predominante era o verde, fora tomado pela cor cinza esbranquiçada que revestia as árvores desfolhadas. No entanto, alguns arbustos e pinheiros mais resistentes ao frio davam vida ao ambiente com seus galhos tomados por folhas viçosas e esverdeadas. Embora a árvore em questão ficasse a uma razoável distância, sua localização lhe proporcionava além da discrição almejada, uma visão excepcional do lago.

Ainda que tantas vezes Gabriel o advertisse sobre o risco de tal incursão, ele estava no bosque, a aguardado. Não obstante, essa seria a última vez. Fizera essa promessa a si mesmo. Então, como um viciado diante do último gole ou do último trago, respirava fundo e ansioso. Daqui para frente, suas memórias seriam a sua única fonte de força e motivação. Sabia que era necessário o rompimento, ainda que dor e sofrimento fossem suas consequências. Não poderia mais continuar alimentando sentimentos e mantendo esperanças. Não em relação a Melissa, que a cada semana, parecia mais distante e inalcançável.

Ele trajava um casaco preto com capuz, que para a ocasião, estava posto sobre a cabeça, e uma calça jeans. Depois de conferir o relógio, viu que ela estava atrasada para seu horário habitual. Fechou os olhos e se recostou ao tronco da árvore.

Após alguns minutos, voltou a olhar para o banco vazio. A ideia de que ela não viria parecia ganhar corpo. Talvez seja melhor assim! — ele se conformava. Quem sabe isso não seja um sinal para que eu a esqueça? Seu coração, outrora acelerado e ansioso, passou a bater dentro do peito em um ritmo desalentado. Ela não vem! Nunca se atrasou assim — Em um impulso, ele se desencostou, apoiando-se no tronco e na raiz. Com as mãos, alisou a calça jeans para retirar as folhas secas que grudaram nela. Depois de se limpar, se virou para ir em direção à trilha que o levaria para fora do bosque quando, deparando-se com o inesperado, viu Melissa à distância de um abraço.

— Melissa! — ela vestia-se com um sobretudo claro e seus cabelos sacolejavam alvoroçados pelo vento frio.

— Desculpe, hoje eu me atrasei! — ela sorriu de uma forma estranha.

Izzat a fitou com o olhar abismado. Seu rosto estava tenso e ao mesmo tempo solene, emanando uma expressão que era de uma alegria confusa. Não emitiu nenhuma palavra. Apenas percebeu que as mãos dela estavam um pouco trêmulas.

— Já tem algum tempo que sei que me observa. — ela falou lentamente, como se não estivesse à vontade. Como se estivesse, por alguma razão, envergonhada.

— Então você sabia?! — a voz dele mais parecia um sussurro.

Melissa olhou para os lados com um ar desconfortável.

— Sim. Tem algumas semanas que notei.

— E só agora se incomodou?

Ela o encarou de sobressalto.

— Não! Eu não me incomodei! — Os olhos dela se abriram bruscamente, mas se fixaram nele apenas por uma fração de segundos. Mais rápido do que um suspiro, ela desviou a visão para o entorno. Para o nada. Era como se algo a perturbasse, ou então, como se não tivesse forças para encará-lo por muito tempo.

Ele se aproximou e sorriu. Era um sorriso contido, de certa forma, desesperançado. Vê-la ali, tão perto, era muito mais do que poderia desejar para aquele dia. Para a sua vida. Mas, embora a presença dela iluminasse seu coração, seu estômago encolhia só de pensar que aquilo não passava de uma despedida. Do fim de tudo o que já havia fantasiado para os dois em sua mente apaixonada. Ele se perguntava por que ela demostrava piedade. Ele não merecia. Não depois de tê-la feito sofrer na ópera. Se perguntou se deveria desculpar-se de tê-la tratado de forma tão fria no distrito policial. Percebeu que tudo o que desejava era apenas que ela não o odiasse. Que não o amaldiçoasse. Nada mais.

IZZATOnde histórias criam vida. Descubra agora