Gabriel parou o carro ao lado de um edifício em um bairro residencial. Assim que desceu do veículo, arrumou o cachecol sobre o pescoço para se proteger do vento frio. Ele subiu alguns degraus e entrou no prédio de apartamentos. Depois de percorrer dois lances de escadas, parou diante de uma porta, vigiada por um de seus agentes.
— Como foi a manhã?
— Muito bem. Ela não saiu do apartamento, acho que está terminando de fazer as malas.
Gabriel deu três batidas e aguardou. Instantes depois, Melissa surgiu.
— É você? — ela falou em um tom de desprezo.
Com o braço direito, ele terminou de abrir a porta e entrou sem ser convidado.
— Você embarcará hoje às 9h da noite em um voo direto. Ainda pela manhã estará com a sua família.
Melissa deu de ombros, inconformada.
— Eu não sei o que dirão quando souberem que fui deportada.
— Você não está sendo deportada. Você precisa voltar para a sua segurança. Você pode não acreditar mas isso é para seu bem. Izzat é um homem marcado. Sua aproximação com ele a deixa em perigo. Será que é tão difícil entender, Melissa?
— Como você quer que eu fique tranquila sabendo que o homem que eu amo está com a cabeça a prêmio. Então você acha mesmo que eu ficaria preocupada comigo, sabendo que ele está em perigo? Sabendo que ele está no meio de um fogo cruzado? Que a qualquer momento ele pode... — ela tampou o rosto com as mãos como se não aceitasse essa situação — Você não pode pedir que ele se sacrifique dessa maneira. Não pode pedir que ele se arrisque assim. Eu temo que o pior aconteça. Eu temo que...
— Que ele morra?
— Sim. Que ele morra.
— Izzat é a maior chance que temos de vencer essa guerra. Ele já salvou e ainda poderá salvar muitas vidas. Eu sei. É mesmo muito arriscado, mas temos boas chances de tudo acabar logo. Melissa, sei que a sua fé prega o sacrifício pelo próximo. Sei que o amor ao próximo e a Deus são os principais valores ensinados, portanto, chegou a hora de praticá-lo. Como diz no livro sagrado, o amor é sofredor, é benevolente. Izzat pratica essas virtudes há muito tempo. Talvez agora seja a sua vez.
Ela o encarou por alguns instantes e em seguida, sentou-se no sofá.
— Prometa-me que cuidará dele por mim! Prometa-me que fará tudo para mantê-lo em segurança. Prometa-me que ele ficará bem.
Gabriel sentou-se diante dela e falou com a voz sincera.
— Melissa, nos últimos meses Izzat se tornou um grande amigo para mim. Ainda que discordemos em muitas coisas, eu posso dizer que o estimo muito. Mas, a única coisa que posso prometer é que seria capaz de morrer em seu lugar. Fora isso, não posso garantir mais nada.
O semblante dela se transformou nesse instante. Toda a aversão que sentia por Gabriel fora deixada de lado. Ela lançou-lhe um olhar compreensivo, como se soubesse que ele também vivia em constante perigo.
— Está bem — ela se levantou — eu já fiz as malas.
O momento de diálogo, de súbito fora interrompido por uma discussão vinda do corredor do prédio.
— Eu exijo entrar! — Melissa reconheceu a voz de Tom cheia de cólera — Saia da frente, seu miserável! — Mal dava para ouvir a voz do agente que guardava a porta.
— É o Tom! — Melissa disse a Gabriel enquanto ia até a porta — Preciso falar com ele.
— Não! — Gabriel a impediu de abrir a porta. — Os dois ainda escutavam os berros de Tom, enquanto Gabriel falava: — Melissa, não seria prudente. Ele não pode saber o que está acontecendo. Ele não deve saber que você vai voltar pros EUA. Para sua segurança, ninguém pode saber.
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IZZAT
AcciónDurante uma onda de ataques terroristas que assolavam a Europa, Paris tornou-se uma cidade desolada. A polícia dominava as ruas e o menor movimento incomum era rapidamente monitorado. Invasão de casas, prisão de suspeitos e violência contra civis er...